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NEGÓCIOS & VENDAS
16 / outubro / 2005

MEUS NEGÓCIOS
Por Nildo Leite (*)

             Venho a alguns anos ouvindo em sala de aula, ou ao estar proferindo palestras, e por clientes de consultoria, entre outras, as seguintes perguntas: por que a grande maioria dos consultores opina no negócio dos outros e muitas vezes nunca possuiu algum? Você já teve algum negócio, alguma empresa, fora a de prestação de serviços em consultoria? Além de ter conhecimento e já ter tido a experiência de atuar em várias áreas como executivo, você, já foi empreendedor? Estas questões sempre me incomodaram. Embora eu as respondesse que o conhecimento, a experiência acumulada ao longo dos anos e os resultados positivos que alcancei me credenciavam para atuar como consultor ou que não era consultor por ter achado uma saída para o desemprego, sentia um certo desconforto.

            No mês de outubro de 2002, ao ministrar uma aula num curso de pós-graduação, na disciplina “Gestão Estratégica”, ao abordar um determinado assunto, citei exemplos tomando como base a opinião de consultores, empresários, executivos e teóricos. Uma aluna-empresária, que no decorrer das aulas mostrou-se excelente, disse-me que não acreditava na atuação de “consultores empresariais, de marketing ou de negócios”. Perguntei-lhe por que e ela respondeu-me com a seguinte pergunta: o Sr. Já teve ou conhece algum consultor que já teve uma fábrica, uma loja, ou uma empresa qualquer, de sucesso, ou que pelo menos tenha “sobrevivido” bem por mais de dois anos e não tenha feito parte das estatísticas das empresas que morrem antes dos primeiros dois anos de existência? Ao responder-lhe que não e justificar o porque da minha atuação e de muitos outros consultores, esta, muito educadamente, completou: o Sr. vai me desculpar, não vou querer polemizar, mas continuo com o meu posicionamento. Tentei continuar com o assunto, mas percebi que seria inútil. A aluna-empresária continuava com seu posicionamento e afirmava que sabia de “histórias terríveis de serviços de consultoria” através de amigos, fornecedores etc. Ao perceber que não iria modificar seu ponto de vista, mesmo com depoimentos positivos de outros alunos (inclusive empresários) sobre serviços de consultoria, resolvi dar andamento à abordagem do conteúdo da disciplina.  Terminamos a aula e ao me dirigir para casa não conseguia parar de pensar no que havia ocorrido. Em meio aos pensamentos, vinha a lembrança de conversas com meus colegas consultores que também já tinham ouvido várias vezes o mesmo ou questionamentos parecidos, das matérias/artigos que já tinha lido em revistas e jornais de credibilidade abordando o assunto etc.

            Sabemos que ainda existe uma resistência muito grande ao trabalho de consultores por vários motivos. 

            Passado algum tempo, e após ter a consciência de que iria correr um grande risco, resolvi que iria empreender um outro negócio que não o de consultoria. Sabia que estava colocando “em jogo”, de certa forma, minha carreira de consultor e de professor universitário nas áreas de gestão empresarial e de marketing. Uma outra decisão foi a de não me afastar das salas de aula e das coordenações dos cursos de pós-graduação.

            Depois de pesquisar muito, decidi que iria abrir uma loja de artigos para presente e decoração. Os fatores que mais pesaram na decisão: o setor apresentava bons e fortes indicativos, mais e bastante importantes oportunidades que ameaças, potencialidades superiores às fragilidades, maioria dos concorrentes vista como “commodity” pelos consumidores, relativa ameaça de novos entrantes, embora possa não parecer, um negócio difícil de “tocar” estratégica e operacionalmente, o desafio de não ter tido a experiência de atuar no setor e os indicativos de ser muito prazeroso.

            Decidi também, no plano de negócio que elaborei, e já que arriscaria alto e com a aquiescência do “eu” consultor, que iria comprar um imóvel, ao invés de alugar, num shopping de bairro de classe média. Utilizei vários tipos de pesquisa até que encontrei o que queria.  

            Os planejamentos que elaborei, tanto o estratégico quanto o tático e o operacional foram implementados,  passo a passo, seguido à risca e re-escrito quando necessário, tomando por base as oscilações e competitividade no mercado no que deveria ser alterado, nas estratégias e respectivas ações que deveriam ser implementadas, o que podia ser inovado, etc.

            No primeiro ano à frente do negócio trabalhei muito. Entre julho de 2003 e o mesmo mês de 2004 não perdia nada de vista e o controle que fazia era absurdamente rigoroso. Todo e qualquer detalhe era extremamente importante. Veja alguns exemplos:

·        Acompanhamento diário do ambiente competitivo, através de pesquisas primárias e secundárias, observando suas alterações e as influências sobre o negócio

·        As negociações com os fornecedores de produtos e de serviços de transporte quanto aos preços, descontos, prazos para entrega e indenização/troca de avarias

·        Os custos e as despesas

·        Manutenção da loja

·        Preços praticados no mercado

·        Conferência rígida na recepção de produtos e serviços adquiridos

·        Compras: tendências, estatísticas, sazonalidade, níveis de consumo, níveis de estoque

·        Acompanhamento e avaliação sistemática das vendas da loja por fornecedor/produto, à vista e à prazo

·        Aplicação das ferramentas promocionais analisadas sobre todos os aspectos

            Passados mais de dois anos da abertura e funcionamento da loja, o eu empresário e o eu consultor consolidamos todas as nossas iniciativas: nossa visão está em curso, nossa missão bem executada, nossos valores, nossas políticas internas e externas, nossos procedimentos estratégicos, táticos e operacionais, etc. Fomos remunerados durante todo o tempo e um dos objetivos que estabelecemos foi o de abrir mais um ponto de venda em 3 (três) anos. Já temos condições para isso sem afetar o negócio existente.

            Não vou ser hipócrita e afirmar que não erramos algumas vezes. Incorremos em alguns erros, mas, devido ao cuidado que tínhamos com tudo que planejávamos e realizávamos, eles foram poucos e corrigidos a tempo de não impactar ou inviabilizar o negócio.

Resumindo, o que não nos levou (o eu consultor e o eu empresário-lojista) a fazer parte das estatísticas das empresas que “morrem” antes dos dois primeiros anos de vida foram: o conhecimento, a competência, a responsabilidade, o comprometimento e o prazer de se estar fazendo o que gosta.      


* Nildo Leite é Consultor de Empresas, palestrante, coordenador e professor de cursos de pós-graduação e graduação em instituições de ensino em Salvador-Bahia nas áreas de Gestão Estratégica e Marketing. É mestrando
em Marketing e Gestão Empresarial pela Universidade Internacional de Lisboa – Portugal, pós-graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), em Administração com ênfase em Recursos Humanos pela Universidade Estácio de Sá (UES-RJ) e em Estudos de Política e Estratégias Nacionais pela Escola Superior de Guerra (ESG/ADESG-BA).
Email: [email protected].


MATÉRIA AUTORIZADA EXPRESSAMENTE PELO SEU AUTOR
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