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- Coluna de Cinema -
2004

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Dicas da semana:
(Período de 17.10.2004 à 23.10.2004)

Fahrenheit 9/11 (EUA, 2004, 122 minutos) - Que venham os bárbaros! Há um mês o Brasil aplaude o último lançamento de Michael Moore. Seu filme foi tido como imprescindível, magnífico e inteligente. Público e crítica foram convertidos, e de cineasta Moore transformou-se em herói. Passada a euforia do lançamento, veio o silêncio. Ou melhor, os brasileiros já torciam para o candidato democrata John Kerry.

            Muito cuidado ao eleger Moore como um cineasta político. Ele o é tanto quanto um showman. Muito cuidado, a ética que ele almeja ao seu país é a mesma que ele infringe ao abusar da manipulação. Muito cuidado, pois os norte-americanos são hábeis na inversão de valores. Bush, Kerry ou Moore se esquecem que foi o país deles o inventor do terror(ismo). Este tem data: Nagasaki e Hiroshima, 1944.

            Entretanto a bomba atômica entrou para a história como a bomba da paz. E essa inversão não seria política? Não seria ideológica? O sentido político de Fahrenheit 9/11. Está desprovido de qualquer utopia e apenas intenciona apimentar a querela entre Bush e Kerry. Há um único incômodo: deve-se arrumar a casa. Deve-se ajeitar o país. Moore não passa de um norte-americano típico, indiferente ao futuro dos seus vizinhos.

            Não há dúvida que os EUA representam o que Roma fôra para a história antiga – um império. Tampouco duvida-se que a queda do World Trade Center tenha desencadeado uma guerra de escala mundial. Ela é análoga às invasões bárbaras que derrubaram Roma e Constantinopla. Da primeira vez, uma tragédia. Da segunda, farsa. Nosso século inaugura a história na sua era da virtualidade, onde o representar é mais importante que o realizar.

            O melhor desse documentário está em desnudar tal momento. A manipulação da mídia norte-americana, os argumentos ideológicos, as propagandas, o modo como Bush articula, o afloramento do espírito belicoso dos cidadãos do império. O mote contra o terrorismo ganha tamanha autonomia que remete à retórica do anti-semitismo. Medonho. Todos sedentos por vingança. Todos irracionais, tão bárbaros quanto aqueles que os atacaram.

            A guerra no formato virtual apenas aguça tal monstruosidade. Os terroristas sabem usar a mídia, prescindem dela. Não basta exercer o terror, é preciso mostrá-lo (ao vivo, de preferência). E a mídia triplica seu poderio a cada ataque terrorista. A guerra do Iraque, além de imagens oficiais, disseminou uma miríade de cenas violentas captadas por webcams e dvcams. As imagens, portanto, transformaram-se em moedas na era da guerra virtual.    

            O personalismo exacerbado de Moore é o arremedo do seu argumento: ele personaliza a culpa da desgraça norte-americana na figura de George W. Bush. A paranóia da prevenção, que ele tanto critica, é a acusação que ele mesmo lança ao atual imperador. Este falhou, poderia evitar o 9/11. Ao realizar tal movimento, o filme perde boa parte do teor político que o sustenta. Tudo recai nos ombros de um único sujeito.

Portal Brasil   
Texto adaptado da crítica de Pablo Gonçalo   


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