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C R Í T I C A

0 1  /  J A N E I R O  /  2 0 0 9
ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


INDICAÇÕES DA QUINZENA:

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON
Excepcionalmente por Túlio Sousa Borges (*)

            Longo e sobrecarregado como outros trabalhos do roteirista Eric Roth (Munique); pretensioso, bizarro e tecnicamente impressionante, como grande parte da filmografia de David Fincher (Clube da Luta). Eis O Curioso Caso de Benjamin Button, que começa e termina em Nova Orleans, das comemorações pelo vitória na I Guerra Mundial à chegada do furação Katrina. Cerca de noventa anos em três horas.  

            De fato bizarra, a premissa do filme parece ter saído de uma das áreas menos interessantes da Twilight Zone. Na verdade, Benjamin Button lembra bastante o intoleravelmente açucarado segmento dirigido por Spielberg no filme de 1983 que homenageava a série de televisão. Nele, um velho misterioso chega a um asilo e faz os residentes voltarem à infância, transformados por ele nas crianças que haviam sido no passado.

            O filme de Fincher se inspirou em um conto homônimo escrito por F. Scott Fitzgerald. Claramente influenciado por Edgar Allan Poe e Mark Twain, o conto é uma farsa cômica e o tipo de coisa que pertence obrigatoriamente às páginas. Roth não só adaptou a estória para o cinema, como a alterou essencialmente,  transformando-a em algo desmedido. No fim das contas, há apenas uma tênue relação entre conto e filme.

            O Benjamin Button de Fitzgerald nasce como um septuagenário rabugento e sarcástico, com porte correspondente (imaginem o sofrimento da mãe); no filme, o recém-nascido é abandonado pelo pai na porta de um asilo e um bebê diferente, com o organismo decrépito de um ancião, mas ainda um bebê. Adotado pela bondosa negra Queenie, Button é uma criança confinada no corpo de um velho. Estranhamente, o corpo rejuvenesce paralelamente ao amadurecimento psicológico.

            Tudo muito absurdo, sim, mas acompanhamos com atenção a charmosa trajetória do esquisito Benjamin, das brincadeiras infantis ao primeiro porre – passando pela primeira noite de sexo, em um pútrido bordel de Nova Orleans. Ele vira marinheiro no Chelsea, barco do Capitão Mike, um simpático bêbado, e viaja ao redor do mundo. Parece uma empolgante aventura, mas assim como outros interessantes aspectos dessa problemática estória, não é muito bem aproveitada pela defeituosa direção de Fincher.

            O resultado é um filme vistoso, mas frequentemente inanimado;  que provoca nossa curiosidade, mas, por vários momentos, nos mantém emocionalmente afastados.

            O romance entre Benjamin e Daisy é muito atraente e compõe as melhores cenas. Maquiagem e efeitos digitais aproveitam a beleza natural das três atrizes que encarnam Daisy e criam uma personagem absolutamente encantadora. Já conhecíamos a beleza de Cate Blanchett, mas, mesmo no cinema, é raro encontrar uma mulher tão deslumbrante; e as pequenas Elle Fanning e Madisen Beaty (Daisy em diferentes fases da infância) são lindas meninas. Infelizmente, o filme não resolve satisfatoriamente os esperados conflitos de um relacionamento incomum.

            Se a combinação entre engenhosidade técnica e pretensão bastasse para criar uma obra-prima, David Fincher seria um dos maiores diretores de todos os tempos. Ironicamente, Benjamin Button figura nas importantes premiações que há um ano ignoraram Zodíaco (2007), o único grande filme do diretor. Indicações/premiações nas categorias técnicas são mais do que merecidas; e não seria injusto se Blanchett fosse indicada por apenas mais um excelente desempenho em sua impressionante carreira. Mais do que isso, porém, é exagero. Brad Pitt fica ótimo em outros papéis, mas sua encarnação do inescrutável Button é particularmente maçante, apesar do trabalho duro exigido pelo papel.

            A Academia, que já brincou de rapper no passado, parece ao que tudo indica disposta a se vestir de multiculturalista em 2009 e premiar a trilha sonora de Slumdog Millionaire. Uma pena, pois o prêmio ficaria muito bem nas mãos de Alexandre Desplat pelo score de Benjamin Button. Sua composição é uma das belezas de um filme que se parece muito com Forrest Gump, outro roteiro assinado por Roth. Um Gump com mais maquiagem, Button é um panorama superficial da história americana. Em ambos, a pessoa é formada por seu próprio tempo e suas experiências, dentro da delimitação oferecida por marcos históricos.

            Benjamin Button também funciona como uma frívola meditação sobre o destino, a fragilidade da vida e o caráter inexorável do tempo. Crianças e velhos podem ser igualmente dependentes e irritadiços. Por alguns momentos, o filme consegue ser poético, como no curto idílio dos amantes, e provocar genuínos sentimentos.

            Grandiosamente superficial e levemente prazeroso, Button não é a obra-prima que gostaria de ser. O filme nos faz sentir curiosamente vivos, mas seu encanto é fugaz e logo esquecido. “Nada dura”, diz o protagonista; e pelo menos quanto ao filme ele tem razão.

(*) Túlio Sousa Borges é colunista do site "Candango" onde a matéria foi publicada anteriormente.

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