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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

Desejo e perigo
Sexo e morte em Xangai

Roupas e automóveis, canções e filmes do passado. O premiado e polêmico Desejo e perigo (Se,jie, 2007), dirigido por Ang Lee, é pontuado por um sentimento de nostalgia. Nostalgia do passado, da inocência perdida. Mas também nostalgia do cinema clássico.

Há aqui algo de enganoso, porém. Um filme sobre traições e ardis, Desejo e perigo é tão revisionista quanto reverente. Notorious (1946), um dos grandes filmes de Hitchcock, aparece como clara referência. Ingrid Bergman e Cary Grant podem inclusive ser vistos, ela em uma cena de Intermezzo (uma estória de adultério, como Desejo e perigo), ele em Serenata prateada (1941). Ang Lee também enquadra um cartaz de Suspeita (1941), outro filme de Hitchcock estrelado por Grant. Formas indiretas de se demonstrar um débito artístico.

Mas o uso de Notorious como ponto de partida é mais óbvio do que isso. Nele, Ingrid Bergman seduz a contragosto um espião nazista no Rio Janeiro. Desejo e perigo, por sua vez, se passa na Xangai ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Sua jovem protagonista, Wong Chia Chi (Tang Wei), também precisa esquecer seus sentimentos e seduzir um colaboracionista de alto escalão para que seus colegas de resistência possam matá-lo. Além disso, Ang Lee também toma outro detalhe importantíssimo do clássico de Hitchcock: a importância dramática de um simples objeto, a chave, que forma com a fechadura um sutil signo erótico.

Desejo e perigo, porém, adentra um território vedado ao cinema clássico. As conflituosas – e por vezes perversas – relações entre os sexos sempre constituíram um elemento central na obra de Hitchcock, é verdade. Mas o espectador nunca via o que Ingrid Bergman – ou Eva Marie Saint, em Intriga Internacional (1959) – precisava fazer entre quatro paredes quando as luzes se apagavam. Nesse ponto, Desejo e perigo aproxima-se de clássicos eróticos, como O Último tango em Paris (1972) e O Império dos sentidos (1976).

Ang Lee dirigiu um filme cruel, no qual estiliza a brutalidade. Mostra um grupo de jovens ingênuos que se envolve – quase sem se dar conta – em um perverso jogo de adultos. Assassinato e sexo, um negócio sórdido e perigoso. Em uma magnífica e violenta cena, brilhantemente coreografada, o diretor mostra que matar um homem pode ser muito difícil. Coincidentemente, pois provavelmente não tinha a intenção, faz lembrar Hitchcock mais uma vez; uma antológica cena de Cortina rasgada (1966), nesse caso.


         

Infelizmente, Desejo proibido é denso demais pro seu próprio bem. Um filme dessa natureza (pode ser classificado como noir) depende muito de seu clima e atmosfera. Seu sucesso nesse quesito é parcial. O visual é impressionante, mas a mise-en-scène chega a ser desajeitada, deselegante: algumas cenas pungentes num todo caótico. Trata-se de um filme grandioso e excessivo, de fazer inveja a Orson Welles; uma teia de aranha extremamente embaralhada, que beira a descompensação e flerta a um só tempo com a excelência e a inépcia.         

Apesar – ou por causa – disso tudo, já nasce memorável. Historiadores do cinema ainda escreverão várias páginas sobre esse audacioso filme de Ang Lee.

Por Túlio Sousa Borges, [email protected]

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