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A D E E C O N O M I A
01 / setembro / 2005
CORRUPÇÃO E GOVERNABILIDADE
Por Marcos Cintra
A corrupção nunca
ficou tão em evidência no Brasil como na atualidade. Há meses o tema domina o
noticiário nacional em função do enorme esquema montado para desviar dinheiro
público, e que foi patrocinado justamente pelo partido que se propunha a acabar
com as falcatruas na administração pública. O PT se mostrava como o único
partido honesto do país e hoje se vê atolado até o pescoço na lama que
produziu.
A corrupção é um fenômeno
negativo não apenas por em termos morais, mas também pelo custo que impõe à
economia. Recursos públicos que poderiam ser investidos em projetos sociais e
na expansão da infra-estrutura produtiva são, ilicitamente, apropriados por
uma minoria.
O Brasil ainda tem um
logo caminho a percorrer no sentido de contar com mecanismos eficientes de
combate à ações corruptas. Alguns indicadores apontam que a percepção de
corrupção no país nos coloca em posição bastante desconfortável frente à
comunidade internacional. Segundo a organização não-governamental
Transparency International o Brasil ocupa a 46ª posição em um ranking
contendo 91 países. Já o Banco Mundial revela que em uma pesquisa para apurar
o grau de controle da corrupção em 204 países nosso país fica em uma posição
intermediária entre o descontrole observado no Afeganistão e boa qualidade do
controle exercido na Inglaterra.
A chegada do PT ao
governo deu ao partido uma oportunidade histórica para quebrar uma série de vícios
condenáveis na administração pública e melhorar nossa imagem no exterior.
Seus membros, que poderiam ser reconhecidos no futuro como pessoas que marcaram
positivamente uma época ao moralizar a gestão pública, preferiram se aliar à
estrutura corrupta que tanto criticaram. A montagem de uma grande estrutura de
corrupção foi a opção dos petistas para dar governabilidade ao presidente
Lula.
Os fatos envolvendo o
PT e a base aliada em esquema de caixa dois e contratos públicos suspeitos
ficaram até semanas atrás restritos aos partidos aliados, ao legislativo e
membros da cúpula petista que ocupavam cargos no primeiro escalão do governo.
Ao que parece foi montada uma estratégia visando não envolver o presidente nos
casos de corrupção. Porém, nos últimos dias, fatos que vieram à tona
colocaram o presidente Lula numa situação extremamente comprometedora. O
depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios revelou que a
corrupção no governo vai além da mera prática de caixa dois abastecido por
recursos públicos, envolve também casos graves de sonegação fiscal, lavagem
de dinheiro, evasão de divisas e remessa ilegal de dinheiro para paraísos
fiscais.
A situação do
presidente Lula parece cada dia mais grave no que tange à sua capacidade de
governar. Sua administração parece se esfarelar a cada dia e a aprovação
pelo Senado do valor do salário mínimo em R$ 384,29, quando a proposta enviada
pelo executivo fixava-o em R$ 300, evidencia que seu governo está à deriva. A
proposta, que pode gerar uma despesa adicional de mais de R$ 16 bilhões nas
contas públicas, precisa passar ainda pela Câmara dos Deputados, onde a
desarticulação política da base governista pode ratificar o valor aprovado no
Senado e criar uma situação extremamente indigesta para Lula. O presidente
pode vetar a proposta e o salário mínimo voltar para R$ 260, o que
contribuiria para acabar com o reduzido apoio popular que ainda lhe resta.
Torna-se cada vez mais
difícil defender o presidente Lula. São cada vez mais fortes as denúncias que
pesam sobre ele. Sua permanência até o final do governo poderá ser melancólica.
A governabilidade praticamente chegou ao fim.
O PT está pagando um
elevado preço pelos erros que cometeu. Em poucos meses a opção pela corrupção
desenfreada destruiu uma história de mais de duas décadas e seu principal líder
poderá ser lembrado como o maior embuste político de todos os tempos.
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AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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