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(Crítica - Abril
/ 2003)
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Dicas da semana:
(Período de 20.04.2003 à
30.04.2003)
Carandiru, de Hector Babenco, 2003 - O Livro do dr. Drauzio Varella “Estação Carandiru” se tornou um recordista de vendagens por sua visão humanista e aguçada do mundo existente dentro do maior complexo penitenciário do mundo ocidental, recheado de estórias reais e impressões que o médico absorvia em sua convivência com tantos presos.
Hector Babenco tomou para si a missão de levá-lo para o cinema, filtrando e fundindo essas estórias tentando transportar o público para dentro do presídio, enfrentando, inclusive, a polêmica invasão quando morreram 111 presos em dezembro de 1992.
O filme traça um perfil de alguns prisioneiros, numa narrativa fracionada que, aos poucos, construindo um painel do presídio, bem como passar a sensação de que tudo estava sempre pronto a explodir, bastando apenas que houvesse quem acendesse o fogo.
O filme vai passando na tela deixando um gosto amargo na boca, cada personagem se aproxima muito do “outro” que vemos na rua, toda a violência e as regras de convivência existentes acabam por parecer menos distante do que gostaríamos e isso incomoda.
O elenco, com alguns pequenos erros, é todo de bom para cima e destaca-se as impressionantes participações de Wagner Moura (“Deus é Brasileiro”, vivendo “Zico”, o traficante apaixonado por sua irmã de criação); Milhem Cortez, o “Peixeira”, matador por formação; e, Milton Gonçalves, como “Seu Chico”, o preso que espera reencontrar sua família.
Babenco segue sua linha de trabalho, domina a técnica e dosa cada história com a dose de emoção necessária e, se talvez pareça um tanto distante do objeto do seu filme, consegue um filme impactante, imperfeito na medida em que busca expor cicatrizes e o resultado reflete essa busca: o filme não fecha, o presídio é que é fechado.
Um belo filme que cumpre a missão difícil que se propõe, arrisca em mostrar um painel de relações humanas, não julgando ou condenando seus personagens, é a vida que segue ao lado da maioria das pessoas e que não percebemos, pois a julgamos distante demais.
Cotação: ****
Lourival Sobral
Dicas da semana:
(Período de 12.04.2003 à
19.04.2003)
Recém-Casados (Just Married), de Shawn Levy, 2002 - Um casal que aparentemente não combina, a oposição dos pais dela, uma viagem tumultuada de lua-de-mel, uma série de confusões que se sucedem, esses são os elementos do filme “Recém- Casados”, uma comédia que realmente consegue divertir em momentos.
Juntar um dos protagonistas do clássico trash “Cara, Cadê Meu Carro?” (Ashton Kuchtner) e uma estrela de terceira linha (Brittany Murphy de “As Patricinhas de Beverly Hills), não parecia ser a melhor das receitas, mas o dois atores conseguem uma química interessante que chega ao público.
O roteiro, recheado de piadas mais ou menos chulas, é coerente com a proposta do filme e consegue construir um filme leve e sabe fazer uso dos simpáticos atores, sabendo brincar com a idéia de que os americanos na Europa acabam vivendo um imenso choque cultural.
Uma produção simples que busca a diversão rápida e consegue alguma empatia e uma razoável dose de humor. Um daqueles filmes que tendem a virar clássico da sessão da tarde televisiva, na medida para ser revisto várias vezes.
Cotação: ** ½
A Máfia Volta ao Divã (Analyze That), de Harold Ramis, 2002 - “Máfia no Divã” (Analyze This) foi um filme de sucesso calcado no carisma de Robert de Niro, Billy Crystal e Lisa Kudrow e num roteiro interessante, embalado no sucesso da série televisiva “The Sopranos” e que tinha um texto bem escrito e azeitado na medida que uma idéia original pode trazer.
A continuação recém estreada parece comida requentada, que o faz o que antes era motivo de riso, agora leva ao humor involuntário, gerando a impressão que os atores parecem carregar o mundo sobre seus ombros, ao tentarem levar a cabo a missão de fazer o filme.
O mafioso de De Niro sai da prisão e necessita da assistência do seu psiquiatra Crystal, gerando os mesmos embates do primeiro filme, mas sem o humor fresco que fazia do primeiro filme um interessante embate dos seus protagonistas, ainda que com pecadilhos quanto a algumas piadas mais pesadas e o defeito de quase todos os filmes com base numa piada só: a conclusão equivocada .
Harold Ramis (Caça Fantasmas) não consegue impedir que seu novo filme seja mais que um caça-níqueis que busca dos fãs do primeiro filme uma sensação deja vu que verdadeiramente não se repete, dada a diferença de qualidade, humor e inteligência dos dois filmes.
