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R E L I G I Ã O
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CRÔNICA
Pornografia: "Viciado é a vó!"

Excepcionalmente por Tito Barros

Ele lembra da primeira vez em que viu uma mulher pelada. Que não fosse sua mãe, é claro (mães são seres assexuados de outra espécie que não a humana). Tinha oito anos, e era uma tarde monótona no apartamento em que morava. A empregada estava nos fundos passando roupa enquanto ele via algum desenho animado na televisão.

Já devia ser a sétima vez que ele via aquele mesmo episódio, mas isso nunca tinha sido um problema - ele continuava atento e rindo com a mesma intensidade. Na hora do intervalo ele lembrou de alguma coisa e foi até o quarto, mas quando passou pela porta já tinha se esquecido do que era - isso acontecia eventualmente, e quando voltasse a acontecer com mais frequência em sua velhice ele se enganaria dizendo estar voltando à juventude.

Caminhou até a janela, esperando talvez lembrar do que tinha ido fazer ali. Acompanhou com os olhos um pombo que vinha voando entre seu prédio e o vizinho, o qual ficava apenas alguns metros à frente. Mas no meio do voo, seu olhar captou alguma coisa. Ele voltou procurando o que era, e ali, na janela do canto do prédio vizinho, no terceiro andar, ele viu.

A mulher mexia algo na panela, despreocupada. E completamente nua.

No mesmo momento ele soube, sem qualquer explicação, que não deveria estar vendo aquilo. Não parecia certo. Mas logo concluiu que o "certo" (ou talvez o "menos errado") seria ver a vizinha pelada ESCONDIDO, que mal há nisso? Só ele saberia, ninguém sairia prejudicado.

Resolvido o problema em sua mente, ele continuou a observar a moça sempre que tinha a chance. E essa mesma desculpa, a de que não há problema se for escondido, o acompanhou através da adolescência e juventude, quando a pornografia já tinha espaço certo no seu dia-a-dia - mesmo que só ele soubesse.

Vergonha. Era isso que ele sentia ao imaginar que alguém podia "pegá-lo no flagra" a qualquer momento. Por isso escondia muito bem - em um oco sob a última gaveta do seu armário - as duas revistas que teve coragem de comprar, e uma outra que seu primo mais velho lhe havia dado.

Mais tarde, aos 15 anos, ganhou um computador (pros trabalhos escolares, claro), e aí... bom, aí já viu. Toda madrugada era pelo menos uma hora de pornografia antes de dormir, e as olheiras logo apareceram profundas. E o que começou só com inofensivos "ensaios sensuais" rapidamente evoluiu para vídeos que deixariam até Sid Vicious enrubecido - fosse ele vivo.

Fora dali, o mundo já lhe parecia muito estranho. Para beijar uma garota eram necessários conhecimentos infinitos e verdadeiros dons da comunicação, tanto para conversar quanto para entender os sinais loucos que as mulheres emitem através de anteninhas escondidas atrás das orelhas - imaginava. Ele não tinha nada disso. E nada disso importava nos vídeos que assistia escondido.

Resultado: nunca se deu bem com as mulheres. Não no mundo real, pelo menos, já que no seu quarto ele tinha garotas lindas esperando por ele a um clique de distância. Pior que, quando finalmente conseguiu uma namorada, enjoou da cara dela depois de uma semana. Acostumara-se com a variedade.

Aos 18, uma situação finalmente o fez parar para pensar. Ele estava baixando um filme novo de sua atriz pornô preferida, e na sexta à noite o download finalmente estaria completo. Mas à tarde ficou sabendo de uma festa na casa de um amigo, e tinham chamado também uma garota pela qual ele era apaixonado. A garota não lhe dava muita bola, mas era a primeira vez que ele a veria fora da escola. Sua grande chance... E parece óbvio que ele estaria lá, sim? Não!

Entre o incerto e o certo, teve preguiça do mundo real e preferiu ficar com a que ele já conhecia bem, e que não oferecia risco nenhum de lhe dar um fora - a atriz pornô.

Só no dia seguinte caiu em si. Aquilo que ele mantinha escondido havia tanto tempo tomava importância maior até que o mundo real. E ele via claramente: a pornografia era mera fantasia, lenha para o seu cérebro, o qual já parecia completamente viciado e necessitava de "estímulos" novos todos os dias. E como era segredo, com quem ele deveria conversar sobre isso? Definitivamente não era com a peladona do terceiro andar (que a essa altura já não era mais tão moça, mas continuava peladona).

Só aí parou para pensar que, se alguém (fora ele mesmo) de fato sabia daquele segredo, esse alguém era Deus.

Mas... falar com Deus? Se havia alguma coisa pior que conversar sobre pornografia com sua mãe, por exemplo, que não tinha nem idéia do seu vício, essa coisa só poderia ser conversar com alguém que sabia de tudo. E mais ainda: VIU tudo.

Não mesmo! E assim foi, ele decidiu lidar com aquilo sozinho, mas já não conseguia parar de pensar em sexo, o assunto o perseguia. E ele se sentia cada vez mais envergonhado agora que imaginava Deus o olhando lá de cima, provavelmente de braços cruzados e sacudindo a cabeça em desaprovação.

- E você, como vê Deus? Ele teria muitos motivos para sacudir a cabeça em desaprovação para você? E será que ele realmente faria isso?

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