- CINEMA -
(Crítica - Novembro/2001)
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Dica da semana:
(Período de 24/11-30/11/2001)
Legalmente Loura
(Legally Blonde, 2001, Robert Luketic) - Comédias americanas
destinada ao público jovem geralmente são recheadas de piadas toscas sobre sexo e
trocadilhos infames, provocando gargalhadas mais pelo absurdo de suas proposições do que
pelo conteúdo da piada objeto de tais gargalhadas.
Legalmente
Loura não é uma sublime peça cinematográfica, não tem um roteiro dos mais
preciosos e se apóia numa única piada central as louras podem ser inteligentes
que traz consigo a moral de não julgarmos o livro pela capa ou outros ditos
populares que na situação podem ser encaixados.
O que diferencia esse filme
de seus afins são a visão de que é na história que se baseia o filme, mesmo repetindo
a mesma piada a exaustão, ela está sempre no seu contexto, sem utilizar recursos outros
que não a sua idéia central e, por vezes,
conseguindo boas blagues.
Uma jovem (Reese
Whiterspoon), fútil e loura, vai para a respeitável universidade de Harvard para se
demonstrar a seu ex-namorado que ela pode ser uma pessoa séria, motivo que o
levou a desprezá-la, nesse processo ela exibe toda a sorte de possibilidades de
futilidades e absurdos consumista, mas sempre com uma lógica todo própria.
Num dado momento a tal
mocinha recheada de brilhos e cores acaba por se torna uma brilhante advogada, ainda que
em sua primeira vitória nos tribunais, seu talento jurídico tenha lhe valido menos que
seus conhecimentos de cosmetologia.
O grande trunfo do filme é
a sua protagonista Reese Whiterspoon, uma das melhores jovens comediantes americanas que
tem desempenho excepcional, beirando o nível de excelência por ela alcançado em seu
trabalho na comédia Eleição (Ellection, Alexander Payne, 1999) e tirando
leite de pedra, pois consegue tornar interessante uma história simples dirigida
burocraticamente.
Cotação: ***
LBS
Dicas da
semana:
(Período de 17/11-23/11/2001)
Caramuru A Invenção do Brasil (Guel
Arraes, 2001) - Diogo Álvares, ainda não
chamado Caramuru (Selton Mello) e Paraguaçú (Camila Pitanga) olham os céus de suas
terras na virada do ano de 1500 sem imaginar que aquele ano mudaria o resto de suas vidas.
Essa primeira seqüência do filme Caramuru - A Invenção do Brasil revela
bem a proposta do diretor Guel Arraes e do co-roteirista Jorge Furtado em construir uma
fábula moderna tomando por base a história brasileira.
Os criadores do filme,
primeiro uma série de televisão exibida em 2000 pela Rede Globo, adotam o tom da farsa
tomando uma série de licenças poéticas e históricas, fundindo a tradição da comédia
ligeira francesa com a agilidade da linguagem televisiva dos comerciais.
Não se permite mais que
alguns segundos sem ação, tudo acontece num turbilhão de seqüências que beiram os
esquetes humorísticos, tendo sempre uma ou várias piadas como mote de cada cena, mas que
conseguem um todo que diverte ao final da história.
O elenco explora a veia
humorística sem grandes pudores, engendrando ótimos momentos e enriquecendo o roteiro
que interage perfeitamente bem com o elenco que está acima da média ainda que a
Paraguaçu e Moema (Deborah Secco) não encontrem, por vezes, o tom correto.
Acima da boa média de
atuações e do bom texto e direção, Diogo Vilela (o Náufrago) e, especialmente Tonico
Pereira (Cacique Itaparica) fazem de cada uma de suas cenas momentos de rara apreciação
artística, ainda que, via de regra, suas falas sejam um manjar para um talentoso ator.
A produção é muito boa,
ainda que a fotografia digital e os efeitos especiais intencionalmente canhestros não
sejam exatamente o melhor do que se poderia encontrar na tela grande, mas no todo o filme
se revela um bom trabalho da incipiente máquina cinematográfica brasileira.
