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(Crítica - Fevereiro /
2004)
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Dica da semana:
(Período de 01.02.2004
à 07.02.2004)
Dogville, de Lars Von Trier, Dinamarca, 2003 - O filme que abalou a estrutura do Festival de Cannes em 2003 e que, apesar de não ter recebido qualquer premiação, foi o mais discutido nos últimos sete meses no mundo do cinema.
A história de Grace (Nicole Kidman) que, fugindo de gangsters, refugia-se na pequena Dogville, cidade do interior dos Estados Unidos, com pouco mais de quinze habitantes e é a partir deste encontro que o filme se desenvolve.
Tom (Paul Bettany), jovem com ares de filósofo, consegue que a fugitiva seja acolhida em troca de pequenos favores que pudesse fazer para os habitantes da cidade e Grace passa a participar ativamente da vida dos habitantes. Do cego que relutava em aceitar a cegueira, da dona de casa ilustrada que tinha que viver em função dos filhos, ela vai ocupando espaço no ambiente equilibrado da cidadezinha.
O tempo vai gradando a situação de Grace, a polícia, o FBI passam a procurá-la e a cidade, de forma silente, começa a demandar mais e mais “favores” para que valesse a pena o risco de confronto com a lei e os criminosos.
Von Trier marca seu cenário no chão de um grande galpão, não há paredes, não há portas apenas marcações indicativas. A estética é inovadora e incômoda, mas com pouco mais de trinta minutos já nos acostumamos aos personagens entrarem pegando em maçanetas inexistentes e respeitando as marcas.
As possibilidades da alma humana são exploradas por Von Trier que não poupa ninguém, nem crianças, nem a personagem com paralisia são livradas das tentações de abuso quando têm o poder nas mãos e tudo se completa na sequência final em que todas as opções dadas à protagonista são incômodas e difíceis de digerir.
O elenco está excepcional, Kidman é mais uma grande intérprete das personagens femininas de Von Trier (como Emily Watson em “Ondas do Destino” e Bjork em “Dançando no Escuro”), Bettany, o médico naturalista de “Mestre dos Mares”, constrói o seu Tom com uma delicadeza de criar simpatia e ódio, além dos sempre ótimos Ben Gazzara, Patricia Clarkson, Stellan Skarsgard, Lauren Bacall e maravilhosa narração de John Hurt.
Uma obra prima que questiona a alma humana, especialmente a alma da América, e que fazem seus 177 minutos passar sem que percebamos tal a intensidade e da capacidade de que sejamos envolvidos por sua trama.
Cotação: *****
Lourival Sobral
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