Área Cultural | Área Técnica |
Ciência
e Tecnologia
- Colunistas
- Cultura e Lazer |
Aviação
Comercial -
Chat
- Downloads
- Economia |
Página Principal |
C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / M A I O /
2 0 1 4
A
Lei de Felipe
Por Tom Coelho
(*)
"O Brasil é uma nação de espertos que,
reunidos, formam uma multidão de idiotas."
(Gilberto Dimenstein)
Já que estamos em ano de Copa do Mundo, vamos
resgatar o tricampeonato do Brasil, conquistado em 1970. Na ocasião, além de
Pelé, outros personagens ficaram consagrados, entre eles Gérson, chamado de
“canhotinha de ouro” em virtude de sua habilidade singular em fazer lançamentos
precisos de mais de quarenta metros de distância, dando assistências a seus
companheiros.
Em 1976, Gérson protagonizou uma campanha publicitária histórica para a marca de
cigarros Vila Rica, de propriedade da J. Reynolds, na qual, após desfilar os
diferenciais do produto, decretava: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?
Leve vantagem você também”. Assim nasceu a “Lei de Gérson”, que passou a
designar a natureza utilitarista e pouco ética do brasileiro. Este princípio
marcou por cerca de três décadas a personalidade de toda uma nação, tatuando na
identidade tupiniquim a alcunha de “país do jeitinho”.
Vamos dar um salto no tempo para 2014. No dia 13 de abril, o Flamengo disputava
a final do campeonato carioca contra o Vasco da Gama. O time rubro-negro jogava
por um empate, mas perdia a partida até os 45 minutos do segundo tempo, quando
igualou o placar com um gol irregular, em posição de impedimento, validado pelo
árbitro e seus bandeirinhas. Não houve tempo para reação do adversário e o
Flamengo levantou a taça para delírio de sua torcida.
Ao término do jogo, o goleiro campeão, Felipe, debochou da equipe rival:
“Estava impedido, né? Roubado é mais gostoso!”.
Um procurador denunciou Felipe nos artigos 258 (assumir conduta contrária à
disciplina esportiva), 243-D (incitar publicamente o ódio ou a violência) e
243-F (ofender alguém em sua honra) do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).
Contudo, o atleta foi lamentavelmente absolvido.
Perdeu-se, assim, uma oportunidade ímpar de se inaugurar, talvez, uma nova fase
na cultura ética deste país. Afinal, se o Brasil é o país do futebol, seria
exemplar começar pelos gramados a se difundir a mensagem de que existe o certo e
o errado, e que o certo deve prevalecer. Felipe poderia ter sido suspenso de
suas atividades por até 720 dias. Ainda que a pena fosse inferior a isso, seria
um indicativo de que não estamos em um país sem lei e sem escrúpulos, onde a lei
é uma mera formalidade num pedaço de papel.
Felipe representa não apenas a malandragem dos
boleiros. Ele simboliza as falcatruas que se perpetuam pelo poder público, os
favorecimentos típicos do ambiente político, as propinas que circulam em
empresas privadas. Felipe é o carro que invade o acostamento, o
motorista que inadvertidamente estaciona em vagas destinadas a idosos ou pessoas
com deficiência, o espertinho que fura fila no ponto de ônibus.
Um procurador ingressou com recurso contra a decisão. Caso seja mantida a
absolvição, fica decretada a promulgação da “Lei de Felipe”, segundo a qual,
mais do que levar vantagem, o bom mesmo é obtê-la da maneira mas torpe possível:
a partir do roubo.
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
MATÉRIA AUTORIZADA
EXPRESSAMENTE PELO SEU AUTOR
OS DIREITOS AUTORAIS DESSE TEXTO ESTÃO RESERVADOS AO SEU AUTOR
FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI