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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS
INDICAÇÕES DA QUINZENA:
O
CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON
Excepcionalmente por Túlio Sousa Borges
(*)
Longo e sobrecarregado como outros trabalhos do roteirista Eric Roth (Munique); pretensioso, bizarro e tecnicamente impressionante, como grande parte da filmografia de David Fincher (Clube da Luta). Eis O Curioso Caso de Benjamin Button, que começa e termina em Nova Orleans, das comemorações pelo vitória na I Guerra Mundial à chegada do furação Katrina. Cerca de noventa anos em três horas.
De fato bizarra, a premissa do filme parece ter saído de uma das áreas
menos interessantes da Twilight Zone. Na verdade, Benjamin Button lembra
bastante o intoleravelmente açucarado segmento dirigido por Spielberg no filme
de 1983 que homenageava a série de televisão. Nele, um
velho misterioso chega a um asilo e faz os residentes voltarem à infância,
transformados por ele nas crianças que haviam sido no passado.
O filme de Fincher se inspirou em um conto homônimo escrito por F. Scott
Fitzgerald. Claramente influenciado por Edgar Allan Poe e Mark Twain, o conto é
uma farsa cômica e o tipo de coisa que pertence obrigatoriamente às páginas.
Roth não só adaptou a estória para o cinema, como a alterou essencialmente,
transformando-a em algo desmedido. No fim das contas, há apenas uma tênue
relação entre conto e filme.
O Benjamin Button de Fitzgerald nasce como um septuagenário rabugento e
sarcástico, com porte correspondente (imaginem o sofrimento da mãe); no filme, o
recém-nascido é abandonado pelo pai na porta de um asilo e um bebê diferente,
com o organismo decrépito de um ancião, mas ainda um bebê. Adotado pela bondosa
negra Queenie, Button é uma criança confinada no corpo de um velho.
Estranhamente, o corpo rejuvenesce paralelamente ao amadurecimento psicológico.
Tudo muito absurdo, sim, mas acompanhamos com atenção a charmosa
trajetória do esquisito Benjamin, das brincadeiras infantis ao primeiro porre –
passando pela primeira noite de sexo, em um pútrido bordel de Nova Orleans. Ele
vira marinheiro no Chelsea, barco do Capitão Mike, um simpático bêbado, e viaja
ao redor do mundo. Parece uma empolgante aventura, mas assim como outros
interessantes aspectos dessa problemática estória, não é muito bem aproveitada
pela defeituosa direção de Fincher.
O resultado é um filme vistoso, mas frequentemente inanimado; que provoca nossa curiosidade, mas, por vários momentos, nos mantém emocionalmente afastados.
O romance entre Benjamin e Daisy é muito atraente e compõe as melhores
cenas. Maquiagem e efeitos digitais aproveitam a beleza natural das três atrizes
que encarnam Daisy e criam uma personagem absolutamente encantadora. Já
conhecíamos a beleza de Cate Blanchett, mas, mesmo no cinema, é raro encontrar
uma mulher tão deslumbrante; e as pequenas Elle Fanning e Madisen Beaty (Daisy
em diferentes fases da infância) são lindas meninas. Infelizmente, o filme não
resolve satisfatoriamente os esperados conflitos de um relacionamento incomum.
Se a combinação entre engenhosidade técnica e pretensão bastasse para
criar uma obra-prima, David Fincher seria um dos maiores diretores de todos os
tempos. Ironicamente, Benjamin Button figura nas importantes premiações que há
um ano ignoraram Zodíaco (2007), o único grande filme do diretor.
Indicações/premiações nas categorias técnicas são mais do que merecidas; e não
seria injusto se Blanchett fosse indicada por apenas mais um excelente
desempenho em sua impressionante carreira. Mais do que isso, porém, é exagero.
Brad Pitt fica ótimo em outros papéis, mas sua encarnação do inescrutável Button
é particularmente maçante, apesar do trabalho duro exigido pelo papel.
A Academia, que já brincou de rapper no passado, parece ao que tudo
indica disposta a se vestir de multiculturalista em 2009 e premiar a trilha
sonora de Slumdog Millionaire. Uma pena, pois o prêmio ficaria muito bem nas
mãos de Alexandre Desplat pelo score de Benjamin Button. Sua composição é uma
das belezas de um filme que se parece muito com Forrest Gump, outro roteiro
assinado por Roth. Um Gump com mais maquiagem, Button é um panorama superficial
da história americana. Em ambos, a pessoa é formada por seu próprio tempo e suas
experiências, dentro da delimitação oferecida por marcos históricos.
Benjamin Button também funciona como uma frívola meditação sobre o
destino, a fragilidade da vida e o caráter inexorável do tempo. Crianças e
velhos podem ser igualmente dependentes e irritadiços. Por alguns momentos, o
filme consegue ser poético, como no curto idílio dos amantes, e provocar
genuínos sentimentos.
Grandiosamente superficial e levemente prazeroso, Button não é a
obra-prima que gostaria de ser. O filme nos faz sentir curiosamente vivos, mas
seu encanto é fugaz e logo esquecido. “Nada dura”, diz o protagonista; e pelo
menos quanto ao filme ele tem razão.
(*) Túlio Sousa Borges é colunista do site "Candango" onde a matéria foi publicada anteriormente.
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