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C O L U N A     D E     E C O N O M I A
16 / AGOSTO / 2007

DA RECLAMAÇÃO À AÇÃO
Por Marcos Cintra (*)

O BRASILEIRO não sabe, ou não quer, exercer sua cidadania. Um exemplo de complacência no tocante à defesa de seus direitos é a tolerância com os desmandos da administração pública.

 

Felizmente, isso começa a mudar. Pouco, mas surge uma movimentação social em defesa de direitos e contra abusos. Mas ainda estamos longe do exercício da cidadania como se vê nos países avançados. O brasileiro está aprendendo a reclamar, mas ainda não sabe reivindicar, até porque em geral os movimentos sociais de protesto têm se limitado a serem isso mesmo, protestos. Não são acompanhados de propostas e de cobrança por ações específicas.

 

Numa coluna escrita num jornal paulista, em 10/07/2006, critiquei essa situação num artigo intitulado "Está péssimo, mas qual a proposta?". Afirmei que a mobilização de protesto é louvável, mas que seus efeitos se esgotariam se não for seguida de ações práticas.

 

Havia dito que movimentos como o da Rádio Jovem Pan -"Brasil, país dos impostos"- haviam cumprido importante papel. E depois? O que fazer? Nesse ponto, a cidadania se silencia e tudo fica como antes.

 

Da mesma forma, o milionário movimento "Quero mais Brasil", que uniu em 2006 entidades empresariais e sindicais, só resultou em mais faturamento para a mídia. Pouco restou de concreto.

 

Por que esses milhões de reais não são usados no financiamento de "think tanks", usinas de estudos e de propostas concretas para os problemas brasileiros? Por que sindicatos, federações e centrais de trabalhadores não investem na elaboração de caminhos a serem trilhados pelo país, em vez de só se queixarem?

 

Aliás, essa questão começa a ser levantada, como pode ser averiguado no artigo ""Think tanks" - por que o Brasil precisa deles", de Raymundo Magliano Filho e Carlos Eduardo Lins da Silva ("Valor", 26/7/2007).

 

A incompetência na gestão pública já está se tornando um caso de morticínio no transporte aéreo. As vítimas do acidente da TAM mostram que o limite já foi ultrapassado. Em vez de só reclamarem, as pessoas precisam propor soluções em todos os setores, dos transportes à violência, da corrupção à sonegação, da política aos serviços sociais.

 

Em breve, o trânsito na cidade de São Paulo irá paralisar a cidade, fazendo as pessoas abandonarem seus veículos nos congestionamentos. Na questão tributária, por exemplo, em vez de bater em uma mesma tecla, a da abusiva tributação e a da pantagruélica burocracia, a mobilização dos cidadãos deveria evoluir para a apresentação de projetos. O risco é que, sem isso, a reforma tributária vire um bordão sem conteúdo, ou, pior ainda, seja transformada em instrumento político-eleitoral, como tem acontecido ultimamente.

 

Temo que hoje se estejam repetindo esses erros.

 

"Cansei", "Cansamos" e outras manifestações públicas, organizadas ou não, estão se tornando rotina. Mas são movimentos vazios de conteúdo. Servem apenas para desopilar fígados, mas não produzem resultados visíveis. E o mais desanimador é que, apesar dessas manifestações de puro descontentamento, na hora decisiva das eleições o povo não muda sua atitude e mantém as coisas como sempre estiveram.

 

Cadê as propostas? Os formadores de opinião (entidades empresariais e de trabalhadores, partidos políticos, universidades etc.) devem cumprir seu papel de estabelecer um debate público de qualidade, sob pena de os politiqueiros, e seus marqueteiros de ocasião, continuarem ocupando esse vazio que se estabeleceu em nosso país.

 

(*) Marcos Cintra, 60 anos, doutor pela Universidade de Harvard, vice-presidente e professor-titular da Fundação Getúlio Vargas, é ex-deputado federal (1999/2003), ex-Secretário Municipal de São Bernardo do Campo (SP) e autor de "A verdade sobre o imposto único" (LCTE, 2003).

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PUBLICAÇÕES AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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