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REDE
DE PESSOAS OU DE COISAS?
Por Marcelo Miyashita (*)
Muito cuidado ao aplicar as técnicas de networking. Mais importante
que uma rede de contatos é uma rede de pessoas movida à base de empatia,
reconhecimento e reputação. E não a base de interesses
Networking é mais um neologismo do universo empresarial que vem se
transformando em palavra comum no vocabulário de qualquer empresário. Mais
do que isso, para alguns, é mais que uma palavra, é uma competência.
Seguindo o raciocínio, trata-se de algo necessário para estabelecer boas
relações de negócios e trabalho.
Mas a questão é que o networking não pode ser visto apenas como
ferramenta de negócio. Infelizmente, há muita gente praticando rede de
contatos, seguindo a risca a cartilha do networking e todas as suas
recomendações. Tudo muito planejado. Um excesso. Recentemente, estive num
evento como convidado. Cheguei sem ser apresentado, sentei-me ao fundo e,
após algum tempo, fomos para o coffe-break. Ou melhor, a hora do
“networking”. Neste momento, aconteceu uma situação interessante: algumas
pessoas não olhavam para as pessoas. Olhavam para os seus crachás! Até
quando se apresentavam, até no aperto de mão.
Na hora pensei, o que é isso? Tudo bem, é importante termos bons
contatos, sermos conhecidos, nos apresentarmos, mas daí colocar o
relacionamento como causa é desespero. Ou falta de bom senso, ou excesso de
valorização da 'competência' de estabelecer e manter contatos.
Relacionamento é conseqüência. É resultado de empatia e
reconhecimento, não apenas profissional, mas pessoal. Relacionamento 'de
verdade' existe entre pessoas de verdade e não entre crachás e interesses
comerciais. Por isso mesmo, um contato não é um relacionamento. É
simplesmente isso, um contato sem reconhecimento. Ou seja, quase nada.
E é esse “quase nada” que, infelizmente, muita gente se preocupa em
conseguir. Nada contra o ato, desde que não pensem que estão estabelecendo
relacionamentos, que é outra história. Relacionamentos são resultados,
envolvem emoção, proximidade e tamanha profundidade que conseguem gerar até
novos contatos. Quem gosta e admira alguém, fala bem, dá o seu aval, e até
recomenda. Isso é relacionamento, que, pode sim, começar com um contato
comercial. Mas é muito difícil surgir empatia e proximidade quando duas
pessoas são levadas a se conhecerem apenas, e somente, por interesses
comerciais.
Talvez por esta razão, nossos melhores contatos surgem quando não
estamos tão “interesseiros”, quando deixamos a casualidade cumprir o seu
papel, a simpatia encontrar o seu espaço e os olhos olharem nos olhos.
Martin Buber, filósofo judeu que escreveu o clássico Eu e Tu na
primeira parte do século passado, pregava que a excessiva vontade de extrair
troca em todos os contatos criava uma relação baseada em “eu e isso”, em
outras palavras, uma relação onde o outro é visto como coisa e não pessoa.
Isso me faz lembrar Robin Williams no filme O Homem Bicentenário,
baseado num conto de Isaac Asimov, onde interpretava Andrew - um
robô-mordomo que se auto-intitulava “Isso”, pois tinha consciência que não
era pessoa, era uma coisa. Buber defendia que nós precisamos nos relacionar
não esperando algo em troca, mas por simples respeito, amor, amizade e
consideração pela pessoa. Este relacionamento Buber denominou de “eu e tu”.
Portanto, muito cuidado com o exagero do networking. Estabelecer
contato é importante, mas olhar nos olhos é fundamental. Tratar pessoas como
pessoas, independentemente das letras pequenas do crachá ou do cartão de
visita. Isso sim é o início de um bom contato, com a empatia, que ao longo
do tempo pode criar laços de relacionamento, com espaço para o surgimento do
reconhecimento e, logo depois, a reputação.
Assim podemos agir nos coffee-breaks, sem a ambição da
recompensa e com o gosto de uma nova amizade.
(*) Marcelo Miyashita é consultor líder e palestrante da MIYASHITA CONSULTING. É professor de marketing em cursos de MBA e pós-graduação. Foi colunista do Comercial & Cia, na rádio BandNews FM. Em 2006 recebeu o Prêmio Marketing Best e em 2007 o título de Marketing Expert, concedido pela Editora Referência (Jornal Prop&Mkt), pela FGV-EAESP e pela MadiaMundoMarketing. www.miyashita.com.br.
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