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16 / Fevereiro / 2005
Insurreição
Social
Por Antonio Carlos
Evangelista Ribeiro
Colunista-Titular do Portal Brasil
No artigo da
semana passada “Cada vez mais se Concentra a Renda no Brasil” expus meu
posicionamento sobre a concentração de renda, o processo de acumulação de riqueza, contínuo e crescente, nas mãos
de um número cada vez menor de indivíduos, e os efeitos nocivos à sociedade.
Na semana anterior no artigo “Administração Pública” procurou-se mostrar
o reflexo da ineficácia e ineficiência dos gestores públicos no desempenho de
suas funções, como agente de concentração de renda.
Parte da causa da ineficiência dos gestores públicos se atribui à política.
O interessante é que, por definição, política é a arte ou ciência de
governar; é a arte da organização, direção e administração de nações ou
Estados - Dicionário
da língua
portuguesa Houaiss.
O mesmo dicionário traz uma derivação de sentido figurado: astúcia,
maquiavelismo no processo de obtenção de alguma coisa, que a nosso ver, esta
mais próxima de exprimir com exatidão a política brasileira.
Agora, vamos juntar os dois problemas: a concentração de renda, a omissão e
inoperância do poder público. São dois grandes problemas, de conhecimento dos
três poderes da República: o executivo, o legislativo e o judiciário. Por que
será que não são tomadas atitudes efetivas para combater esses problemas, se
esses fatores contribuem para a insurreição social?
Afinal. Os poderes são independentes e qualquer de seus integrantes,
principalmente o legislativo e o judiciário, podem se pronunciar e propor
medidas que atenuem a situação e possam, em longo prazo, corrigir o problema.
Da parte do executivo observa-se que a retórica não está conseguindo manter a
estabilidade social. A cada dia, no noticiário, temos conhecimento de atos e
fatos de insurreição social, que podem se generalizar e tomarem-se muito
perigosos à estabilidade social.
Tenho a impressão que ninguém se entende. O Executivo discursa, promete e,
descumpre sua retórica. Observe as promessas feitas em discursos presidenciais
e as ações tomadas pelos ministérios. Observam-se, claramente, conflitos e
choques de interesses, quando o interesse maior deveria ser o objetivo do
Governo.
Por outro lado, o Legislativo que deveria propor medidas e leis que tragam e
mantenham o equilíbrio social, já que representa a vontade do povo, está mais
preocupado com suas richas internas, e interesses pessoais de seus parlamentares
(aumento de salários, vantagens e benesses).
Se sobrar tempo, já que não trabalham tanto quanto os trabalhadores comuns vão
visitar as bases para “tomar conhecimentos dos problemas” e descansar,
porque, afinal, ninguém é de ferro.
Da mesma forma se posiciona o Judiciário. Processos se arrastam anos a fio, e
os interesses do povo são relevados a um plano subalterno quando se cogita
alguma ação que possa abalar ou atingir seus benefícios e privilégios.
Isso é um absurdo e uma afronta à inteligência humana, além de ser um
desrespeito a tão propalada cidadania.
Do outro lado, não se pode ignorar que a insatisfação social está aumento na
proporção da inoperância de um sistema de poderes de poderes atuante e que
privilegie, prioritariamente, os interesses do povo.
Os movimentos organizados estão ganhando força e se forem bem conduzidos por
seus líderes e representantes, ganharão, também, apoio da população. As
organizações que representam os interesses das “minorias” estão
estruturadas e atuam de forma enérgica para proteger o que julgam seus
direitos.
Há movimento dos “sem terra”, sem teto”, “indígena”, etc. Direta ou
indiretamente todos nós estamos sofrendo pelas sua manifestações: invasões
de prédios públicos, propriedades privadas, dilapidação do patrimônio público,
gastos excessivos com proteção policial a essas manifestações, etc. Isso,
sem falar na criminalidade crescente e organizada, que traz insegurança a todos
nós.
As instituições “legalmente reconhecidas” e perfeitamente inseridas no
sistema social como as empresas e associações de classe já não estão se
submetendo e cumprindo as decisões do Executivo. Os interesses corporativos se
sobrepõem aos interesses públicos.
Recentes decisões do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE e da
Secretaria do Direito Econômico - SDE não foram acatadas e as ações
praticadas por esses grupos econômicos, que levaram esses órgãos a puni-los
continuam sendo realizadas como antes.
Esses grupos praticaram ações que claramente afrontam o regime da livre
concorrência e direito do consumidor, mesmo tendo se comprometido, com esses órgãos,
a suspender essa prática. A irregularidade continua sendo praticada protegida
por uma contestação judicial que terá fim, quando for julgada em última instância.
Estamos a poucos passos da instabilidade social. Os poderes da República precisam se reestruturados, reformulados e orientados para mudar esse cenário. Temos que atuar para mudar a postura de nossos governantes se pretendermos manter uma sociedade democrática organizada.
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