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A D E E C O N O M I A
16 / dezembro / 2005
ANEMIA ECONÔMICA
Por Marcos Cintra
Foi
um alvoroço quando o IBGE anunciou que a economia encolheu 1,2% no terceiro
trimestre em relação ao segundo. O anúncio fez a vice-diretora-gerente do
FMI, Anne Krueger, classificar o desempenho do PIB como decepcionante e o
presidente Lula afirmar que o resultado foi pior que o esperado. Como costuma
fazer, o presidente explicou simploriamente o fenômeno, apelando aos juros
elevados e à crise política. Membros da equipe econômica começaram a bater
cabeça a ponto de o presidente do Banco Central ir a público dizer que o IBGE
errou no cálculo. Em seguida, foi a vez de o presidente do BNDES
responsabilizar o BC pela retração, dizendo que houve excesso de zelo na condução
da política monetária. Até o presidente da Petrobras criticou o BC. Enfim, o
desempenho anêmico do PIB caiu como uma bomba no colo do governo.
A
queda do PIB no terceiro trimestre de 2005 fez o mercado prever para este ano
crescimento de 2,6%, e o Ipea, de 2,3%. Estimativas no final de 2004 apontavam
crescimento entre 3,5% e 4%. De qualquer forma, a mediocridade do desempenho da
economia brasileira, iniciada nos anos 80, continua. Com isso, vamos comendo
poeira ante os outros países emergentes, que crescem seguidamente a taxas na
casa dos 7% ao ano.
O
recuo do PIB fez voltar à tona as velhas e conhecidas críticas de que o
responsável por tudo são os juros elevados, o real valorizado e o aperto
fiscal. De fato, a atual política econômica esgotou-se. No entanto, é fato
também que, além da seqüência de políticas econômicas conservadoras e, por
vezes, inconsistentes, o governo peca terrivelmente quando descamba a praticar ações
assistencialistas, em vez de se voltar para medidas capazes de gerar renda e
emprego de forma permanente e duradoura. A política monetária do governo é
questionável, e isso produz, com a ausência das reformas estruturais e com os
gargalos na infra-estrutura, o crescimento ridículo que vamos ter neste ano.
Porém não há surpresa nisso, uma vez que há décadas isso se tornou uma
triste rotina de sobe-e-desce esquizofrênico de nosso PIB.
A
complexidade do quadro econômico brasileiro é de tal envergadura que propostas
simplistas e pontuais surgem como se fossem capazes de, abruptamente, colocar
nossa economia crescendo como os tigres asiáticos. Não resta dúvida de que os
juros precisam cair, o câmbio pode ser depreciado e as contas públicas devem
urgentemente ser redimensionadas. No entanto ações pontuais ou mesmo um novo
mix de política econômica podem levar a um crescimento de curto prazo, que em
seguida será contido por força de inevitáveis medidas compensatórias de alto
custo para o país.
É
nesse sentido que as recentes declarações da poderosa ministra Dilma Rousseff
podem ser desastrosas para o país e para a credibilidade que a política econômica
da dupla Palocci/Meirelles angariou para o Brasil. Contestando e desautorizando
os ministros da área econômica, o governo trabalha contra si mesmo e cai em
uma armadilha populista que poderá ter resultados desastrosos. Vale dizer que
as declarações da ministra, nas quais pediu redução no superávit primário
e estimulou o governo a pisar no acelerador dos gastos públicos, terão o
efeito de ampliar a dívida pública e, conseqüentemente, de desfazer toda a
construção de austeridade e estabilidade diligentemente construída pela atual
equipe econômica, ainda que com elevadíssimos custos sociais.
A
fraqueza da economia brasileira e sua absurda variação podem ser observadas a
partir de meados dos anos 90. Desde 1996, estamos crescendo abaixo do PIB
mundial e num frenético sobe-e-desce das taxas anuais. Enquanto de 1995 a 2005
o desvio padrão da trajetória do PIB mundial foi 0,8%, o nosso foi 1,6%.
Com
os números previstos para 2005, o PT vai registrar um crescimento médio do PIB
de 2,7%, parecido com os 2,3% do governo anterior. O desempenho instável nos três
anos petista foi pior. O desvio padrão do PIB de 1995 a 2002 foi 1,6%, enquanto
nos três anos de Lula foi 2,2%.
É
evidente que o Brasil precisa crescer mais rapidamente.
Nos
últimos anos, nossa política econômica tem se pautado por medidas que não são
capazes de levar ao crescimento econômico concomitantemente com equilíbrio na
inflação, na razão dívida/PIB e no balanço de pagamentos. Qualquer mexida
nos juros, no câmbio ou nos gastos públicos melhora um ou dois desses
indicadores, mas sempre piora o(s) restante(s).
Rever
o volume e a qualidade dos gastos públicos é a chave para fugir da atual
armadilha econômica. Não se deve praticar uma política fiscal expansionista
que privilegie o assistencialismo, como é a tendência deste governo. O Estado
precisa voltar a investir em infra-estrutura e criar condições para mais
investimento privado. Além disso, é preciso acelerar as inadiáveis reformas
que Lula não fez e rezar para que ele não caia na tentação de embarcar em
uma política econômica aventureira e populista a fim de tentar salvar seu
mandato.
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AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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