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C O M P O R T
A M E N T O
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Bandeiras
da intolerância
Por Tom Coelho
(*)
"Não sou a favor nem do judeu, nem do muçulmano,
porque acho que só existe uma raça: a raça humana."
(Georges Bourdoukan)
Os atos de racismo contra o jogador Arouca e o
árbitro Márcio Chagas da Silva. O iminente conflito bélico entre Rússia e
Ucrânia. As recentes manifestações públicas permeadas pela violência.
Abra o jornal, folheie uma revista, ligue a TV. Observe como poucas são as
notícias veiculadas que podemos apreciar. Os informativos, todos eles, têm como
matéria-prima a desgraça. Ora são as guerras, ora os conflitos políticos, ora as
mazelas econômicas. A fome, o frio, o fogo na mata adentro – os quais não deixam
de ser outras formas de guerra.
Tiroteio entre facções que disputam a hegemonia em
regiões desprovidas de lei. A droga que grassa e viceja, invadindo escolas,
bares e lares, atingindo não apenas adultos e adolescentes, mas até mesmo
crianças. Uma arma de fogo que dispara acidentalmente, um garoto que chacina sua
própria família ou um grupo de colegas da escola. Filhos que matam pais, pais
que violentam filhas, filhas que se prostituem. Governos que desdenham da
miséria e que lutam apenas pelo poder como fim absoluto de sua vaidade e
ganância.
Mesmo onde se poderia imaginar prazer, encontramos o negativismo. O caderno de
esportes relata a contusão de um atleta, exalta a suspensão de outro flagrado
num exame antidoping, anuncia em polvorosa a demissão sumária de um
técnico. No caderno de cultura, críticas ganham mais espaço do que elogios.
Não sei de onde vem este apego, este quase
encantamento do ser humano para com o que é menor e não o eleva. Talvez seja uma
espécie de indulgência às nossas próprias fraquezas. É como se, para nos
sentirmos melhor, fosse necessário que os outros se mostrassem piores do que
nós. Parece que a gente não busca se melhorar, mas sim diminuir os outros...
Vivemos tempos de amargura, tempos de desamor, tempos de intolerância. Compomos
as nossas teias, os nossos círculos fechados de relacionamentos e de amizades. E
carregamos bandeiras diferentes. Não são mais apenas bandeiras representando
nações, pois a luta transcende o plano territorial e a supremacia.
Carregamos bandeiras de religiões sem perceber que, independentemente de qual
seja a crença, o fundamental é a fé que se pratica. Religiões afastam as
pessoas, enquanto a espiritualidade as aproxima.
Carregamos bandeiras diferentes nos estádios de futebol, e quando poderíamos
apenas e tão somente comemorar a magia do espetáculo, fazemos de estandartes
armas que ferem; fazemos da provocação animada e prazerosa concertos e odes para
a ira coletiva.
Carregamos bandeiras pessoais, as bandeiras
segregacionistas. Ora são os negros, ora os índios, ora os homossexuais, cada
qual se colocando numa posição inferior, chamando a si próprios de minorias,
buscando através do julgamento diferenciado o tratamento equânime. Querem a
igualdade, mas a perseguem a partir da diferença. E muitas vezes acabam colhendo
apenas a indiferença.
A palavra “intolerância” diz muita coisa. Ela remete à incapacidade de tolerar,
ou seja, de aceitar, de permitir, de escutar, de respeitar, mesmo que
discordando. De tanto ostentar bandeiras, negligenciamos nossa própria
liberdade, colocando-a em segundo plano, esquecendo o prazer de contemplar e de
amar a vida.
Mastros no chão, ao cruzar para o outro lado de um rio, ao atravessar uma ponte
ou mesmo uma linha ou um marco imaginário, encontraremos alguém igual a nós, com
as mesmas dúvidas, as mesmas incertezas e os mesmos desejos de respostas que
povoam nossas mentes e nossos corações sem bandeiras.
PS: Exceção feita ao primeiro parágrafo, este texto é integralmente o
mesmo que publiquei originalmente em 04 de novembro de
2005 (16 de novembro de 2005, no Portal Brasil).
Portanto, quase uma década depois, infelizmente não é necessário alterar uma
única linha em seu conteúdo para mantê-lo coerentemente atual...
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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