Cotação: ***
A Cartada Final (The Score,
Frank Oz, 2001) - A parceria entre um ladrão de
cofres e seu fiel receptador (Robert de Niro e Marlon Brando) está para acabar, quando
acontece a grande oportunidade que resolverá os problemas financeiros do segundo e, dará
um futuro tranqüilo ao lado de sua amada (Angela Bassett), ao primeiro.
O plano inclui um arrojado
e meticuloso jovem escroque (Edward Norton) que vem engendrando o grande golpe há meses e
que demonstra um enorme vocação para o
crime. Eles operacionalizam e executam o grande golpe.
Um roteiro simples, às
antigas, que já foi adotado por inúmeros outros filmes, alguns clássicos, outros menos
importantes, que sempre satisfez platéias ao longo da história do cinema, mas que nesse
caso redunda numa enorme decepção.
O filme é bem produzido,
com locações belíssimas no Canadá, com boa música e um ótimo elenco, mas o roteiro
é tão ruim que parece que o filme não acaba, já que tudo é abrupto ou devagar demais
ao longo da história, com um final para lá de ruim.
Robert de Niro repete a
correta a atuação de seus últimos anos, burocrático e eficiente; Marlon Brando, brinca
de atuar, revela ser sua persona, hoje, maior
que o grande ator que um dia foi, mas é cativante e cumpre seu gangster dândi e
fragilizado com uma riqueza de detalhes que dá saudade do grande ator; Norton, o grande
destaque, resiste ao roteiro com uma composição primorosa que tira leite de pedra nas
poucas cenas em que pode demonstrar talento, reafirma ser o melhor ator americano de sua
geração e justas suas indicações ao Oscar.
Uma ida as salas de cinema
para ver A Cartada Final é uma homenagem a Brando e De Niro e a chance de ver
mais um belo momento de Norton, mas nada mais que isso. Se sairá do cinema com a
impressão que faltou o rolo final, que a historia não teve o seu climax, digno de todo
filme de suspense.
Cotação: **
LBS
Dicas da semana:
(Período de 10/11-16/11/2001)
O Cinema de Michael Haneke - O
cineasta alemão Michael Haneke que é uma das grandes
revelações dos últimos anos do cinema europeu, com carreira sedimentada na televisão
alemã, chegou ao reconhecimento mundial com o filme Violência Gratuita
(Funny Games), reforçada pelos posteriores Código Desconhecido (Code
Inconnu) e A Pianista (Le Pianiste).
Violência Gratuita (Funny Games, Alemanha, 1997) - Um pacata família acolhe em sua bucólica dois jovens que
pretensamente se apresentam como amigos de um casal de vizinhos amigo e que se revelam
dois cruéis psicopatas, numa trama com violência constante e, por vezes, brutal e
estilizada.
Um filme claustrofóbico
que tem seus personagens dissecados por situações limítrofes no limite do incômodo de
quem o assiste, mas embasado num consistente roteiro, em interpretações seguras e no
pulso firme do diretor que não perde a mão um segundo sequer.
O filme acaba por permitir
várias leituras de sua trama, pode-se encará-lo desde o ponto de vista sociológico, a
idéia da dominação pura e simples que já seria suficiente para demonstrar a crueldade
humana, mas essa se mistura com horrores internos fruto dos conflitos sociais que acabam
por se confundir e criar uma amplitude de fatores que influem na trama e no comportamento
de seus personagens.
Uma experiência rara, e
por vezes, incômoda, mas que nunca dá a seu público a possibilidade de não interagir,
refletindo a trama que ainda se revela uma peça primorosa de cinema, oferecendo das
melhores armadilhas de suspense que arte permite.
Cotação: ****
Código Desconhecido (Code
Inconnu, França, 2000) - Se em Violência
Gratuita a crueldade se revela a partir de uma situação claustrofóbica, em
Código Desconhecido ela está presente na mundo, nas mínimas relações
humanas que existem nas grandes cidades e, especialmente, no mundo europeu.
Vários personagens que a
partir de suas experiências e suas percepções de vida revelam em fatos comezinhos, esse
ambiente árido de humanidade que, mesmo quando aparece, revela exatamente a sua
ineficácia na modernidade européia.
