O cenário parece condizente com os planos. No resort de nome "El Conquistador", na capital porto-riquenha San Juan, reúnem-se desde quarta-feira os franqueados da rede de fast food Burger King da América Latina e do Caribe para discutir planos de avançar sobre o McDonald's para assumir a liderança do setor na região. É o primeiro encontro de franqueados desde que o trio de brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira comprou a rede americana, em setembro.
A troca de controle representou uma injeção de ânimo para os 80 franqueados latino-americanos, sendo 15 do Brasil, e o entusiamo pode ser medido pela presença maciça no evento. Cerca de 300 pessoas, o dobro de participantes do ano anterior, acorreram ao encontro para conhecer o novo CEO, o brasileiro Bernardo Hees, ex-presidente da América Latina Logística (ALL). E também para ouvir as palavras de Gregory Ryan, apontado para liderar as operações na América Latina e Caribe e uma referência no setor. Foi ele quem trouxe ao Brasil, com grande sucesso, a rede concorrente McDonald's nos anos 80.
O discurso, contam franqueados que participam do encontro, é claro: alcançar a liderança na América Latina, com forte controle de custos e olho na margem de lucro. Os planos, que já vinham sendo discutidos mas agora parecem mais factíveis, são de alcançar 1.600 a 1.700 restaurantes na região dentro de três a quatro anos. Hoje são cerca de 1.138. A maior parte desse crescimento está prevista para ocorrer no Brasil, onde a rede tem menos de 100 lojas e quer ultrapassar a marca de 500 no mesmo prazo - o McDonald's tem quase 600 restaurantes no país, sem contar quiosques. "Isso vai exigir que os franqueados estejam capitalizados. Quem não estiver pode ter problemas", disse um deles.
Hees não fez discurso aos franqueados. Participou do coquetel de abertura, na noite do dia 2, e tomou café da manhã com todos no dia 3, em que transmitiu mensagens de otimismo. Ryan falou na abertura e contou aos franqueados que, embora tenha assessorado os brasileiros na compra, produzindo um estudo cuja conclusão foi que não podiam perder a oportunidade, recebeu com grande surpresa o convite para ser o vice-presidente para a América Latina. A nova direção promete ouvir mais seus franqueados e imprimir mais agilidade nas decisões.
Uma novidade já está prevista para o Brasil. Em breve a rede começará a oferecer café da manhã nos restaurantes, algo que a concorrência faz e que o próprio Burger King já tem no cardápio em outros países da região, como Porto Rico. "Antes não tínhamos essa liberdade. O entendimento agora é que a marca é global, mas que as ações têm que ser locais", diz um franqueado brasileiro.
Junto do anúncio do nome de Ryan, em 25 de outubro, Hees comunicou uma grande mexida na cúpula da empresa. Dentre todas as mudanças, duas chamaram a atenção de forma especial. O brasileiro Heitor Gonçalves, que havia saído da Ambev, para ajudar a colocar a AB InBev nos eixos, em Bruxelas, será o vice-presidente responsável pelas métricas de performance do grupo. Daniel Schwartz, sócio da 3G Capital, empresa que administra o patrimônio do trio brasileiro, será o número dois da área financeira. Ambos estão de mudança para Miami, sede do Burger King. A chegada deles mostra que os brasileiros já começam a implementar aquilo que fazem de melhor: fechar o cerco aos custos, enxugar estruturas e perseguir resultado.