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R E L I G I Ã O
09
/ MARÇO / 2008

A AUTO-ESTIMA DEPENDENTE E A AUTO-ESTIMA INDEPENDENTE
Por Bruno Aníball Peixoto de Souza, colunista do Portal Brasil

            O GRUPO Roupa Nova provavelmente escolheu esse nome pela sensação de bem-estar que uma roupa nova, de bom caimento e cores assentadas, produz nas emoções, na verve, no élan de cada um, assim como um carro possante, uma casa luxuosa. Daí nas monarquias o anelo era ser nobre, comprar a peso de ouro direitos cabíveis à espécie e, se possível, usar as roupas do rei. Na corte de Assuero, conforme narra o livro de Éster, Hamã se expressou assim – Éster , capítulo 8, versículos 1 a 10:

“Naquela mesma noite fugiu o sono do rei; então mandou trazer o livro de registro das crônicas, as quais se leram diante do rei.  E achou-se escrito que Mardoqueu tinha denunciado Bigtã e Teres, dois dos camareiros do rei, da guarda da porta, que tinham procurado lançar mão do rei Assuero. Então disse o rei: Que honra e distinção se deu por isso a Mardoqueu? E os servos do rei, que ministravam junto a ele, disseram: Coisa nenhuma se lhe fez. Então disse o rei: Quem está no pátio? E Hamã tinha entrado no pátio exterior da casa do rei, para dizer ao rei que enforcassem a Mardoqueu na forca que lhe tinha preparado. E os servos do rei lhe disseram: Eis que Hamã está no pátio. E disse o rei que entrasse. E, entrando Hamã, o rei lhe disse: Que se fará ao homem de cuja honra o rei se agrada? Então Hamã disse no seu coração: De quem se agradaria o rei para lhe fazer honra mais do que a mim? Assim disse Hamã ao rei: Para o homem, de cuja honra o rei se agrada: tragam a veste real que o rei costuma vestir, como também o cavalo em que o rei costuma andar montado, e ponha-se-lhe a coroa real na sua cabeça. E entregue-se a veste e o cavalo à mão de um dos príncipes mais nobres do rei, e vistam delas aquele homem a quem o rei deseja honrar; e levem-no a cavalo pelas ruas da cidade, e apregoe-se diante dele: Assim se fará ao homem a quem o rei deseja honrar! Então disse o rei a Hamã: Apressa-te, toma a veste e o cavalo, como disseste, e faze assim para com o judeu Mardoqueu, que está assentado à porta do rei; e coisa nenhuma omitas de tudo quanto disseste.”

            O irônico é que Hamã fora ao palácio para nada menos que pedir a morte de Mordecai ou Mardoqueu, conforme a tradução, porque o rei engrandecera Hamá, sobre todos, de um reino que ia da Índia à Etiópia. Quem assistiu "Alexandre, o Grande", que veio depois, tem noção do tamanho do império que tomou dos medos e dos persas. Contudo, Mordecai, judeu, desterrado, homem de acesso vedado ao palácio, alguém insignificante na hierarquia social, filho de um povo vencido e subjugado, os israelitas, esse varão acintosamente não se inclinava quando Hamã passava pela entrada do palácio real, onde Mordecai costumava ficar, porque sua filha adotiva, judia, fora escolhida num concurso para ser rainha, em lugar de Vasti, defenestrada.

            Ele instruíra a menina que ocultasse sua origem, porque os judeus tinham muitos inimigos e, enquanto transcorria o processo de escolha, quedava-se à porta para saber como estava sua criança, sua menina órfã, filha de seu tio, a qual adotara. Dentro de um povo desprotegido, fora uma criança ainda mais frágil, sem pai e sem mãe. Fato é que esse Mordecai se recusava a se inclinar em face de Hamã, o que se tornou notório no reino, até o inquinarem, descobrindo que era judeu.

            Há livros que ensinam a bajulação como instrumento de crescimento profissional, afinal ninguém gosta de ser contestado. Longe de afigurar bajulação, Mordecai pusera em risco a própria vida, por descumprir a ordem do rei de reverenciar Hamã, pelo que cumpre uma ponderação. Qual o maior privilégio que pode existir que ser amigo pessoal? Dizem as Escrituras que o homem busca favor dos governantes. Hamã galgara aquele posto, guindado pela habilidade de agradar quem detinha o poder terreno absoluto, pelo que desfrutara prazer de usar as melhores roupas, carros e o incalculável prestígio de ver sua cadeira, literalmente, posta acima dos demais, como príncipe, abaixo apenas do rei.

