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MERCADO DE RENDA VARIÁVEL
Bolsa de Valores


Recuperação do fôlego dos derivativos exige cautela
Por Fernando Toscano (*) - 17.03.2010

O volume de negócios com derivativos financeiros e de commodities agrícolas já voltou ao nível registrado antes da crise financeira internacional no mercado brasileiro. A média diária de contratos futuros negociados na BM&FBovespa foi de 2,18 milhões em fevereiro, em comparação com 2,17 milhões em março de 2008.

A recuperação dos negócios veio, certamente, acompanhada pela amnésia de operadores e empresas dos problemas passados. Daí a importância das medidas tomadas recentemente pelo governo e das iniciativas do próprio mercado para dar mais transparência a esse tipo de negócio e tentar evitar a repetição das pesadas perdas causadas por operações demasiadamente arriscadas.

Apesar de o comportamento do Brasil durante a crise ter sido elogiado até internacionalmente pela solidez do sistema financeiro e arsenal de medidas anticíclicas, um ponto frágil foi o mercado de derivativos. De acordo com o Banco para Compensações Internacionais (BIS), as perdas do mercado brasileiro com derivativos chegaram a US$ 25 bilhões em 2008. O número nunca foi oficialmente confirmado, embora pelo menos um diretor do Banco Central (BC) à época dos acontecimentos, Mário Torós, tenha afirmado que o prejuízo teria sido menor, US$ 10 bilhões. Ainda assim foi o maior de um país da América Latina - o México ficou em segundo lugar com US$ 4 bilhões.

Basta lembrar que perdas com derivativos tiraram empresas tradicionais do mapa, disparando a fusão da Sadia com a Perdigão e da Aracruz com a Votorantim Celulose. As usinas de açúcar e álcool perderam R$ 4 bilhões com derivativos de câmbio, o que também desencadeou a consolidação do setor.

Para o BIS, o problema do Brasil e do México foi não ter mecanismos de controle nem de transparência nos negócios.

Nos últimos meses, as autoridades tomaram algumas medidas que buscaram atuar na raiz desses problemas. Uma das maiores causas das perdas foram apostas cambiais erradas, na crença de que o real continuaria apreciado, muitas delas embutidas em operações de crédito e feitas no mercado externo, sem registro nos balanços - totalmente fora do radar das autoridades locais.

Por isso, desde o início do ano, as empresas estão obrigadas a registrar em câmaras de liquidação locais as operações com derivativos vinculadas a captações externas. O registro deve incluir os valores e moedas envolvidos, prazos, contrapartes, forma de liquidação e parâmetros utilizados. Com o registro das operações realizadas, as autoridades podem fiscalizar e exigir garantias.

Outra medida importante partiu do próprio mercado, com a criação da Central de Exposição a Derivativos (CED), que começa a funcionar no próximo mês. A CED é uma empresa sem fins lucrativos, controlada pela Federação das Associações de Bancos (Febraban), que vai unir no mesmo sistema as posições da Cetip e da BMF&Bovespa, plataformas que superaram a concorrência para compartilhar informações e permitir aos bancos saber a posição consolidada com derivativos de cada cliente, antes de fechar uma nova transação. Até então, os bancos não tinham esse tipo de informação, abrindo espaço para as empresas fazerem negócios com várias instituições ao mesmo tempo, alavancando posições perigosas. Quando estouraram os problemas com derivativos da Aracruz, por exemplo, descobriu-se que a empresa tinha assumido US$ 10 bilhões em contratos futuros e de opções vinculados a câmbio com 13 bancos, sem que um soubesse da posição do outro. O conhecimento da posição consolidada provavelmente não impedirá que os bancos assumam riscos, mas com certeza os farão exigir mais garantias, o que deve inibir a ousadia dos diretores financeiros.

Naturalmente há mais coisas a fazer. A solução dada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de deixar por conta do próprio mercado a missão de limitar a oferta de derivativos mais complexos a empresas menores, foi uma liberalidade excessiva. Após a crise internacional descobriu-se que derivativos cambiais foram oferecidos por gerentes de bancos até para postos de gasolina. Se as empresas são incapazes de avaliar a complexidade e riscos envolvidos nos derivativos, é difícil de se esperar que parta do funcionário do banco, que quer fechar o negócio e ganhar comissão, o alerta ao cliente para os riscos incorridos.

FONTE: Fernando Toscano é Editor do Portal Brasil - www.portalbrasil.net.

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