Atriz em processo de
trabalho (Juliette Binoche, respaldando o filme) casada com fotógrafo de guerra convive
com insatisfação sentimental e o conhecimento de uma criança que é espancada pelos
pais; seu jovem cunhado, ao tempo que se vê sem percepção de futuro, revela seu
desprezo pelos imigrantes homeless que habitam as ruas; um jovem de origem malifeza,
divaga sobre as possibilidades do imigrante negro realmente se integrar na comunidade.
Essas, outras histórias e
outras seqüências com fatos isolados reforçam os sentimentos de vazio, racismo,
etnocentrismo e falta de solidariedade que se fazem presente e brotam a partir de crises
pessoais ou da própria crise que é o momento mundial.
O diretor continua
segurando a mão, não perdoa, não alisa e não julga, ele se faz pintor de momentos,
seus conceitos são postos e não impostos, visto que o mundo continua rodando no seu
mesmo ritmo. Seu talento, em alguns momentos, realça as tramas, mas nunca supera sua
proposta, um verdadeiro requinte conceitual, revelar esse Código Desconhecido das
relações humanas que funciona e se revela em diversos níveis que se interagem.
Cotação: ****
LBS
Dicas da semana:
(Período de 03/11-09/11/2001)
Os Outros (The Others, Alejandro Amenabar, 2001) - Jovem senhora de valores cristãos rígidos com dois filhos
que sofrem de uma estranha doença de alergia a luz e espera a volta de seu marido da
guerra, contrata novos empregados para substituir os antigos que haviam sumido
misteriosamente e aí fatos estranhos acontecem...
Isso é tudo que pode ser
contado da trama de Os Outros sem que se revele detalhe que estrague o prazer
de assisti-lo, um filme que não sucumbe ao susto fácil, mas se baseia em pistas, em
detalhes que, ao final, se concatenam e fazem um todo harmonioso e dotado de lógica.
O diretor Alejandro
Amenabar, chileno radicado na Espanha, mantém o suspense da trama durante toda a
exibição, explorando a coexistência entre mortos e vivos e as diferenças de
percepção da realidade, fazendo bom uso da fotografia, música e produção em prol de
complementar o roteiro.
O filme oferece a Nicole
Kidman a oportunidade de realizar mais uma grande interpretação. O filme é quase um
solo da atriz, um tour de force do início ao
fim, podendo exibir uma variada gama de emoções que tocam a sua personagem ao longo da
história.
Entrar no jogo de Amenabar
tendo Kidman como a guia através da casa fechada da trama é diversão garantida, sustos
e, principalmente, uma perene sensação de respiração contida pelo clima que o ambiente
nos oferece durante os 100 minutos da trama.
Cotação: ****
Os Queridinhos da América
(Americas Sweethearts, 2001, Joe Roth) -
Os bastidores do cinema sempre foram material para a própria indústria, geraram desde
obras primas como A Malvada a filmes sem a mesma inspiração como esse
Os Queridinhos da América, uma comédia ligeira sem grandes pretensões.
Um produtor inescrupuloso
(Stanley Tucci) convence assessor (Billy Crystal) a reunir as estrelas mais amadas da
América (John Cusack e Catherine Zeta Jones) que, ao se separarem, não se falam e estão
no filme que seria a última esperança do estúdio.
O assessor de imprensa faz
de tudo para promover o evento, utiliza-se das armas e métodos mais imprevisíveis que,
às vezes, beiram o absurdo e consegue manter toda uma entourage de jornalistas no hotel
onde se opera o lançamento do tal filme.
Ao mesmo tempo, a irmã da
atriz (Julia Roberts) acaba por desenvolver sua história de amor com seu ex-cunhado,
dando tintas mais apimentadas à trama, gerando algumas situações e piadas românticas,
contrabalançando o tom satírico da trama.
O roteiro é simplório, a
direção de Joe Roth é burocrática e o elenco cumpre seu trabalho na medida que dele se
exige, mas nada acima do mediano, ideal para quem deseja uma trama ligeira sem maiores
arroubos de criatividade.
Salvam-se algumas boas
piadas, especialmente com Billy Crystal e a ótima participação de Christopher Walken
como o diretor de cinema mordaz e com um pé na insanidade.
Cotação: **
LBS
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