Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

C  I  N  E  M  A
C R Í T I C A

1 6  /  J U L H O /  2 0 1 0
ATUALIZAÇÕES QUINZENAIS


TÚLIO SOUSA BORGES, Colunista de cinema do Portal Brasil - www.portalbrasil.net

A vida imita a arte, que imita a vida, que imita... 

            Martin Scorsese lembrou-se de dezenas de seus filmes preferidos ao folhear Shutter Island, o romance de Dennis Lehane que viraria seu filme mais recente. A imagem de pessoas isoladas por um furacão certamente trouxe à tona a memória de Paixões em fúria (Key Largo, 1948), filme de John Huston que traz um inesquecível duelo entre Humphrey Bogart e Edward G. Robinson. É provável que o próprio Lehane tenha sido influenciado pelo filme, já que, assim como Scorsese, é um cinéfilo de carteirinha.

            Mas será que Julian Schnabel pensou no obscuro filme noir Vida contra vida (Street of Chance, 1942) enquanto dirigia O Escafandro e a borboleta (2007)? Parece-me improvável.

             No filme de Schnabel, o editor de moda Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) sofre um derrame que deixa seu corpo completamente paralisado, com exceção do olho esquerdo. Para que Bauby possa se comunicar, os médicos bolam um método bastante engenhoso. Mostram-lhe, uma por uma, as letras do alfabeto para que ele escolha a que deseja com uma piscada do olho saudável. E assim Bauby forma palavras, frases, e até escreve um livro, expressando os inúmeros anseios e sentimentos de uma mente que permaneceu lúcida. É o voo da borboleta.

            Em Street of Chance, temos uma situação semelhante. Frank Thompson (Burgess Meredith, o treinador de Stallone em Rocky) bate a cabeça na rua, perdendo a memória. Perseguido por pessoas que desconhece, descobre, então, que é o principal suspeito de um assassinato e decide descobrir os fatos por conta própria. O problema é que a única testemunha do crime é uma velha senhora inválida, que não consegue falar ou se locomover. Mas ela usa os olhos para se comunicar: uma piscada significa ‘sim’; duas piscadas, ‘não’. O que faz Thompson? Exatamente a mesma coisa que os médicos de Bauby.

            O drama de Bauby é, na verdade, uma história real. Mas se Schnabel não se inspirou no filme de 1942, será que os médicos franceses o fizeram? Talvez sim, mas o mais provável é que não tivessem conhecimento do filme. Separadas por vários anos e milhares de quilômetros, e sem qualquer contato entre si, diferentes pessoas sempre buscaram semelhantes soluções para superar dificuldades de comunicação. Enquanto isso, nosso tempo, singularmente mal-acostumado, tenta complicar as coisas. Será que ferramentas como o twitter não dificultam a comunicação, ao invés de facilitá-la?

            Mas voltando a 1942, Street of Chance, melhor traduzido por Rua do acaso, é uma bela – e raríssima – pérola. Trata-se de uma adaptação do romance The Black Curtain de Cornell Woolrich, um mestre do suspense.  E são justamente suas instigantes meditações sobre o acaso que aproximam a obra do escritor do cinema de Krzysztof Kieslowski. Vale a pena conferir.

Por Túlio Sousa Borges, [email protected].

PROIBIDA REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA EXPRESSA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO PORTAL BRASIL
® E AO SEU AUTOR

Para ler colunas anteriores, Clique aqui


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI