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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS
INDICAÇÕES DA QUINZENA:
O LEITOR
Excepcionalmente por Túlio Sousa Borges
(*)
Ao contrário do que se tem dito, O Leitor (The
Reader, 2008) não é apenas mais um filme sobre o Holocausto (ainda que tratar do
tema o tenha certamente ajudado a conseguir cinco indicações ao Oscar, incluindo
o de Melhor Filme). Complexo e sofisticado dentro dos limites do cinema
comercial, é um filme sobre culpa, sobre os segredos guardados por cada um de
nós, sobre escolhas que definem nossas vidas; um filme sobre a natureza humana,
em suma.
A direção coube a Stephen Daldry, que prova seu talento a cada novo
filme. O Leitor vem na esteira de Billy Elliot
(2000) e As Horas (2002), com o charme poético e a ambiguidade – sexual
e moral – dos antecessores (o roteirista David Hare também assinou o roteiro em
2002).
Conta a estória do alemão Michael Berg, um prisioneiro do passado. No
início do filme, o vemos como um bem-sucedido, mas atormentado advogado (Ralph
Fiennes). Seu sofrimento remonta à juventude, que acessamos por meio de
flashbacks. Com quinze anos, em 1958, Michael (David Kross) teve um caso
com Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma enigmática mulher mais velha que por acaso
o ajuda quando, enfraquecido por uma doença, ele não consegue fazer o caminho de
casa. Em um romance essencialmente problemático, ela o inicia sexualmente,
enquanto, em troca, ele lê para ela.
Desenrola-se, então, um filme rico, com destaque para o excelente elenco.
Diante das fortes competidoras, de filmes por estrear no Brasil, ainda seria
arriscado afirmar que Winslet merece sua primeira estatueta. Mesmo assim, é
preciso reconhecer mais um grande trabalho dessa ótima atriz, que se mostra
muito confortável em cenas de nudez e sexo. O jovem Kross é, por sua vez, uma
revelação. E mesmo que Fiennes não convença como alemão, não deixa de ser uma
boa escolha para o papel que interpreta. Como se isso tudo não bastasse, a
produção ainda conta com Lena Olin, Bruno Ganz, Hannah Herzsprung e Alexandra
Maria Lara.
Com a ajuda dos fotógrafos britânicos Roger Deakins e Chris Menges e do
jovem compositor Nico Muhly (outra revelação), Daldry e seu estelar elenco
recriam poderosas sensações e captam verdades emocionais: a bela Sophie (Vijessna
Ferkic) encarna o fugaz namoro de verão de Michael, a paixão que poderia ter
dado certo; as duas personagens principais demonstram que cada indivíduo
constitui um mistério.
A Arte nos permite escapar, por alguns momentos, da prisão que a vida
pode ser, mas existem experiências que deixam uma marca indelével na alma. Por
isso mesmo, quando Ilana Mather, escritora que sobreviveu ao Holocausto,
envelhece, é interpretada pela mesma atriz que havia encarnado sua mãe, Olin.
Estratégia semelhante à adotada por István Szabó em Sunshine (1999),
outro filme em que a passagem de gerações não cura certos males (coincidência:
Ralph Fiennes interpreta avô, pai e neto na vida adulta de cada um).
Não obstante, O Leitor tem alguns defeitos. Não
é preciso ter lido o livro para perceber que o filme foi incapaz de traduzir em
imagens a sutileza e ambiguidade de certas passagens. O romance proibido surge
com muita rapidez e, pelo menos no início, carece, curiosamente, de erotismo,
impedindo o espectador de sentir a palpitação de Michael. Um diálogo entre o
protagonista e Ilana no fim do filme apresenta semelhantes problemas. Além
disso, certo artificialismo é provocado quando britânicos falam com sotaque
alemão e alemães são obrigados a falar em Inglês. Nada
de mais, no entanto. O filme é imperfeito, mas muito, muito bom.
(*) Túlio Sousa Borges é colunista do site "Candango" onde a matéria foi publicada anteriormente.
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