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- CINEMA -
(Crítica - Março/2002)

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Dicas da semana:
(Período de 29/03-05/04/2002)

O Amor é cego (Shallow Hall, Bobby e Peter Farrelly, 2001) - Um homem é hipnotizado por seu terapeuta e acaba por só ver a beleza interior das pessoas e acaba se apaixonando por uma mulher de mais de duzentos quilos. Um roteiro singelo que ganha contornos interessantes graças aos talentos envolvidos nele.

            Seja pelo talento de Jack Black, cada vez melhor como comediante, ou na beleza com certo talento de Gwyneth Paltrow que conseguem levar com bastante humor um roteiro leve e fazer verossímil sua trama absurda.

            Os diretores, os Irmãos Farrelly, parecem mais calmos no uso da escatologia, mas nem por isso menos debochados e ousados em lidar com questões tabus na sociedade politicamente correta americana.

            Algumas piadas podem ofender humores mais refinados ou mais sensíveis, mas é impossível ficar indiferente ao filme, ainda que seja para odiá-lo, mas com uma dose de bom humor pode ser uma grande diversão e a chance de se dar boas risadas.

Cotação: ***


O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, Nanni Moretti, 2001, Itália) - A morte de um filho demolindo uma alegre família italiana chefiada por Nanni Moretti, os desdobramentos e o conjunto de reminiscências, dores e culpas geradas pela falta desse alguém que completava aquela família e que não conseguiria mais seguir o ritmo de vida normal.

            Um filme que a princípio parece depressivo, mas que o olhar melancólico de Moretti empresta um tom dramático que sem mantém num nível acima da depressão, chega a ser alegre em algumas passagens, um certa nostalgia agridoce.

            Moretti sai de seu viés crítico e embarca com tudo nessa aventura sentimental e consegue chegar a bom termo, tanto que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, embora não seja excepcional,  promove o encontro com um bom cinema.

            Um bom filme à moda antiga feita por realizador moderno de tendência esquerdista e famoso pelo tom de crônica, mas que mostra que todos tem direito a uma boa dose de sentimentalismo em cada encarnação ainda que seja num filme.

Cotação: *** ½ 
                                                                                                                                                        Lourival Sobral


Resultados do Oscar 2002
(Divulgado em 25.03.2002)

Melhor Filme:
Uma Mente Brilhante
Melhor Diretor:
Ron Howard, de Uma Mente Brilhante
Melhor Ator:
Denzel Washington, de Dia de Treinamento
Melhor Atriz:
Halle Berry, por A Última Ceia
Melhor Filme Estrangeiro:
Terra de Ninguém, da Bósnia
Melhor Roteiro Original:
Assassinato em Gosford Park
Melhor Roteiro Adaptado:
Uma Mente Brilhante
Melhor Canção Original:
Randy Newman, por If I Didn't Have You, de Monstros S.A.
Melhor Curta-Metragem de Animação:
For the Birds
Melhor Curta-Metragem:
The Accountant
Melhor Trilha Sonora:
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Melhores Efeitos Especiais:
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Melhor Ator Coadjuvante:
Jim Broadbent, de Iris
Melhor atriz Coadjuvante:
Jennifer Connelly, de Uma Mente Brilhante
Melhor Edição de Som:
Pearl Harbor
Melhor Som:
Falcão Negro em Perigo
Melhor Animação:
Shrek
Melhor Direção de Arte:
Moulin Rouge - Amor em Vermelho
Melhor documentário curta-metragem:
Thoth
Melhor documentário:
Murder on a Sunday Morning
Melhor fotografia:
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Melhor figurino:
Moulin Rouge - Amor em Vermelho
Melhor maquiagem:
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Melhor montagem:
Falcão Negro em Perigo

 


Dicas da semana:
(Período de 22/03-29/03/2002)

Assassinato em Gosford Park (Gosford Park, Robert Altman, 2001) - Robert Altman é um dos últimos autores do cinema ainda em atividade, sua obra é ampla se espalha em quase todos os tipos de trama, usufruindo de um humor cáustico que impregna todos seus trabalhos que nunca são medíocres ainda quando não conseguem o alcançar o que sua mente pensou.

De quando em vez, Altman nos proporciona uma obra prima e esse “Assassinato em Gosford Park” é o seu primeiro grande momento no século 21, ainda que não tenha o nível de “Nashville” e “Short Cuts”, mas um espetáculo cinematográfico poucas vezes encontrado hoje em dia.

