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- E C O N O M I A -
01 de dezembro de 2006

PANDEMÔNIOS, MANICÔMIOS E SINECURAS
Por Marcos Cintra (*)   

"Todos reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar"
Máximas de Marquês de Maricá

 


     INSISTO HÁ anos em que o sistema tributário brasileiro é confuso, prolífero e injusto. Além disso, ao permitir, e até induzir, a sonegação, torna-se altamente regressivo e ineficiente. Concordando com essa posição, o prof. Condorcet Rezende o chama de "pandemônio", e o saudoso Roberto Campos, de "manicômio".

 

Mas, se há consenso quanto a essas indesejáveis características, cabe indagar por que essas distorções não são corrigidas. A crítica é unânime, inclusive por parte das autoridades e dos políticos. Contudo algo impede que a reforma tributária avance.

 

O debate se arrasta há mais de 20 anos e pariu só algumas modificações marginais que agravam as suas deficiências, a exemplo da criação do monstrengo hermafrodita chamado de PIS/Cofins não-cumulativo, tido pelos burocratas fiscais, públicos e privados, como grande avanço no sistema tributário nacional.

 

Se um jabuti está num galho de árvore, é porque alguém o colocou lá. De fato, o atual sistema tributário se perpetua porque há quem tenha interesse em sua manutenção. Esses grupos, disciplinada e diligentemente, vêm impedindo que ele seja reformado, como clama a maioria dos pobres pagadores de impostos. O sistema atual pode ser um pandemônio ou um manicômio para a maioria dos cidadãos. Mas com certeza é uma valiosa sinecura para os interessados em sua manutenção. Vejamos um caso exemplar, o da geração e distribuição de energia elétrica.

 

Li recentemente um excelente artigo de autoria de Paulo Born, diretor de desenvolvimento da Light, no qual ele afirma que o setor transformou-se em fonte de arrecadação tributária e grande gerador de superávits fiscais para o governo.

 

Nos anos 70 e 80, a receita de tributos que incidiam sobre o setor elétrico permanecia dentro do segmento, sendo utilizada, meritoriamente, para financiar investimentos na produção e distribuição. Após a Constituição de 88, com a substituição do Imposto Único sobre Energia Elétrica pelo ICMS, e com a multiplicação de tributos e encargos sobre a energia elétrica, o setor se transformou em uma vistosa vaca leiteira para os cofres públicos. Mais recentemente, virou fonte de geração de superávits fiscais.

 

Além desse desvio de destinação, a carga tributária foi enormemente aumentada e hoje representa 52% do preço da energia para o consumidor, conforme apurou a PricewaterhouseCoopers. Desse total de tributos, 11% são federais, 25% estaduais, 0,1% municipal, 5% trabalhistas e 11% encargos setoriais.

 

A importância da atividade elétrica para a geração de tributos fica evidente com a constatação de que o segmento responde por 11% da arrecadação do ICMS, o imposto de maior peso na carga tributária. No total, são aplicados 25 tributos sobre o setor.

 

Vale dizer ainda que o desvio de encargos setoriais é uma prática também no setor de telecomunicações. De 2001 a 2005, o Fust, o Funttel e o Fistel arrecadaram R$ 17,5 bilhões, dos quais apenas R$ 1,7 bilhão foi gasto para custear pesquisas e universalizar o acesso à telefonia e à internet. Mais de 90% foram utilizados para a obtenção do superávit primário.

 

A fúria fiscalista do governo se apoderou de recursos que deveriam ser investidos na ampliação da infra-estrutura de energia e telecomunicações. Isso será decisivo para inviabilizar a meta anunciada de 5% para o crescimento do PIB.

 

A balbúrdia tributária brasileira é funcional para determinados interesses. O governo desarma reclamações e gera recursos adicionais sem que a cidadania consiga focar sua insatisfação e tornar efetivo seus pleitos por reformas; os soldados da guerra fiscal manobram para atrair investimentos, ainda que em troca de ineficiência alocativa e elevação do "custo Brasil"; os sonegadores e outros malfeitores encontram campo fértil para seus planos de enriquecimento ilícito e de concorrência desleal.

 

A realidade é que o atual sistema tributário interessa a muito mais gente do que imaginam os ingênuos pagadores de impostos brasileiros. Daí a insatisfação aparente não surtir resultado efetivo; a crítica formal não gerar propostas concretas; e os discursos inflamados não virarem votos decisivos no Congresso.
 


(*) Colunista-titular do Portal Brasil, o Doutor Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 60 anos, é Doutor pela Universidade de Harvard, Vice-Presidente e
Professor-titular da Fundação Getúlio Vargas, ex-Deputado Federal (1999/2003) e autor de "A verdade sobre o imposto único" (LCTE, 2003).



PUBLICAÇÕES AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELO DR. MARCOS CINTRA
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