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C O M P O R T A M E N T O -
16
/ fevereiro / 2006
“Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.”
(Thomas Fuller)
O
EXERCÍCIO DA PERDA
Por Tom Coelho, colunista-titular do Portal Brasil (*)
Um dia você se depara com a logomarca de sua empresa estampada numa página
de revista, numa folha de jornal ou em um outdoor. E seu rosto
ganha contornos de um breve sorriso.
Passando em frente à companhia você admira a imponência das instalações.
A grade que delimita sua divisa, as amplas janelas envidraçadas, o
uniforme do segurança que guarda a entrada.
Caminhando pelos corredores você cruza com seus colegas cumprimentando-os
efusivamente. O cafezinho servido na copa tem aroma e sabor agradáveis.
Você avista sua área de trabalho, contemplando desde o grampeador até o
monitor que descansa sobre a mesa, passando pela cadeira com rodízios.
Todas estas imagens lhe remetem a bons momentos e a uma sensação de
orgulho e prazer. Mas também de tristeza porque você não mais trabalha
lá...
Numa manhã ensolarada de domingo você resolve organizar seus pertences.
Malas, bolsas e armários são os alvos principais. Entre o abrir e fechar
de gavetas, o remexer em caixas e envelopes amarelados pela ação do
tempo, você encontra cartas e fotos da pessoa amada. E você relê estas
cartas. E você observa as fotos. E um filme de sua vida passa diante de
seus olhos. E, tomados pela emoção, seus olhos podem marejar.
Como se não bastasse, você pode ouvir uma canção. Música ao longe que
não passa de mais uma composição entre tantas outras para a maioria das
pessoas, mas que para você representa a ancoragem de um momento único,
especial. Pode simbolizar o primeiro beijo, a primeira declaração de
amor, a primeira noite juntos.
E todos estes objetos e sons fazem você viajar para dentro de si e sentir
a graça da alegria e da felicidade. Uma sensação que somente o amor
pleno pode nos proporcionar. Porém, emoções vividas outrora porque você
não mais está ao lado daquela pessoa amada...
Temos o hábito de praticar o que se poderia definir como “elogio à
ingratidão”. Lutamos com tenacidade para alcançar nossas metas.
Aceitamos privações, enfrentamos discórdias, declinamos de nossas mais
fortes convicções, tudo para satisfazer a um desejo.
Agimos assim, seja para adentrar uma organização, seja para conquistar
um coração. E vibramos muito com nosso êxito. No início, a empresa em
que trabalhamos é a melhor dentre todas as demais. O ambiente é o mais
favorável, as atividades são as mais adequadas, as oportunidades são as
mais promissoras.
Analogamente, os amores que principiam são perfeitos. A atração é
permanente e acolhedora, o diálogo é constante e engrandecedor.
Porém, a rotina fermenta o açúcar das relações. E transforma
iniciativa em apatia, companheirismo em desprezo, generosidade em
mesquinhez. Tanto fazemos que conseguimos o objetivo oposto ao que antes
nos movia. Perdemos o emprego. Somos deixados pela pessoa amada.
Henri Becque dizia: “A liberdade e a saúde se assemelham: o
verdadeiro valor só é dado quando as perdemos”. Acredito que este
princípio seja ainda mais amplo...
Por isso, quero fazer-lhe um convite para praticar um novo tipo de exercício.
Eu o chamo de “exercício da perda”. Trata-se de uma ginástica
mental através da qual você passa a vislumbrar cenários, como quem
estivesse numa partida de xadrez, imaginando o impacto de seus próximos
movimentos em decorrência de suas escolhas, de suas decisões pessoais.
Não pretendo, com isso, incentivar a manutenção de relações medíocres.
Há empresas nas quais não cabemos mais. Tornam-se pequenas para nossos
propósitos, pé direito baixo fazendo-nos bater com a cabeça no teto. Há
amores que se esgotam. Tornam-se protocolares, habituais, dispensáveis.
Em ambos os casos, o melhor é um resoluto adeus.
Mas não se permita concluir deliberadamente que o fim chegou apenas porque o estímulo e o entusiasmo do início foram ofuscados pelas adversidades. Lembre-se sempre de que uma alegria destrói cem tristezas e que a gratidão assegura a felicidade.
Tom
Coelho
Matéria da 2ª quinzena de fevereiro de 2006
(*) Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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