Um nobre inglês reúne comensais para uma caçada e acontece um assassinato, todos são suspeitos, todos o odeiam. Essa trama digna de Agatha Christie podia se restringir a solucionar o mistério, naquelas cenas em que se abrem as feridas e disso aparece a verdade.

Altman abusa dos clichês para em seguida subvertê-los com enorme talento, arma uma trama complexa para depois desarmá-la e quase decepciona o público e acaba por transformar sua trama policial numa degustação rara dos tipos que habitam o romance  policial inglês.

O roteiro e direção de Altman são perfeitos em ritmo e desenrolar na trama e se amparam numa produção extremamente caprichada que reforçam as qualidades do filme, cenografia estilizada e competente, música e figurinos equilibrados.

O elenco recheado de atores ingleses é, via de regra, destaques para as divas inglesas Helen Mirren, Emily Watson e, especialmente Maggie Smith que empresta uma luz para sua esnobe falida; os americanos Bob Balaban e até o canastrão Ryan Phillipe conseguem pontuar com elegância sua presença na trama.

Uma trama que flui na tela mostrando que um diretor de mais de 70 anos consegue guardar o frescor que falta a maioria dos jovens formados na indústria cinematográfica. Um presente para o público poder louvar Robert Altman

Cotação: ****

Oscar 2002

No próximo domingo, dia 24 de março, será o dia da entrega do Oscar e nos últimos dias as campanhas em Hollywood chegaram no auge, milhões de dólares gastos e, a maioria dos filmes  já chegou ao Brasil.

Previsões para a Noite do Oscar:

Melhor Filme:
Provável Vencedor: Uma Mente Brilhante - concorre cabeça a cabeça com O Senhor dos Anéis, pequena chance para Moulin Rouge
Merecia Vencer: O Senhor dos Anéis - o melhor dos cinco, conseguiu unir a ficção e profundidade da obra de Tolkien

Melhor Ator:
Provável Vencedor: Russell Crowe (Uma mente brilhante) - Denzel Washington (Dia de Treinamento) com o apoio de Julia Roberts é uma seríssima ameaça, mas o prêmio do Screen Actors parece garantir a vitória de Crowe
Merecia Vencer: Russel Crowe - apenas dois atores conseguiram chegar perto de sua performance Tom Wilkinson (Entre Quatro Paredes) e o não indicado Billy Bob Thornton

Melhor Atriz: Sissy Spacek (Entre Quatro Paredes) - Parecia invencível, mas o prêmio para Halle Berry (Monster’s Ball) quebrou esse favoritismo
Merecia Vencer: Halle Berry (Monster’s Ball) seu filme é ruim, mas sua performance é digna de nota

Melhor Ator Coadjuvante: Ian Mckellen (O Senhor dos Anéis) - A Academia vai se redimir por ter dado seu prêmio em “Deuses e Monstros” para o clown Roberto Begnini
Merecia Vencer: Jim Broabent num ano brilhante com 3 filmes (Iris, Moulin Rouge e O Diário de Bridget Jones)

Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Connelly (Uma Mente Brilhante) - brilhantemente burocrática. Helen Mirren (Gosford Park) tem alguma chance
Merecia vencer: Maggie Smith (Gosford Park) - um trabalho milimétrico de composição

Melhor Diretor: Robert Altman (Gosford Park) o fato de concorrer com diretores inexpressivos pode lhe dar o primeiro Oscar. Não se pode desprezar as chances de Ron Howard (Uma mente brilhante) e Peter Jackson (O senhor dos Anéis)

Filme Estrangeiro: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (França) - um sucesso de bilheteria, um filme leve para todos os gostos
Merecia Vencer: Terra de Ninguém (Bósnia) - Um filme contundente e bem realizado.
                                                                                                                                                       Lourival Sobral         


Dicas da semana:
(Período de 16/03-22/03/2002)

Entre Quatro Paredes ( In The Bedroom, 2001, Todd Field) - As cidadezinhas americanas costumam viver uma realidade toda própria como se não fizessem parte do mundo, as coisas acontecem e repercutem internamente guardando uma similitude e uma estranheza escondidas numa aura de paz e bom convívio entre vizinhos que, provavelmente, se conhecem desde há muito tempo.

            “Entre Quatro Paredes” revela um pouco essa realidade, explora as relações entre vizinhos e amigos de anos que mantém uma cumplicidade fraternal dentro de sua realidade quase minimalista. O filme ainda questiona as restritas ambições dos jovens que habitam nessas cidadezinhas e silêncio que acaba por existir em um casal perfeitamente harmonizado.

