Área Cultural Área Técnica

 Ciência e Tecnologia  -  Colunistas  -  Cultura e Lazer
 
Educação  -  Esportes  -  Geografia  -  Serviços ao Usuário

 Aviação Comercial  -  Chat  -  Downloads  -  Economia
 
Medicina e Saúde  -  Mulher  -  Política  -  Reportagens

Página Principal

E S T R A N G E I R I C E S
"Uma estória de amor pelo diferente"

CAPÍTULO XXVI - 01.07.2011
Por Juliana Ximenes
(*)

Conheci um outro emirado – Ajman -, onde fumei sheesha num café árabe ao lado de uma mesquita linda e onde pude observar alguns 'clubes' frequentados por muçulmanos “não muito ortodoxos”, que são tolerados na região. Morri de calor dentro de uma lan house no meio do deserto, cujo dono desligava o ar-condicionado a cada 10 minutos ligados e mantinha desligado por mais 30 minutos até que o local virasse um forno, porque queria economizar na conta de eletricidade. Resolvi minhas pendengas com a imigração e consegui meu visto bonitinho de trabalho. Fiz compras no mercado indo-paquistanês local. Jantei num restaurante libanês delicioso na estrada para Dubai (graças a Deus consegui me concentrar na fome e não fiquei imaginando a cozinha) e, por fim, conheci um casal de amigos da família, que morava num prédio cujo elevador era à manivela e sem porta... aventura, aventura! Ahhh, e quase esquecendo, conheci também os vizinhos indianos da família da Cintia, que comemoravam o Diwali (festival das luzes)... bando de mulheres tagarelas e simpáticas que me ofereceram um biscoito em forma de estrela de gosto indefinido e um copo com um líquido rosa que imaginei ser “quick, faz do leite uma alegria” que coloquei pra dentro e quase coloquei pra fora quando senti dezenas de macarrões transparentes sambarem na minha língua... realmente passei mal quando me informaram: leite de rosas (juro que eu pensava que isso era creme de limpeza pro rosto! *choro*). Enfim, voltei pra casa cansada e feliz. Minha amiga surpresa de me ver viva.

Embarquei para Lahore na noite do dia seguinte. Não sem antes passar o dia entre ocupada com os últimos preparativos e num estado lamentável de nervos, pensando em todas as desgraças que poderiam acontecer e refletindo sobre o choque cultural que eu havia vivenciado no dia anterior e que trauma maior eu ainda estaria por enfrentar.

Durante o dia falei com ele algumas vezes... diferentemente de sempre não conseguia encerrar as conversas com um tranquilo “eu te amo”, era sempre com um perturbador “eu AINDA te amo”... muito medo de deixar de amar, assim, instantaneamente, na hora que o olhasse nos olhos... e tal medo só não era maior que o medo de que a recíproca fosse verdadeira. Sair da idealização era um passo importante, mas nada fácil... E assim, no dia 30 de outubro, às 11.30 da noite eu embarcava pra Lahore.

Como nada na vida pode ser fácil, nem preciso dizer que foi uma verdadeira maratona...literalmente...chegando no check in, sabe-se lá o motivo, me deixaram esperando cerca de uma hora, depois de terem embarcado as minhas malas, quando eu já estava entrando em desespero com medo de perder o voo, me chamaram pra entregar o cartão de embarque, depois de uma fila quilométrica pra passar no raio-x foi que me dei conta que o meu portão era o 200 e tralalá e eu me encontrava no marco 0 daquele aeroporto gigantesco, corri, corri com toda a energia que me restava... de vestido, sandálias, uma bolsa mega pesada e quilos de panos sobre os ombros... depois de 15 a 20 minutos correndo insanamente, cheguei ao embarque, com as portas do avião quase fechando, eu quase desmaiando, vermelha, encharcada de suor, nauseada, dolorida e sem um pingo de forças para sequer praguejar...em 10 minutos o avião decolava rumo a Lahore...fiquei em êxtase quando cerca de duas horas depois li Cabul na tela de acompanhamento do voo... chegaria a Lahore em pouco tempo...

Ao meu lado viajava um senhor paquistanês radicado no Reino Unido (morava em Londres), muito simpático, que ao me ver preenchendo o papel da imigração me abordou: mas, você é brasileira?. Bien sûr, monsieur, de São Paulo! E senta que lá vem história... Um sobrinho havia conhecido uma brasileira pela internet, ele me contava o fato como atípico, e depois de algum drama estavam casados e morando felizes no Brasil. Fiquei curiosa e perguntei detalhes, sem fazer qualquer menção a minha situação, mas não se tratava de nenhum dos casos que eu já conhecia.

Alguns minutos após as três da manhã, meu voo chegava em Lahore. Não antes sem que eu presenciasse um dos primeiros momentos-comédia que me proporcionariam o povo paquistanês. Pouco antes da descida, o piloto anunciava a chegada ao país e pedia que as pessoas apertassem os cintos para o pouso e acertassem as cadeiras. Quase que instantaneamente, dezenas de pessoas soltaram os cintos, levantaram-se e começaram a retirar suas bagagens dos respectivos compartimentos. Eu só me dei conta do fato quando uma comissária desesperada veio percorrendo o corredor berrando para que as pessoas sentassem e atassem os cintos, no que era solenemente ignorada. Eu olhava para aquilo sem entender o que se passava na cabeça daquele povo e, quando começava a rir visualizando as pessoas sacarem de seus paraquedas e saltarem com suas malinhas debaixo do braço avião afora, ouvi a voz ameaçadora e irritada do chefe de cabine coagir as pessoas a sentarem, com mala e tudo na mão. Cerca de cinco minutos depois, a despeito da confusão, o avião aterrissava.

continua na próxima quinzena...

Quem é Julian Ximenes?

PUBLICAÇÕES AUTORIZADAS EXPRESSAMENTE PELA AUTORA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO PORTAL BRASIL
® E A SUA AUTORA


FALE CONOSCO ==> CLIQUE AQUI