Duas vezes Anne Fontaine
Coco antes de Chanel (2009)
estreou nos cinemas brasileiros cercado de
expectativa. Ironicamente, um dos principais
defeitos desse filme sobre um dos grandes
gênios da alta costura é justamente a falta
de estilo.
O longa
dramatiza a vida da célebre estilista
francesa antes da fama, com belo desempenho
de Audrey Tautou (que incorpora,
ocasionalmente, outra Audrey – Hepburn, a
queridinha de Givenchy), além de
interessantes subtextos a respeito das
contradições da vida e dos desgostos
experimentados até mesmo – ou principalmente
– pelos mais afortunados. Infelizmente,
porém, aquilo que vemos na tela carece de
inspiração – com exceção da cena final.
Confirma-se aqui a essencial banalidade do
modelo cinematográfico adotado pela maioria
das ditas grandes produções. E isso se
manifesta claramente nos enquadramentos, mas
sobretudo na trilha sonora de Alexandre
Desplat, compositor que parecia bom, mas tem
se demonstrado nada mais do que um
sub-Satie.
A
diretora do filme, Anne Fontaine, também
demonstrou algum talento no passado. De
certa maneira, seu trabalho anterior –
A Garota de Mônaco (2008) –
parece caminhar no sentido oposto de
Coco antes de Chanel. Trata-se de um
pequeno filme, nada brilhante, mas
relativamente admirável. Uma sofisticada
comédia; não é Billy Wilder, mas supera
facilmente a virtual totalidade dos filmes
que tentam nos fazer rir ultimamente.
Quem viu o
trailer – ou conferiu indevida
importância ao título, pode pensar que a
trama diz respeito à garota oferecida (uma “piriguete”,
no linguajar contemporâneo) que aparece
seminua durante a maior parte da projeção.
Ledo engano, desmentido logo na primeira
cena. Construído como um jogo de espelhos,
A Garota de Mônaco é, na
verdade, um filme sobre a ética das relações
pessoais, sobre amizade e lealdade.
Não obstante,
apesar de todos os méritos, o filme possui
um sério defeito, qual seja, a transformação
da virilidade em paródia. Natureza da
abordagem, sinal dos tempos ou consequência
de uma direção feminina? Sinceramente, não
sei. Talvez os três. De todo modo, se leitor
tiver de escolher entre esses dois filmes de
Anne Fontaine, já sabe o que fazer.
Por Túlio Sousa Borges,
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