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E S T R A N G E I R I C E S
"Uma estória de amor pelo diferente"

CAPÍTULO VI - 01.09.2010
Por
Juliana Ximenes (*)

            Voltei ao Brasil, aos meus estudos, ao meu amor, à minha vida. Foi penoso, chorei muito nos primeiros meses e foi difícil a readaptação. Passei um tempo com a idéia fixa de voltar pra Austrália. Mas, tudo passa nessa vida. Trabalhando em um jornal, onde passava horas redigindo em frente ao computador, mantinha o meu messenger (programinha que imagino que todos sem exceção conhecem!) aberto, para trocar idéia e matar as saudades dos amigos que ficaram na Austrália. Não lembro exatamente como, nem quando, mas foi por essa época que um paquistanês me pediu permissão pra adicioná-lo em minha lista.

         O que era um paquistanês??? Foi isso que ele tentou me explicar nas muitas conversas que tivemos... ele 23 anos, muçulmano, solteiro, em Lahore... eu 21, espírita, namorando, em algum lugar do Brasil...

         ...Bom, só sei que ele estava na minha lista de amigos... e conversamos. Ele tinha 23 anos, era engenheiro químico no Paquistão, recém-formado, trabalhava em uma empresa que fabricava plásticos, responsável pelo processo de produção. Eu tinha 21, estudante de Jornalismo no Brasil, estagiando na redação de um jornal regional. Ele solteiro, eu namorando. Eu o achava um tanto entediante, quanto a ele, não sei o que pensava de mim. Éramos diferentes, mas com um interesse comum: curiosidade pelas diferenças culturais e religiosas.

         No começo eu o achava chato por conta dos muitos preconceitos que eu ainda tinha... Não conseguia entender como uma pessoa podia se divertir sem namorar, sem beber, sem ter amigos do sexo oposto, rezando cinco vezes por dia e seguindo uma vida tão cheia de restrições impostas pela religião, pela sociedade e pela família. Mas, quando ele me explicava tão pacientemente e generosamente as razões de sua vida ser como é, os fundamentos de sua cultura, quando me contava a história de sua religião, eu deixava um pouco de lado minha postura crítica e parcial e assumia uma atitude mais respeitosa, às vezes até fascinada.

         Costumávamos conversar muito. Foram 05 anos de conversas, às vezes descontinuadas, aos sábados de manhã. Falávamos por horas. Tínhamos curiosidades recíprocas. Ele me perguntava muitas coisas e eu tinha um prazer mórbido de respondê-las quando se tratavam de situações e comportamentos que eu sabia que iriam chocá-lo.

         Eu não tinha tempo ruim, ele perguntava e eu falava... (rs)...Só que ele nunca se chocava, ou se ofendia... se isso acontecia, ele não deixava transparecer. De temperamento dócil, dizia que gostava de conversar comigo, e se comprazia com as minhas lamentações ingênuas sobre sua “triste situação” de “muçulmano e paquistanês”... é, ele nunca se ofendia...

         Costumeiramente falávamos das nossas diferenças, mas também das dificuldades comuns que enfrentávamos na fase de vida em que nos encontrávamos – início da vida adulta, definição de carreira, relacionamentos, etc. Muitas vezes, quando as questões religiosas se tornavam mais densas, eu me aborrecia e, arbitrariamente (rs), decidia bloqueá-lo por prazo indeterminado, e sumia... Ele sempre notava e me mandava emails perguntando o que havia acontecido... às vezes eram tão frequentes, que eu me irritava: “será que esse infeliz não tem amigos reais?” Mas, vinha outro sábado, em que eu não sairia pela manhã e em que eu não encontraria amigos disponíveis (ahhh, se ele soubesse...quem ri por último... rs), e aí eu desbloqueava e com certeza as orelhas “talibanesas” doíam, porque era esse um dos nossos assuntos – os homenzinhos perversos e barbados, terroristas pra mim, puros pra ele (só depois de muito tempo entendi que não era dos mesmos “caras” que falávamos... rs).

continua na próxima quinzena...

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