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E S T R A N G E I R I C E S
"Uma estória de amor pelo diferente"

CAPÍTULO XVIII - 01.03.2011
Por Juliana Ximenes
(*)

        Muitas vezes o sarcasmo aliviava a raiva, a frustração... e foi nesse espírito de confusão, quando algum tempo depois de nos descobrirmos apaixonados e após alguma esperança de nos vermos, que ele teve que abdicar da ideia sobre Dubai por conta de algumas situações na casa dele... Nossa primeira despedida... 

         Foi também nessa época meu primeiro encontro com as gurias da comunidade...

         Ele apareceu um dia e conversávamos, isso foi entre abril e maio de 2007. Mas, ele estava estranho...

         Há algum tempo ele havia me dito que a irmã caçula iria casar e estava muito feliz com a novidade, isso porque há muito o preocupava o destino da irmã. A guria, cerca de quatro ou cinco anos mais nova que ele, já havia sido noiva, só que houve o rompimento do noivado e o fato era considerado uma mácula no perfil da família, que buscava outro casamento.

         A história é tão absurda (sob o ponto de vista ocidental) que vale a pena ser contada. Ela tinha 22 ou 23 anos quando lhe arranjaram o primeiro noivo. O casamento da menina era uma preocupação, porque o pai havia falecido e o Hathi e a mãe queriam garantir o futuro dela, “já que não sabiam o dia de amanhã”. E, para uma mulher paquistanesa e muçulmana, obviamente generalizando-se, a garantia do futuro é o matrimônio. Foram observadas todas as etapas do processo de “arranjamento”. Localizaram famílias de potenciais noivos, optaram por uma (dentro da casta deles...mesmo que o casamento entre castas seja costume indiano herdado dos hindus, inclusive anti-islâmico, a família DELE costuma observar o critério, uma vez que os membros julgam que criação, tradições e crenças semelhantes facilitam o convívio e harmonizam o casal...sabedoria ou preconceito? Não sei, mas certamente mais um desafio pra gente...), e lá foi o Hathi e sua Mama Jee concretizar o “negócio” (porque sim, tudo é friamente calculado...não que aqui muitas vezes também não seja assim).

         Noivado efetivado, começaram os preparativos para o casório. Como amiga, soube do passo-a-passo. Pintar e reformar a casa, compras e mais compras, de roupas, joias, presentes... e móveis. Foi aí que todo o stress atingiu o ápice. Depois do “contrato fechado”, Hathi e sua Ami, e também a noiva, começaram a estranhar algumas atitudes do noivo e sua família. Esses últimos começaram a apresentar uma série de exigências, alterando unilateralmente o contrato, entre as quais ampliação do número de convidados nas festas patrocinadas pela família da noiva, redução do dote oferecido pelo noivo à noiva, o que, a contragosto ia sendo aceito pelo Hathi e sua mãe, em benefício da manutenção do noivado da guria. Até que, às vésperas do evento, após uma crise entre as famílias, quando os pais do noivo anunciaram que não entregariam de imediato as jóias à noiva, só após cumprido determinado período de casamento, foi o Hathi à casa do noivo fazer a entrega dos móveis que guarneceriam o quarto do casal (essa também uma obrigação da família da noiva). Qual não foi sua surpresa quando a futura sogra, ao observar os móveis, começou a criticar abertamente a estética e a qualidade dos mesmos... foi a gota d´água! Absolutamente surtado, meu Hathi que é incapaz de se irritar com um mosquito persistente, mandou na hora os entregadores darem meia volta e recolher os móveis, foi pra casa, conversou com a mãe e a irmã, e com o apoio das duas, rompeu o noivado. Disse-me ele que na hora só pensava no desespero que seria para a irmã aguentar aquelas pessoas pelo resto da vida. Consequências: prejuízos materiais, já que boa parte da festa e obrigações relativas a esta já haviam sido pagas, e morais, para a família, já que o rompimento de um noivado é algo altamente comprometedor que pode implicar em radical diminuição das chances de uma mulher se casar no Paquistão (O porquê só Allah sabe! aff). Enfim, o ato contínuo foi a família toda (agora tios e tias) se transtornar com o ocorrido e o culpar dizendo que ele havia condenado a irmã se não à solteirice, a um casamento com um divorciado (única opção à solteirice que a parentada achou que restaria).

         Eu sinceramente não tenho certeza sobre o que a guria achava, mas antes encalhada que mal amada, tenho muita pena de mulher que faz o estilo “não sou feliz, mas tenho marido”. Aparentemente ela também pensa assim, porque, segundo o Hathi, em momento nenhum ela recuou ou se mostrou contrariada em relação ao ocorrido, e o fato só serviu para aproximar ainda mais os irmãos. 

         A confirmação de que ele havia tomado a decisão certa veio anos depois, quando ela não só encontrou um novo futuro marido, de credenciais beeemm melhores que o anterior, e de família cuja docilidade até hoje o Hathi comenta.

         Sorte dela, sorte deles! Azar nosso! Azar nosso porque com o casamento da irmã, a realidade bateu à porta... a mãe, viúva, passou a ser responsabilidade única e exclusiva do Hathi, que por ocasião do casamento teve que recusar a possibilidade de trabalho em Dubai, onde nos encontraríamos e planejaríamos o nosso “felizes para sempre” (sim, vencida pelo cansaço eu já havia a essa altura entendido que as alternativas para ficar com ele eram casar ou casar).

continua na próxima quinzena...

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