            Mordecai era súdito na acepção da palavra, sem acesso ao rei, nem para defender a própria vida. Tanto que, pouco dias antes, Hamã pedira a morte não só de Mordecai, como o extermínio de toda a nação judaica, e o rei candidamente lhe concedeu recusando até o valor em prata que Hamã quis dar aos cofres pelo pedido, algo como “deixa disso”, você é meu amigo, fica com o dinheiro e os extermine. Os escrivãos traduziram o decreto assinado e selado com o anel do rei, para cada povo, língua e nação da Índia a Etiópia, e a capital Susã se consternou, enquanto o rei Assuero e Hamã degustavam vinho na varanda real.

            Ainda assim, insatisfeito, Hamã se enlouquecia cada vez que adentrava ao palácio e via Mordecai, emperdigado, impávido colosso. Assim, sem conseguir esperar o dia do extermínio, fez uma força e foi pedir autorização para enforcar Mordecai, no exato momento em que rei tomara consciência que Mordecai, mesmo sem acesso ao rei, salvara sua vida com a informação enviada por meio de Ester, a qual nem nesse momento revelou que ele era seu pai e que ambos eram judeus. A auto-estima de Hamã não se contentava com a glória, a posição, os carros, a roupa e o aceite do pedido de extermínio de uma nação inteira, ela é insaciável, na dicção de Sartre o homem é um eterno insatisfeito.

            A auto-estima de Mordecai não se firmava em status, roupa, carros, poder, nem de morar no seu país – era desterrado -, nem de não poder falar sua língua e viver sua cultura, tanto pouco no fato de sua filha adotiva ser rainha, porque o rei a corte desconheciam o paradeiro e a origem de Ester, a qual teve imensa dificuldade em defender seu povo, conforme relata o livro de Éster, até entrar na presença de rei e o fez com risco de vida porque violou a lei dos medose dos persas, pois só adentra a quem expressamente ore chama. Portanto, em nenhum desses fatores Mordecai pode se agarrar ou fez questão de fazê-lo.

            Sua auto-estima se libou na crença do DEUS verdadeiro, criador dos céus e da terra, que chamara Abraão e dele fizera uma nação para ser luz do mundo dada intimidade com o DEUS vivo e verdadeiro, que caíra, por se levantar e pecar renhidamente contra seu DEUS, mas que seria repatriada, certo que a palavra de DEUS profeticamente previra o castigo, o concerto e o retorno de Israel aos seus limites, uma vez que o plano de DEUS para Israel é eterno e ilimitado, e os planos de DEUS não podem ser frustrados.

            A auto-estima de Hamã é vazia como a lua que reflete luz de um terceiro, o sol, insaciável e insatisfeita como uma criança alimentada de vento e não leite, cheia de que o há de maior concupiscência, impregnada até de sangue de inocentes que ideou tragar por deleite e orgulho. E seguiu assim, insuflado do nada, do nihilismo, do vazio que é o existir humano sem DEUS até encontrar a morte física e espiritual, a pior de todas, findando pendurado na forca que prepara a Mordecai, porque a busca em saciar sua auto-estima o pôs em rota de colisão com o próprio DEUS, ao tentar exterminar os que DEUS escolhera para serem candeeiros e luz às nações. Fora escravo de uma auto-estima dependente pois se firma em variáveis que, conforme indica o nome, estão ai para mudar e sempre para pior, porque a morte é o fim último da história humana depois da entrada do pecado no mundo.

            A auto-estima de Mordecai é livre, como de alguém que possui o sol dentro do peito. Não necessita de status, roupa, condição social, econômica, política, profissional para saber o valor e o significado da própria existência e da história, do porquê está no mundo, de onde veio e para onde vai. É uma auto-estima independente porque reside em DEUS, em que não há sombra nem variação de mudança.

            Uma conduz à vida eterna; a outra, a morte eterna. 

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