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C O M P O R T A M E N T O -
16
de abril de 2006
“Não há segurança nesta terra; há oportunidades.”
DESAFIOS AO AGRONEGÓCIO
Por Tom Coelho, colunista-titular do Portal Brasil (*)
O
gargalo do crescimento brasileiro chama-se infra-estrutura. A este, somam-se
entraves de ordem institucional. Conheça aqui uma proposta de agenda mínima
para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.
O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo, atrás apenas
dos Estados Unidos e da União Européia. E o setor primário é responsável
por 34% de nosso PIB, 37% dos empregos gerados e nada menos que 85% do superávit
da balança comercial obtido em 2005, sem o qual o desequilíbrio nas contas
nacionais teria levado ao colapso da política econômica do governo.
Todavia, por opção, miopia ou ambos, as políticas públicas parecem
desconsiderar esta importância do agronegócio. Relevam a um segundo plano
o setor primário de nossa Economia, como que dando as costas para uma tradição
e, mais do que isso, uma vocação agrícola que acompanha nossa história.
O consumo mundial de carne bovina é crescente e os rebanhos vêm se
reduzindo gradualmente, elevando os preços internacionais. Por isso, a
participação brasileira nas exportações mundiais mais que triplicou em
apenas dez anos: de 6,7% em 1994 para 21,4% em 2004. Doenças como a gripe
aviária e a vaca louca atingiram países asiáticos e europeus, permitindo
este crescimento, interrompido apenas com o foco de febre aftosa ocorrido no
Mato Grosso do Sul em fins do ano passado e que gerou embargos à carne
bovina brasileira.
Ainda assim, no que tange a frangos, suínos e bovinos, o Brasil é referência
em qualidade. A pecuária tem sido tecnificada, utilizando mais animais por
hectare. E o custo do hectare de terra no Brasil é inferior a 10% do valor
norte-americano.
Com relação a grãos, a redução de subsídios agrícolas na Europa e nos
EUA por força das negociações travadas na OMC (Organização Mundial do
Comércio), associada à saturação de novas terras disponíveis nestes
lugares, colocaram o Brasil em posição privilegiada, elevando nossa
participação no comércio global.
Condições climáticas favoráveis e novas técnicas de plantio
propiciaram-nos a criação de uma base exportadora de frutas de clima
tropical e temperado.
Porém, transcorremos o ano de 2005 migrando da euforia à apreensão. Da
estiagem registrada no Sul do país ao surto de aftosa, passando pela
superprodução de soja norte-americana, nada abalou mais o desenvolvimento
do agronegócio do que a queda na taxa de câmbio. Com muitos insumos
(defensivos e fertilizantes) adquiridos no início do ciclo produtivo com dólar
sobrevalorizado, a comercialização da produção na baixa cambial
acarretou uma terrível queda na renda do produtor. As conseqüências serão
sentidas na próxima safra: redução da área plantada, abrindo espaço
para concorrentes como a Argentina; diminuição dos estoques, causando
pressão sobre a inflação; menor investimento em implementos, fragilizando
a qualidade da colheita.
O gargalo do crescimento
brasileiro chama-se infra-estrutura. A este, somam-se entraves de ordem
institucional. Uma agenda mínima capaz de contemplar estas questões deve
considerar os seguintes aspectos:
1.
Transporte: nossa produção é escoada através de estradas esburacadas
– quando há estradas – e mediante uma frota antiga. Na década de
setenta o governo investia 1,8% do PIB em estradas; hoje, apenas 0,1%. Na
Argentina, a opção também é pelo transporte rodoviário, porém as distâncias
percorridas são muito menores. Os EUA utilizam o transporte hídrico em
larga escala, com custos até 80% menores. O Brasil escoa apenas 5% de sua
produção de soja por hidrovias. Basta olhar para o mapa hidrográfico
brasileiro para enxergar a grande oportunidade que temos em nossas mãos. Além
disso, faltam também investimentos em ferrovias, que poderiam integrar
especialmente o Centro-Oeste à rede portuária. Nossa malha ferroviária é
de apenas 30 mil quilômetros de extensão, a mesma de oitenta anos atrás.
2.
Portos: pouco eficientes e sobrecarregados, apresentam custos
operacionais elevados que comprometem a competitividade de nossas commodities.
