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14.11.2004
Isso
afeta todos nós
Por Olympio Moraes
Junior, [email protected]
Olympio Moraes Junior, primeiramente advogado. Ex-Técnico Judiciário Juramentado do Rio de Janeiro, Ex-delegado de Polícia de Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais, Ex-Procurador-Chefe da Secretaria de Estado da Saúde de Rondônia. Conselheiro da OAB/AM em segundo mandato, Ex-Corregedor-Geral da OAB/AM, Ex-Presidente e Presidente atual da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AM.
Muitos de nós que possuímos uma formação cultural e sócio-econômica
melhor. Que tememos a cada dia que a violência nos alcance. Vivemos em
apartamentos, condomínios, grades, cães, carros blindados, câmeras e todo
aparato que consigamos para afastar o mundo violento que nos rodeia. Entendemos
que ao pagar nossos impostos, e são pesados, a tentar cumprir a lei, votar em
alguém que nos pareça melhor e mais honesto, estaríamos afastados da
responsabilidade pelo caos social em que vivemos. Infelizmente, a maioria de
nossos governantes é formada apenas por prolatores de discursos. E de projetos
e gastos desnecessários. Como a velha história do fim da seca nordestina. Mas
nós, que sofremos na pele a violência, ou que temos um parente vítima desta,
queremos desconhecer ou até apoiamos uma polícia violenta, aparatos violentos
para conter a violência. Usamos escolas particulares para os nossos filhos, e não
nos interessamos pela educação pública.
E saúde? Quem pode, ou mesmo quem pouco pode, se abriga nos múltiplos planos
de saúde existentes. Alguns, pouco melhores que o INAMPS, outros de primeiro
mundo. Quem de nós, que pode, usa a saúde pública para os seus? Na verdade
muitos de nós, e sou um deles, paga seus impostos e do Estado não recebe nada
em troca que não sejam novos aumentos de alíquotas, aumentos das tarifas e preços
públicos.
Muitos até se comovem quando se deparam com a miséria. Assustam-se quando as
emissoras de TVs abertas ou a cabo, explorando a miséria como forma de prender
nossa atenção, enumeram casos de fome. Crianças no lixo, adultos vivendo de
sobras, lágrimas pelo desemprego, menores agredidos em órgão de proteção dos
mesmos, rebeliões e sangue em cadeias. Aí desligamos nossas TVs e esquecemos o
mundo. Portas trancadas - grades fechadas, dormimos acreditando que temos alguma
proteção. Quando saímos e nos
deparamos com alguma criança suja, esquálida, ou velhos caquéticos,
desempregados pedintes, apressamos a dar alguma moeda ou nota – não por que
tenhamos algum sentimento humano (nesta hora), mas a maioria tenta apenas se
livrar da imagem que macula nosso cotidiano.
Isso infelizmente não resolve. Ficarmos protegidos não nos protege. Tudo que
pensamos que nosso trabalho, ou nossa família tenha nos proporcionado, não nos
protegerá.
Há uns três anos fui acordado pelo telefone às 3:00 horas, sendo chamado por
um policial militar de plantão no pronto socorro universitário Getulio Vargas
em Manaus, dizendo este que um homem foi morto, e não tinha qualquer identificação,
mas em seu bolso havia um cartão de meu escritório com algumas inscrições.
Tentei fugir do trabalho de identificar alguém que poderia nem ser meu
conhecido, mas tanto o policial solicitou que acabei por ir. Encontrei sobre uma
mesa de cimento um jovem e promissor advogado que trabalhava em meu escritório.
Estava em começo de carreira, possuía um carro antigo, para não chamar de
velho, e este foi colhido por um ônibus e no acidente tinham-no levado com vida
a um hospital, depois a outro, estava desfalecido, sem documentos, ficando numa
maca até muito tarde. Ele tinha plano de saúde, tinha amigos, família. Só
que nos últimos momentos de sua vida caiu em um hospital público lotado, com
recursos limitados para suas necessidades e era apenas um “indigente”. Quem
de nós, que dirigimos, pode dizer que tanto não nos acontecerá? Quem de nós
pode em sã consciência acreditar que um filho não poderá ser vítima de um
sistema de saúde falido que nunca nos preocupamos em utilizar?
E quanto às crianças de famílias carentes, crianças com uma escola deficitária?
Pois há muitos Estados que se preocupam mais em construir prédios portentosos
do que prover uma educação de qualidade, investe-se em obras e não em
qualidade de ensino. Nosso ensino público, em sua maioria, não prepara os
jovens, mais ainda na periferia social, para enfrentar o mundo cada vez mais
tecnológico. E essas crianças serão os futuros desempregados, e são milhões.
E a estas se somam às crianças de ruas, as de famílias desagregadas pela miséria,
as abandonadas pela vida e por todos nós. Essa multidão de crianças que pode
ser vista em todos os Estados, aquelas que guardam nossos carros, que pedem
dinheiro em estacionamentos e nos semáforos, aquelas que vêem nossos filhos
nos bancos de trás, ou vem às sacolas de compras, e, no natal saem às ruas
vendo tudo que não tem em casa. Essas crianças crescem odiando a sociedade que
as repeliu. Essas crianças estão marginalizadas e muitas acabarão no crime,
haverá o dia que a polícia violenta, a justiça lenta e as cadeias
superlotadas, não segurarão mais a avalanche. Aí nossa casa, nosso
apartamento, nosso condomínio, nossas grades, nosso mundo estará
definitivamente atingido por uma violência avassaladora.
Nós já estamos com medo, ou pior de tanto ver a miséria, e a violência
ficamos como entorpecidos por ela. Nos tornamos vítimas em nossa própria
comunidade, vítima do medo.
Isso afeta todos nós. Isso tem que ser revertido, e só acontecerá quando cada
um de nós deixar de se omitir, juntando-se a organizações senão para ajudar
a acabar com a miséria, pelo menos começar exigir dos governantes que buscam o
poder, que nos exigem mais tributos - que deixem os discursos e façam alguma
coisa. Ou as vítimas seremos nós!!!!!!!!
Vamos discutir o assunto: [email protected]
TEXTO
COM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA PARA PUBLICAÇÃO NO PORTAL BRASIL
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