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C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / S E T E M B R O /
2 0 1 3
Quinze
anos
Por Tom Coelho
(*)
“Há vários motivos para não se
amar uma pessoa.
E um só para amá-la.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Há uma
queixa recorrente e consensual entre as mulheres. Atualmente, está se tornando
uma missão quase impossível encontrar um homem que reúna características como
cavalheirismo, inteligência e intelectualidade aos atributos de um autêntico
Don Juan,
tais como masculinidade, sensualidade e beleza física. Tudo o que elas querem é
alguém capaz de tirar-lhes o fôlego, surpreendê-las, fazê-las perder a
racionalidade, mas que depois as traga de volta ao plano terreno, à objetividade
e pragmatismo necessários, sem deixar esvair o encantamento.
Há também um consenso entre os homens. Nos dias de hoje, há mulheres para se
“curtir” e mulheres para se namorar – e raramente são as mesmas. A expressão
usual assemelha-se a: “Uma garota como essa não se encontra por aí... Cuide
bem dela, mantenha este relacionamento. Enquanto isso, aproveite para se
divertir com as mulheres erradas”.
Entre um universo e outro, o que os une é a solidão. Mulheres de um lado, homens
de outro, compartilhando a vida com amigas e amigos, à espera de serem “tirados
para dançar”. Parece que a sociedade moderna nos robotizou, tornou-nos tão
mecânicos que perdemos a capacidade de nos apaixonar. E, mais ainda, de amar.
Construímos um muro em nosso redor com tijolos de intolerância. Ficamos tão
seletivos que terminamos sós.
Amar é olhar para outra pessoa e, mais do que admirá-la, contemplá-la,
observando seus traços, feições e movimentos desejando jamais perder este
encantamento nem por um milésimo de segundo, negando-se até mesmo a piscar. É
ver a imagem da pessoa amada refletida em
outdoors,
estampada no rosto de personagens da televisão. É ter uma música em comum que
marca uma ocasião especial ou que se tornou importante por representar memórias
de um momento. Lembro-me de Mário Quintana: “Amar é mudar a alma de casa”.
Amar é dialogar, o que significa falar, mas também saber ouvir. Ter a
sensibilidade para perceber quando o outro precisa apenas dizer tudo e de todas
as formas, muitas vezes sem a preocupação de que você esteja ouvindo. Basta sua
presença. Olhos que sinalizam atenção, silêncio que pronuncia respeito.
Acolhimento, conforto, generosidade. Dar como alimento o carinho.
Amar é descoberta. É desvendar sem pressa o passado de quem se gosta, não pela
neurose de uma investigação, mas pelo prazer de apreciar aquela história, como
quem ouve um pequeno conto infantil ditado pelos pais ao lado da cama.
Amar é tolerância, é concessão. Não significa mudar nem exigir que se mude, mas
estar disposto a se adaptar e esperar reciprocidade nessa atitude. Ajustar
expectativas, alinhar propósitos. É caminhar lado a lado, olhando unidos na
mesma direção, ainda que com visão periférica apurada. Maiakovski pontuou com
precisão: “Amar não é aceitar tudo. Aliás, onde tudo é aceito, desconfio que
haja falta de amor”.
Amar é transparência, é dizer o que se pensa, sabendo a hora de falar. É não
praticar a omissão, achando ser possível empurrar conflitos para debaixo do
tapete até que um dia o vento espalhe tudo, maculando o que foi construído.
Transparência que gera credibilidade, que leva à confidencialidade, que conduz à
lealdade. A lealdade que surge não como um dever, mas como resultado da
satisfação do exercício da plenitude, de sentir-se completo.
Amar é tocar. É beijo que acelera o pulso. Sexo com longas preliminares e
aconchego posterior. Dormir abraçado, acordar junto. Filme com pipoca, chuva
romântica do lado de fora. Cuidar e ser cuidado. Promessas insanas de juras
eternas; a eternidade que se perde em um instante. É dividir a liberdade.
Amar é superar adversidades, enfrentar o desafio da geografia que, às vezes,
distancia fisicamente dois corações. É sentir a saudade como fruto da partida.
Amar é intensidade, é compreender a impermanência do tempo, sua relatividade.
Significa rasgar os estúpidos calendários, quebrar os imponentes relógios e
compreender que o tempo tem outra dimensão. É preferível um amor intenso de 48
horas a uma vida insípida compartilhada por uma década.
Amar é se mostrar um grande espelho e permitir que o outro possa mirar-se em
você. Ver a si próprio enxergando aquilo que é mais virtuoso, mais nobre. É
perceber de maneira perfeita uma pessoa imperfeita. É buscar o equilíbrio, tomar
cuidado com a ansiedade, a angústia, a incompreensão e as cobranças. É ter a
coragem de também sofrer.
Amar é tudo isso e um pouco mais. Ação que não se descreve, mas que se pratica.
Coisas que sabíamos fazer quando adolescentes, aos 15 anos, quando éramos mais
intrépidos, menos racionais e, por isso, capazes de sermos mais felizes.
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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