As taxas portuárias, por exemplo, representam de 1% a 1,5% do valor da
carga na Argentina e nos EUA. Por aqui, chegam ao patamar de 5%.
3.
Armazéns: a seca ocorrida ano passado na região Sul, a pior em
quarenta anos, que provocou uma queda de 75% da safra de soja, adiou um
problema iminente representado pela estocagem de grãos. Nos últimos cinco
anos a produção brasileira saltou cerca de 50% enquanto a capacidade de
armazenagem cresceu apenas 5,7%. Segundo a OCB (Organização das
Cooperativas Brasileiras) temos um déficit de capacidade de armazenagem da
ordem de 35 milhões de toneladas. Isso provoca congestionamento nos portos,
elevação do preço dos fretes e até perda de parte da produção.
4.
Crédito Rural: a política de crédito precisa ser revista e ampliada
em especial aos pequenos produtores. Pesquisa elaborada pelo professor
Guilherme Leite da Silva Dias, da Universidade de São Paulo, comprova que
15% dos tomadores de recursos, os grandes agricultores, respondem por 85% da
inadimplência na carteira de crédito. E são estes agricultores que,
respaldados por sua força política orquestrada pela bancada da UDR no
Congresso, atrasam seus pagamentos mesmo em períodos de bonança no campo,
como estratégia de dependência sistemática do setor público.
5.
Seguro Rural: variações climáticas e oscilação nos preços
internacionais são riscos inerentes ao agronegócio, mas que podem e
precisam ser gerenciados através de mecanismos de salvaguarda. O seguro
rural é um instrumento praticamente inexistente neste país. E,
propriamente por não ser difundido, apresenta custos proibitivos para
contratação, desestimulando companhias seguradoras e contratantes. A
exemplo do que o governo federal fez com o sistema bancário, o setor primário
necessita de um fundo garantidor para custear crises causadas por estiagens,
problemas fito-sanitários ou redução abrupta dos preços decorrentes de
variações cambiais expressivas ou oscilações dos preços no mercado
externo. Um funding auto-sustentável
alimentado por um percentual dos prêmios de seguro, do crédito rural e dos
lotes comercializados funcionaria como hedge.
6.
Recursos Públicos: o orçamento deve prever recursos para defesa sanitária,
custeio e comercialização da produção. Mas o sistema de
contingenciamento precisa ser aprimorado. É lamentável observar a retenção
dos já escassos recursos previstos na dotação orçamentária da União
por força da burocracia institucional que impõe como regra para a efetivação
dos repasses que o Estado beneficiado esteja adimplente com o governo
federal.
7.
Questões Fundiárias: há cartórios pelo interior do país que fazem
registro de terra a mão, sem qualquer precisão geográfica. Além disso, o
direito de propriedade deve ser respeitado, o que significa equacionar a
questão do Movimento dos Sem Terra e buscar uma atuação sinérgica do
INCRA, no que tange à demarcação de terras indígenas.
8. Rastreabilidade e Certificação:
numa nação com dimensões continentais, torna-se imprescindível adotar
medidas como a regionalização, proibindo o trânsito de animais vivos de
uma região para outra, possibilitando conter o foco de eventuais doenças
identificadas. A emissão de certificados de origem também permitiria
monitorar e elevar a qualidade dos bens transacionados.
9. Biotecnologia e Agroenergia:
o investimento em pesquisa e desenvolvimento deve ser estimulado, tendo a
inovação tecnológica como meta. O Brasil está diante da oportunidade ímpar
de liderar em posição de vanguarda a geração de fontes energéticas
renováveis, avançando além do álcool combustível.
10. Cooperativismo e
Associativismo: são
instrumentos capazes de impulsionar a atividade agropecuária, fortalecendo
os pequenos produtores e criadores, auxiliando-os na redução de custos, no
aumento da produtividade, no custeio através das cooperativas de crédito,
no desenvolvimento tecnológico, na difusão de práticas de gestão e na
obtenção de melhores preços na comercialização, elevando
consequentemente a renda no campo.
Os desafios são tão amplos quanto as oportunidades. Enfrentar os desafios
e aceitar as oportunidades pode ser o caminho mais breve para o
desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro, selando nossa condição
de grande celeiro do mundo.
Tom
Coelho
Matéria da 2ª quinzena de abril de 2006
(*) Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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