            Professora de canto, Ruth Fowler (Sissy Spacek) não vê com bons olhos o relacionamento de seu filho Frank (Nick Stahl) com Natalie (Marisa Tomei), moça com dois filhos em processo de separação com um dos herdeiros da indústria pesqueira, base da economia da cidadezinha e ocupação de boa parte da população masculina.

            O conflito existente na difícil convivência entre Natalie e seu ex-marido (William Mapother) que deseja a todo custo reconquistá-la, acaba por levar ao assassinato de Frank que em defesa de sua amada, acaba morrendo.

            Matt Fowler (Tom Wilkinson) é um respeitável médico que tinha em seu filho uma idéia libertária de juventude e após sua morte reencontra no silêncio do seu casamento a angústia que dá título ao filme. Ele tenta buscar na racionalidade as forças para seguir vivendo só revelando seu sofrimento em pequenos gestos quase simbólicos confrontados com a tristeza explícita que estampa o rosto de sua esposa Ruth que extravasa em cada gesto sua dor.

            A crise do casal se revela maior quando usando do poder de sua família e detalhes que jurídicos que lhe proporcionam liberdade provisória e a possibilidade de uma pena muito abaixo do que os pais do jovem assassinado desejariam. O casal começa a colocar para fora do armários seus fantasmas em relação ao filho e sua dor de encontrar o assassino a cada esquina.

            O filme se desenrola no silêncio, o tempo teatral também é bem marcante, flui com alguma dificuldade e o diretor Todd Field não nega sua origem de ator, pois dá todo o poder ao elenco, revelando uma mão flácida em relação a câmera, ainda que tente alguns movimentos rápidos e trabalhar melhor algumas seqüências.

            Marisa Tomei tem em suas poucas cenas, uma correta atuação, consegue unir a esposa sofrida e a sanha adolescente que se renova com o seu jovem namorado, consegue conciliar a dor e a culpa existentes em seu personagem.

            Outra grande atuação é de Sissy Spacek que transforma e borda sua professora mãe de família com uma emoção e domínio interpretativo raro nos dias atuais, emoção pura e explosão de talento, merecedora de todas as premiações que já recebeu por esse personagem.

            O dono do filme, entretanto, é o ator inglês Tom Wilkinson que dá um verdadeiro show , seu silêncio é eloqüente, seu olhar varia de um leque que abana as dores dos amigos e o facão que fura o coração do assassino de seu filho, um dos mais brilhantes trabalhos de ator dos últimos tempos, buscando o essencial da emoção.

            Assistir “Entre Quatro Paredes” é mergulhar na emoção total, numa trama sem grandes complexidades aparentes, o drama sempre está lá antes mesmo que a tragédia que move a trama aconteça, ela está na cidadezinha, nas pessoas daquela cidade esperando acontecer.

Cotação: *** ½

                                                                                                                                                       Lourival Sobral


Dicas da semana:
(Período de 09/03-15/03/2002)

O Fabuloso Destino de Amelie Poulian (Le Fabuleux destin D’Amelie Poulian, 2001, Jean Pierre Jeunet) - O cinema francês quando conseguiu nos fazer rir geralmente apostou na fórmula da comédia ligeira, dada ao riso curto e ao observador atento dos pequenos detalhes que enchiam a tela enquanto se passava uma história apenas banal.

        A tradição de mestres como Jacques Tati sempre esteve em contraste com os dramas pesados regados a longos silêncios que buscavam na eloqüência do nada sua mensagem e, essas duas vertentes, fizeram a cara da cinematografia francesa, imprimiram um ritmo todo próprio.

        “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” narra a história de uma jovem de pouco mais de vinte anos que após fazer uma boa ação resolve ajudar, com mil artifícios, todos a sua volta e nesse caminho acaba encontrando um grande amor.

        A linha do filme é simples e o que o torna interessante são as diversas pequenas histórias que paralelamente correm ao lado da de Amelie, pequenas bizarrices ou simplesmente pequenas reflexões recheadas de humanismo e ironia que impregnam a mente de seus muitos personagens.

        O filme faz uso de todos os recursos digitais, mas sempre os utilizando para reforçar o caráter remissivo de cada uma de suas personagens, criando um país levemente artificial com um pé num passado próximo, gerando uma atmosfera que combina com o tom farsesco que na tela se desenvolve.

