Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

C  I  N  E  M  A
C R Í T I C A

1 6  /  A G O S T O /  2 0 1 0
ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

INCEPTION - Enquanto aguardava no cinema o início de A Origem (Inception, 2010), de Christopher Nolan, pude assistir ao trailer do novo filme de M. Night Shyamalan, O Último mestre do ar, que deve estrear na próxima sexta. O tal mestre é um garotinho asiático com super-poderes – é capaz de controlar os elementos, i.e. – e o filme parece ser uma bobagem colossal. “Esse sujeito perdeu o senso do ridículo – se é que já teve”, cochichei com minha namorada.

            No fundo, no fundo, porém, eu estava pensando em Christopher Nolan. Quando vi Amnésia (Memento, 2000) nove anos atrás, eu ainda era um estudante secundarista, que começava a escrever sobre cinema. O filme, sobre um homem desmemoriado que procura o assassino da mulher, deixou-me completamente extasiado. Eu tinha certeza de que Nolan, que já despontava como promessa no circuito independente desde seu primeiro longa – Following (1998), se tornaria um grande diretor.

             Mas Insônia (2002), seu filme seguinte, já me deixara na dúvida. E agora Inception só faz confirmar de uma vez por todas aquilo que seus filmes mais recentes – a começar pela série Batman – já vinham demonstrando de maneira muito eloqüente: o diretor, cuja pretensão desconhece limites, não deve ser levado muito a sério. Um novo – e mais pretensioso – Spielberg, Nolan é bom na hora de produzir diversões tolas, mas não tem a menor capacidade de discutir os problemas éticos que propõe.

            No novo filme, Leonardo Di Caprio (mal-aproveitado) lidera um peculiar grupo de ‘técnicos’ que têm a capacidade de invadir sonhos a fim de roubar dados da mente de quem dorme – ou instalá-los nela. Lá dentro, eles jogam uma espécie de RPG tão violento quanto incrível.

            Quando escrevi sobre Amnésia ainda em 2001, comparei o filme a um labirinto mitológico. Não sabia que estava prevendo o que Nolan faria quase uma década mais tarde. A personagem de Ellen Page, uma ‘arquiteta de sonhos’, se chama, não por acaso, Ariadne. E essa é uma boa indicação da falta de sutileza que impera na tela.

            Fica bastante claro, logo no início do filme, que existem sonhos dentro de sonhos. Os níveis são múltiplos, e ficam de tal modo sobrepostos que não conseguimos distinguir o que é real do que é sonho. De certa maneira, Inception, com suas inúmeras citações, é um filme sobre o próprio cinema. Mas será que isso é cinema mesmo?

            A verdade é que a fronteira entre filmes hollywoodianos e videogames está ficando cada vez mais imperceptível. Logo, logo, não falaremos mais em críticos de cinema, mas em críticos de audiovisual. Não nego a engenhosidade de Inception. Mas assim como Spielberg, Nolan é um diretor nerd. Pode ser inteligente, mas também é infantilmente inculto. E esperto demais para seu próprio bem.

            Inception funciona, e bem, como filme de ação – ou como um imenso videogame coletivo. Como drama, porém, é um fracasso retumbante. As personagens, seus conflitos e motivações são risíveis.

            Parece que estamos vendo mais um Batman. A direção, a fotografia, a trilha sonora, alguns dos atores e até mesmo um dos cenários, quase tudo está lá novamente. Mas antes que se diga o contrário, é preciso deixar bem claro: Christopher Nolan não é um auteur. É, sim, um engenheiro/arquiteto – para tomar a terminologia do filme – que não sabe coisa alguma de poesia, bem como um químico que fabrica narcóticos. E nada diz de sensível a respeito de sonhos, memórias ou anseios. Não deveria estar atrás de uma câmera, mas projetando brinquedos da Disney.

            Tolos os críticos, portanto, que dão valor ao ‘significado’ do filme e, conseqüentemente, às péssimas cenas com Marion Cotillard (Framboesa de Ouro?). Inception vale a pena como um longo passeio de montanha-russa – que não pode ser confundido com uma caminhada nos Alpes. Ocasionalmente divertido e excitante, mas essencialmente fútil.

Por Túlio Sousa Borges, [email protected].

PROIBIDA REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA EXPRESSA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO PORTAL BRASIL
® E AO SEU AUTOR

Para ler colunas anteriores, Clique aqui


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI