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C O M P O R T
A M E N T O
1 6 / S E T E M B R O /
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Maratona
da vida
Por Tom Coelho
(*)
Brasil, qual é o teu negócio?"
(Cazuza)
cena é velha conhecida de todos nós. O semáforo
fecha, os carros param e uma pessoa, jovem ou idosa, circula pelo corredor
formado por entre os veículos depositando objetos de toda ordem sobre o espelho
retrovisor: balas, canetas, flanelas, adesivos. Enfim, qualquer coisa que possa
receber o valor de um ou dois reais estampado num pedaço de papel xerocopiado
com mensagens como “estou desempregado”, “garantir o sustento de minha família”
e “Deus lhe abençoe”.
Dia destes flagrei-me conversando com meu lado mais cartesiano, aquele que
sublima a matemática existente por trás das notas musicais e da geometria das
construções. Os números, quando não manipulados, mentem jamais. O cálculo
dispensou uso de máquina: observei um garoto percorrer dez veículos.
Considerando-se uma extensão média de dois metros e meio por automóvel (seu
comprimento acrescido da distância mantida para o carro seguinte), temos um
total percorrido em torno de 25 metros. Porém, o jovem caminhava, a cada
semáforo fechado, quatro vezes esta distância para distribuir, retornar,
recolher e reposicionar-se no ponto de partida. Ou seja, cem metros por semáforo
fechado. Tomando-se um intervalo de dois minutos entre paradas, o trajeto era
cumprido trinta vezes em uma hora. Fazendo-o por seis horas ao longo do dia,
temos a surpreendente marca de 18 quilômetros diários. Uma meia maratona!
Sem preciosismos, podemos julgar o garoto do exemplo acima muito lépido e arguir
que, na verdade, o total percorrido seria metade do exposto. Continuamos com
nove quilômetros diários, sob sol e chuva, descaso e arrogância, medo e
intolerância.
Este é um exemplo cristalino da economia informal que toma conta deste país. Há
toda uma indústria paralela por trás desta mendicância: do fornecedor de balas,
canetas, flanelas e adesivos, ao fornecedor do papel xerografado e da embalagem
plástica que compõe o tal kit.
É evidente que sempre haverá quem alegue que tais pessoas gostam de exercer esta
“profissão”, que na verdade não querem procurar um “emprego” legítimo. Ainda que
isso seja um fato, em meu entender não generalizado, a resposta a asserções
deste gênero fica estampada em eventos como um
concurso público realizado tempos atrás no Rio para seleção de 1.400 garis, que
atraiu 110 mil inscritos, entre eles 22 mestres e 45 doutores, para
auferir uma remuneração da ordem de dois salários mínimos.
Diante deste quadro, pode parecer contestação filosófica ou bravata
pseudointelectual, mas não há como deixar de se questionar: Que diabos de país
nós estamos construindo?
Continuamos sob a retórica do “Brasil, país do futuro”, assolados pelo atraso
socioeconômico quando comparados a outras nações. O crescimento da classe C e
seu acesso a bens de consumo, consequência do controle da inflação, dos
instrumentos de crédito, das políticas de transferência de renda e do bônus
demográfico, é um modelo que se esgota.
A iniciativa privada não tem mais fôlego para, com uma carga tributária superior
a 35% do PIB, executar ações que cabem ao Governo. São as pequenas e médias
empresas que sustentam este país e que de forma assistencialista procuram
conceder benefícios aos seus funcionários e adotar entidades por uma questão de
ética e responsabilidade social. Alguns dirigentes são maçons, outros
rotarianos, outros contribuem em suas igrejas. Fazem o que o Estado não faz –
mas deveria. Gastam-se bilhões com juros e com uma série de outras contas, mas
recursos não são canalizados para incentivar a produção e aumentar a
competitividade por meio da desoneração fiscal, de investimentos em
infraestrutura e de redução da burocracia.
Não tenho respostas. Pensei que as tivesse. Também não fiz a chuva grossa. Estou
apenas atrás do melhor guarda-chuva. E não apenas para mim...
(*)
Tom
Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011),
“Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”
(Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
[email protected].
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
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