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16 /
outubro / 2005
A QUALIDADE NO ENSINO
Por Antonio Carlos
Evangelista Ribeiro
Colunista-Titular do Portal Brasil
O segmento de ensino superior no País deverá movimentar, em 2005, aproximadamente
R$ 15 bilhões, considerando-se mensalidades, taxas de inscrição e manuais do
candidato. Essa previsão representa um crescimento de 5,6% nos valores movimentados
no ano de 2004.
Note bem que esses valores referem-se apenas ao ensino superior, não se
incluindo os valores relativos a pós-graduações, mestrados e doutorados. O
Ministério da Educação justifica os altos valores cobrados pelas
universidades públicas no País como resultado da redução dos financiamentos
nas instituições de ensino superior (IES) públicas.
Assim, a taxa
de vestibular que deveria custear apenas os gastos do processo seletivo passou a
ser utilizada também na manutenção das instituições. A cobrança da taxa
elevada tornou-se um mal necessário. Para se
ter uma idéia do volume arrecadado pela indústria do ensino, a previsão é de
que, somente com taxas de inscrição para vestibulares e manuais do candidato
será arrecadado R$ 150 milhões. As taxas de inscrição representam 83% desse
montante e a parcela referente ao manual do candidato, que é vendida
separadamente, o percentual de 17%.
Considerando-se, ainda, que o número de candidatos inscritos, que não
apresenta crescimento significativo desde 2003, deve permanecer em 4,9 milhões,
chegamos a uma taxa de inscrição média de R$ 28,00. Isto, porque muitas
instituições de ensino não cobram taxas de inscrição para o processo
seletivo. Esses dados foram extraídos de pesquisas realizadas pela Hoper
Educacional, empresa de consultoria e pesquisa do setor de educação.
Podemos, então, afirmar que o ensino superior é uma atividade econômica que gera receitas de R$ 15 bilhões ao ano, o que equivale aproximadamente a 1,63% do PIB de serviços, que acumulou no primeiro semestre R$ 462,45 bilhões. O PIB mostra o comportamento da economia. É a soma das riquezas produzidas por um país. É formado pela indústria, agropecuária e serviços. O PIB também pode ser analisado a partir do consumo. Nesse caso, o PIB é dividido pelo consumo das famílias, pelo consumo do governo, pelos investimentos feitos pelo governo e empresas privadas e pelas exportações. As importações também entram na conta do PIB. Quanto mais o Brasil importar bens e serviços, menor será o PIB. Se considerarmos, ainda, que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro somou R$ 918,6 bilhões no primeiro semestre, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, a parcela relativa ao segmento de serviços, representou aproximadamente 50% do PIB. São valores nada desprezíveis.
Entretanto, relativamente à qualidade de ensino, prestada a seus clientes, a participação das nossas instituições de ensino superior é próximo à nulidade. A qualidade de ensino em nossas faculdades e universidades está muito abaixo do que se poderia classificar como aceitável. Recente pesquisa realizada pelo ENADE - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, mostram uma evolução muito pequena de desempenho dos estudantes que estão entrando na faculdade e os que estão concluindo o curso na parte de formação geral.
O exame do ENADE, que substituiu o Provão, comprova que a universidade não
trouxe grande ampliação do conhecimento geral para esses alunos. As
universidades privadas concentram o maior número de cursos que receberam os
conceitos mais baixos. Curiosamente,
observa-se que as instituições privadas, lideram com ampla margem (70%) os
dois piores conceitos (1 e 2). As instituições federais lideram no conceito
mais alto, com 57%, enquanto as privadas têm, apenas, 18% de cursos com o
conceito mais alto. Dos 2.184 cursos avaliados,
apenas 1.427 receberam conceitos porque muitos ainda não tinham alunos concluindo
os cursos. Dos 1.427 que foram conceituados, 33 (2,6%) obtiveram o conceito 1, o
mais baixo, enquanto 150 (10,5%) receberam o conceito 5, o mais alto. A maioria
dos cursos (1.129) recebeu conceitos intermediários, 3 e 4, e 115 ficaram com o
conceito 2.
Esses dados precisam
ser analisados com seriedade pelo Ministério da Educação. Nos mostram que a
educação neste País transformou-se em uma grande e rentável indústria de
diplomas. O ensino superior democratizou-se com a oferta de inúmeros cursos e a
abertura de inúmeras instituições de ensino, o que deveria ser bom para o País.
Entretanto, a qualidade do conhecimento oferecido aos alunos e os métodos de
verificação de aprendizagem estão aquém do desejado, como comprova o exame
do ENADE.
Isso, somado
à deficiência do ensino público médio e fundamental produz um resultado preocupante
ao desenvolvimento do País. A cada ano formam-se milhares de alunos, que saem da
universidade despreparados para o mercado de trabalho. Os resultados dessa realidade
podem ser observados à nossa volta. Reitero
a necessidade de exigir uma melhora na qualidade da formação dos estudantes do
ensino básico (fundamental e médio) e, principalmente na qualificação dos universitários
(artigo publicado em abril/2004). É preciso
exigir qualidade de ensino.
MATÉRIA AUTORIZADA
EXPRESSAMENTE PELO SEU AUTOR
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