Cotação: * 1/2
Lourival Sobral
Dicas da semana:
(Período de 05.04.2003 à 12.04.2003)
Frida, de Julie Taymor, 2002 - O projeto da vida da atriz Salma Hayek que, após alguns anos de luta e briga com estrelas do porte de Madonna, conseguiu realizar a biografia da artista mexicana Frida Kahlo.
A Frida Kahlo corajosa, transgressora de Hayek beira a figura legendária, não escapando das armadilhas de fazer um filme sobre alguém que se admira, mas que sobrevive bem ao contexto histórico que recebeu Frida neste mundo.
Hayek empresta coração a sua Frida, demonstra o talento dos seus tempos de atriz no México (em especial no belo “O Beco dos Milagres”) e transita pelas fases da vida da pintora com extrema desenvoltura. Um trabalho único de quem tinha o filme como profissão de fé.
O grande destaque do filme é o experimentado ator Alfred Molina (“Chocolate”) que se transforma em Diego Rivera e toma tanto em tamanho como em talento grada fração de fotograma em que sua figura aparece, realçando o contraste com a figura corporal frágil de Frida.
A diretora Julie Taymor havia estreado com uma pouco vista adaptação shakespeareana “Titus” (com o melhor desempenho das carreiras de Anthony Hopkins e Jessica Lange), veste a causa de Hayek e realiza um filme intenso, um tanto quanto tradicional, mas com um trabalho de produção cuidadosíssimo e minucioso, tornando o filme belo acima de tudo.
O filme tem roteiro sem grandes vôos, mas que usa bem os recursos humanos e técnicos para se agigantar e se serve de forma correta do universo de cores e imagens que o casal Frida/Rivera legou ao mundo, embalado por uma trilha contagiante e bela (vencedora do Oscar) e vale a nota da canção, também indicada ao prêmio americano “Burn it Blues” cantada pelo duo Caetano Veloso e a cantora mexicana Lila Downs.
Um filme tradicional mas que toma emprestado sentimentos como liberdade, latinidade, um que de exagero, um apego ao belo, ao excêntrico e que se não fosse a história de uma mulher excepcional, não passaria de uma alegoria barata de paixões banais, mas é Frida e a alma da artista foi estampada em movimentos e sons na tela grande do cinema
Cotação: ***
Lourival Sobral
Dicas da semana:
(Período de 01.04.2003 à
05.04.2003)
Lara, de Ana Maria Magalhães, 2002 - A cinebiografia da musa dos anos 60, Odete Lara, atriz de grande talento e personalidade que enchia de comentários as rodinhas intelectuais do período foi o desafio que a diretora Ana Maria Magalhães tomou para si durante alguns anos de sua vida.
A vida de Odete Lara serve de parâmetro para perceber as mudanças sociais e dos costumes ocorridas durante sua trajetória artística, bem como visitar alguns momentos importantes da produção artística nacional, revelando um filme de grande valor histórico.
O desenvolvimento do roteiro e, em conseqüência, do filme sofre dos efeitos estar lidando com uma personalidade tão próxima, que interferiu na construção e na seqüência da história, mas também são notados os vários problemas de produção que levaram paralisação das filmagens e as rusgas entre diretora e protagonista (a bela Christine Fernandes) que chegou aos tribunais.
O resultado é um filme digno de ser visto, com elenco recheado de interessantes participações, mas que revela uma Odete Lara muito menor do que ela realmente foi e é para a cultura e o cinema nacional, tentando romancear por demais sua história, pecado maior de boa parte das produções biográficas vertidas para o cinema.
Cotação: ** ½
Uma vida em sete dias (Life or Something Like it), de Stephen Herek, 2002 - Angelina Jolie vive uma famosa jornalista de TV que tem sua vida revirada quando um vidente a avisa que teria apenas uma semana de vida fazendo-a repensar posições e opções de vida.
O roteiro, por si só, já seria um clichê, mas contando com uma produção de extremo mau gosto, direção flácida, gosto duvidoso para piadas e uma protagonista que não consegue emprestar um mínimo de verdade ao seu papel, o filme se revela uma aventura para quem o assiste.
Jolie, vencedora da Academia por seu desempenho em “Garota, Interrompida”, parece seguir a sina de alguns outros premiados que demoram a ter outro grande desempenho , como Nicolas Cage, ou jamais confirmaram o reconhecimento a seu talento, vale lembrar o premiado por “Sayonara”, Red Buttons.
Um filme de suspense onde faltam maiores tensões ou uma comédia com toques de suspense que não servem a criar boas risadas, poderiam definir a aventura cinematográfica que será assistir a esse “Uma vida em sete dias”.
Cotação: ½
Lourival Sobral
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