        O diretor Jean Pierre Jeunet retorna a França após sua mal sucedida investida americana (Alien Ressurection) sem seu fiel parceiro Marc Caro ( Delicatessen) e realiza um trabalho primoroso, não sucumbindo a todo o artificialismo que impregna a história, equilibrando as matizes de seus filmes.

        O elenco extremamente elegante empresta ao filme um charme indiscutível nas poucas cenas que cada um tem: o brilhante trabalho de Rufus, o pai de Amelie perdido em sua frieza, Isabelle Nanty e Dominique Pinon, o casal engedrado por Amelie e Jamel Debbouze, o jovem árabe que trabalha na quitanda, entre outros

        O protagonista Mathieu Kassovitz (Nino) brilha em seus momentos e consegue ser o interesse romântico de Amelie resvalando no herói épico e com um pé nos anti-heróis dos filmes mais ligeiros da Nouvelle Vague, transmite competentemente o que dele se exige.

        O filme não teria o mesmo brilho sem a jovem Audrey Tatou (Cesar de Atriz Revelação em “Instituto de Beleza: Vênus”) , a jovem atriz com um quê de Audrey Hepburn, transforma em brilho que cada um de seus sorrisos e constrói sua Amelie com uma doçura toda própria e um talento dramático incontestável que se faz presente em cada momento do filme.

        O filme confirma seu sucesso internacional de público e crítica, tornando justas suas 5 indicações ao Oscar e os 4 Cesars que recebeu se tornando o filme de língua francesa de maior bilheteria da história do Estados Unidos.

Cotação: ****

                                                                                                                                                     Lourival Sobral


Dicas da semana:
(Período de 02/03-08/03/2002)

Uma Mente Brilhante ( A Beautiful Mind, Ron Howard, 2001) - As cinebiografias tendem a exagerar e romancear as vidas dos personagens que são objetos das fitas, tendem a extremar suas ações e gradar, positiva ou negativamente, os porquês de terem algo em suas vidas que mereçam tal honraria.

        A história de um vencedor do prêmio Nobel de Economia que passa boa parte da vida sofrendo de esquizofrenia e, que, em seus devaneios envereda por uma trama policial de espionagem em que cria um universo paralelo de que é pivô.

        A vida de John Nash se transforma num épico de superação pessoal e sublimação da sua própria natureza, embalada num ambiente de compreensão pouco crível, mas que consegue delinear um todo bem acabado. A personalidade complexa é reduzida a um espectro que gera um bom filme.

        O elenco é sempre competente, garantindo sempre o melhor de cada sequência, seja Ed Harris, Paul Betthany ou Christopher Plummer todos cumprem a missão de bordar com competência suas cenas e o fazem com perfeição; Jennifer Connelly retira o melhor da esposa do John Nash, cumprindo a risca e com talento o papel de redentora e grande mulher.

        O ponto alto do filme é Russell Crowe que transforma um filme banal em algo mais que isso, uma interpretação extraordinária  - beirando o nível de excelência por Crowe conseguindo em “O Informante” (The Informer) - que conquista e incomoda ao mesmo tempo aproveitando cada boa cena para luzir e reforçar seu trono de grande ator na seara hollywoodiana tão carente do binômio beleza-talento.

        O roteiro se esmera em tornar palatável a experiência de conviver com a esquizofrenia do personagem, mas evita questionar ou tocar em temas muito sensíveis, desaparecem as tendências homossexuais dele, um de seus filhos e até o casamento tumultuado que é pintado em tintas bem diversas do que se tem notícia.

        O diretor operário Ron Howard continua sendo objetivo e profissional, parece não ter algo mais a emprestar aos seus filmes, utiliza bom senso e sua formação de ator para conseguir sinceridade do elenco e utiliza burocraticamente o aparato de blockbuster  que os estúdios lhe oferecem.

        O filme acaba por resultar bem acabado e, se por um lado resiste a pecados históricos que lhe oferecem um quê de polêmico; por outro, peca por superficializar por demais a vida de Nash,  importando menos o homem que suas possíveis alucinações.

Cotação: *** ½ 

Indicações Ao Oscar: Melhor Filme, Diretor, Ator (Crowe), Atriz Coadjuvante (Connelly), Montagem, Trilha Sonora Original, Roteiro Adaptado e uma estranha indicação para Maquiagem.

                                                                                                                                                      Lourival Sobral


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