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ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

They Live by Night, de Nicholas Ray - Escrito em 1937 e hoje praticamente esquecido, o romance Thieves Like Us, de Edward Anderson, é um dos melhores policiais americanos do século passado. Ambientado no sul/sudoeste dos Estados Unidos durante a Grande Depressão, o livro não é apenas uma trama de assaltos a bancos, mas também – e sobretudo – uma trágica estória de amor.

            Não é de se surpreender, portanto, que a primeira de suas duas versões cinematográficas tenha sido dirigida por Nicholas Ray [¹]. Intitula-se They Live by Night (Amarga esperança, no Brasil). Rodado em 1947, e lançado dois anos depois, o filme marca a estréia do mítico diretor. E também é, além disso tudo, um bom representante do cinema noir.

            Bowie (Farley Granger), jovem de vinte três anos, foge da prisão onde estava há sete anos por homicídio. Seus dois companheiros de fuga são bandidos cruéis, Chicamaw (Howard Da Silva) e T-Dub (Jay C. Flippen). Que ele não passa de um garoto assustado que se envolveu com as pessoas erradas fica claro logo na primeira seqüência de ação, quando o psicótico Chicamaw agride o fazendeiro que o trio toma como refém logo que deixou a prisão. 

            Depois de terem queimado o carro da fuga, os três se esconderão no posto de gasolina do irmão de Chicamaw, Mobley, um velho alcoólatra interpretado por Will Wright. Só que Bowie, com o pé ferido, não consegue acompanhá-los. Por isso, fica para trás, para ser apanhado depois. A cena é conceitualmente importante, pois além de demonstrar a fraqueza do rapaz, simboliza a distância que o separa dos outros dois.

            Quem o busca durante a noite é a filha de Mobley, Keechie, jovem tímida e doce interpretada por Cathy O’ Donnell – que seria a irmã de Charlton Heston em Ben-Hur (1959). Bowie e Keechie são feitos um para o outro e acabam se apaixonando. Ele deseja levar uma vida normal, mas precisando de dinheiro para contratar um advogado, assalta um banco texano com Chicamaw e T-Dub e se afunda ainda mais no crime. 

            Bowie acaba sofrendo um grave acidente na estrada. Pressionado por Chicamaw, que dirigia outro carro logo atrás, ele se choca com um calhambeque que entrava irresponsavelmente na pista. Talvez tenha algo que ver com espelho quebrado pela cunhada de T-Dub pouco antes do assalto. O fato é que Bowie está muito ferido e para tirá-lo dali, Chicamaw mata um policial. 

            Bowie é deixado no posto de Mobley, onde Keechie cuida de seus ferimentos enquanto floresce a paixão do casal. Os dois decidem ficar juntos e fugir de tudo e de todos. Mas os jornais noticiam que Bowie seria o líder da gangue e que Keechie seria sua parceira no crime. O velho Mobley vai à polícia e afirma que sua filha foi seqüestrada pelo rapaz. Enquanto isso, Chicamaw e T-Dub querem que Bowie volte a trabalhar com eles. 

            Perseguidos pela polícia e pelos bandidos, Bowie e Keechie não têm em quem confiar. Seus momentos de felicidade são tão fugazes quanto prazerosos. Estão praticamente sozinhos contra um mundo que nada entende do amor. Romântico e sentimental, Nicholas Ray mostra que um casal apaixonado nunca consegue ser deixado em paz. 

            O diretor sempre se identificou com párias e rebeldes. Em They Live by Night, talvez se equivoque ao minimizar a responsabilidade do protagonista. Mesmo assim, passa longe dos perniciosos formadores de opinião que abundam no Brasil. Em outras palavras, Bowie nada tem que ver com o bandido do ônibus 174 ou com os marginais do PCC. 

            Para todos os efeitos, They Live by Night é um bom filme. A direção é sólida, marcada por belas tomadas. Era a primeira experiência de Ray como diretor, mas ele já possuía um estilo bem definido. De todo modo, existem melhores filmes de amor em fuga, como a obra-prima Vive-se uma só vez (1937), de Fritz Lang. Além disso, se você leu o romance de Edward Anderson – e a comparação é inevitável, não gostará tanto assim do que vê na tela.


 [¹] A segunda adaptação cinematográfica, que mantém o título do romance – Thieves Like Us, foi dirigida por Robert Altman em 1974. Ainda não vi, mas, a julgar pelo que o diretor havia feito apenas um ano antes com a clássica personagem de Philip Marlowe no filme The Long Goodbye, não deve ser grande coisa.   

Por Túlio Sousa Borges, [email protected].

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