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E S T R A N G E I R I C E S
"Uma estória de amor pelo diferente"

CAPÍTULO VIII - 01.10.2010
Por
Juliana Ximenes (*)

Vieram os amigos e as estórias... Um dia, estávamos conversando sobre nossos assuntos prediletos e, depois de me explicar pela enésima vez como era um casamento paquistanês, ele me contou o seguinte: um dos seus melhores amigos, ignorando a tradição dos casamentos arranjados, conheceu uma guria na faculdade e por ela se apaixonou. Era correspondido e começaram a se encontrar furtivamente. Só que tinha um problema (problemão!), ele era sunita e ela uma muçulmana xiita, pertenciam, portanto, a segmentos diversos do Islamismo, sendo o casamento entre eles impossível. Em total estado de surto e paixão, resolveram casar... sem comunicar as famílias! Ai! E, obtida a benção de Allah (e, ironicamente, sem as bênçãos das famílias sob a alegação de que as formas diferentes de se reverenciar Allah seriam empecilho à felicidade conjugal e, consequentemente, familiar), passaram a “conjuntar carnalmente” por hotéis da cidade em que moravam. Enquanto isso, enfrentavam o grande dilema: contar ou não para as famílias. O guri apaixonadíssimo e na certeza absoluta de que tinha encontrado a mulher da vida dele, apesar das diferenças, resolveu enfrentar a questão, armando-se de coragem. Recebeu um golpe certeiro. Alguns dias depois, em um dos encontros com a amada, esta lhe diz que sua família lhe arranjou um noivo e que ela não teria forças para recusar o casamento (outro). Pediu, assim, que o suposto grande amor da sua vida lhe desse o divórcio, para que ela pudesse casar com o noivo escolhido pela família. O guri foi tomado pelo desespero. A essa altura estava perdidamente apaixonado e disposto a enfrentar tudo e todos por ela. A guria não. Muito embora afirmasse amá-lo, não tinha “guts” suficiente para lutar por isso. “Meu amigo” me disse que doeu ver a tristeza de seu melhor amigo. Tentou ajudar, se oferecendo pra conversar com a menina e pensar junto alternativas. O rapaz, transtornado, acabou confessando pra família o que havia feito. A menina permaneceu irredutível. Ele deu o divórcio. A família, para afastá-lo dela e para evitar uma vergonha, despachou o rapaz para a Inglaterra. A menina casou-se, provavelmente para ser infeliz para sempre...

Esse mesmo guri, eu acabei “conhecendo”... e foi ele um dos responsáveis pela mutação dos meus sentimentos em relação ao meu “paki friend”... mas, isso foi bem, mas bem depois...

Bom, falávamos de casamentos... e ele (meu então amigo) me contou detalhes sobre as festas... vários dias, várias pessoas, vários dólares... rs ... Nikkah, Mehendi, Valima e outros diversos nomes dados às diversas etapas de conclusão do casamento.

Nikkah o contrato de casamento, onde entre outras informações a serem preenchidas, especifica-se se a noiva é viúva, divorciada ou virgem... rs (só rindo!); Mehendi a festa “amarela”, onde a noiva não usa qualquer maquiagem e o noivo surge barbado (eu ainda não perguntei “qual que é a do aspecto de sujinhos”!), pintam-se as mãos da guria com henna e as “primas” “dançam aquelas dancinhas” gozadinhas; e o Valima, que é o festão final, com os 384.653 convidados das famílias. O traje tradicional da noiva é o vermelho, mas existem variações... e eu não sei exatamente em que momento é usado (ele provavelmente disse e eu não prestei atenção), se na assinatura do Nikkah, se no Valima, ou em qualquer outra festa de nome que não lembro.

Uma curiosidade: existe uma lei, promulgada (não sei se é assim que eles chamam o ato lá) há não muito tempo, que determina que somente um prato pode ser oferecido nos casamentos. Então o seguinte: variou na comida, paga multa! Isso porque, segundo ele me contou, existiam verdadeiras guerras familiares na hora de se decidir sobre as festas, principalmente quando a questão era a comida. No Paquistão, à semelhança da Índia, rola uma coisa de divisão de tarefas e custos entre as famílias, só que uma parte sempre tende a querer explorar a outra, resultado: confusão! Casamentos eram desfeitos antes de se consumarem, porque uma ou outra família queria mais de uma opção de comida, o que encarecia o evento e ainda era motivo de drama para as famílias das partes que tivessem menor poder aquisitivo. O Governo teve que intervir em prol da paz... rs ...E, agora, ou se come Biryani ou Pullao, as duas coisas, nem pensar!

Anyway, do jeito como ele contava, tirando as inserções didáticas e pouco românticas, o casamento me parecia um evento fantástico, de tal forma que várias vezes afirmei: faço questão de ir no seu casamento! Eu falava isso e me soava estranho, afinal, eu não tinha planos reais de ir até o Paquistão... muito longe, perigoso e no fim da minha lista de “must visit places”. Só que eu queria muito conhecer a Índia e, depois de uma conversa em que me caiu a ficha que o Paquistão era Índia, até quando houve o negócio lá da Partilha na época do Gandhi, independência da Inglaterral e “tals”... pensei, bom...mato dois coelhos com uma cajadada só, vou no casamento e passeio pela Índia que é pertinho... juro que cheguei até a imaginar a cena algumas vezes! (rs)

continua na próxima quinzena...

Quem é Juliana Ximenes?

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