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E S T R A N G E I R I C E S
"Uma estória de amor pelo diferente"

CAPÍTULO XIX - 16.03.2011
Por Juliana Ximenes
(*)

         Com a recusa, ele viu cair por terra a possibilidade de ficarmos juntos, foi quando começou a se distanciar... Foi um tantinho doído...

         Na época marcou-se uma reunião de gurias que amavam paquistaneses, a linda fofa louca da Eve estava na cidade e seria a primeira vez que nos veríamos “cara-crachá”.

         Foi num shopping, eu estava atrasada (como de hábito) e fui até o ponto de encontro. Nada. Mulherada atrasada também. Até que, reconheço “cara e corpitcho” de uma das meninas cuja foto eu já havia visto... Carolita (outra blogueira celebrity no reino encantado da terapia de grupo das mulheres que amam demais um paquistanês problemático)... amor à primeira vista também... só que com um pouquinho de limão (bicha azeda!). Logo, vislumbrávamos um ser verdinho (sim, pra mim eles são verdes!) caminhando em nossa direção, marido de uma das senhoritas que acabei conhecendo e cuja vida acompanhei um pouquinho, em conjunto com a de tantas outras meninas, como que tentando vislumbrar de alguma forma os futuros possíveis de um relacionamento com um “Paki muslim”. Mais ouvi do que falei, a maioria daquelas pessoas já estavam mais “aclimatadas” do que eu aos fatos e, também, porque realista e um pouco cismada diante das hesitações do Hathi, eu já nem sabia se o relacionamento, tal qual nas minhas fantasias, seria possível...

         Ter conhecido toda uma comunidade de mulheres apaixonadas por paquistaneses foi uma experiência interessante, só não vou abordar as diversas histórias pessoais, porque como dito, são pessoais... ainda que algumas delas estejam sendo contadas, nos blogs e fóruns de discussão da internet... Aprendi bastante, pude prever e prevenir algumas situações... Soube de coisas que se dependesse apenas dele levaria anos pra saber... mas, o melhor de tudo, fiz grandes amigas... “companheiras de jornada”...

         Enfim, o novo casamento da irmã estava confirmado para dezembro e nosso encontro cancelado indefinidamente. As questões que sempre se faziam presentes em nossas conversas se tornaram cruciais para que ele concluísse, mais uma vez e aparentemente definitivamente, que não havia possibilidade de ficarmos juntos. Ele sustentou as diferenças culturais e religiosas, e ainda ponderou que a família jamais concordaria e ele não poderia pagar o preço de romper com a mãe, que agora julgava ser sua exclusiva e mais importante responsabilidade, além disso, sabia que mesmo que todas essas barreiras fossem superadas, que ainda existiria a necessidade de uma mudança para outro país, porque eu jamais me habituaria a uma vida no Paquistão. No entanto, sua mãe resistiria também a mudar de cidade, quanto mais ir para o exterior.

         Tudo ficou preto. A essa altura eu já havia rompido por completo meu relacionamento anterior. E já havia perdido boa parte da minha capacidade de usar a razão em relação à condução do meu “relacionamento” com o Hathi. Absolutamente apaixonada, agredia diariamente minha própria inteligência, minha capacidade de realizar análises críticas, deixando minhas emoções e sentimentos vencê-las por nocaute. Eu fui da raiva ao desespero. Do desespero à raiva. Me odiava por ter me deixado envolver. Achava tudo muito ridículo. Paixão virtual, Paquistão, toda essa cultura esquisita e essa religião desconhecida... todo esse contexto absurdo. O que eu estava fazendo? Só que eu não conseguia deixar pra lá. Estava obcecada. Mas, cedi... Deixei ir... Ele queria o impossível pra mim naquele momento, a manutenção de uma amizade, virtual, insistia na possibilidade de voltarmos a ser o que éramos há meses atrás... Eu resisti, precisava voltar à vida real... precisava de espaço, tratar minha dependência. De frente pra tela do computador eu definia com o Hathi como seria o “daqui pra frente”... não planos, não expectativas... nos despedimos, ficou acertado que nos falaríamos quando passado o tempo eu voltasse a nutrir por ele somente a amizade de antes. O que me dava uma certa motivação para me distanciar era a mágoa que sentia quando eu pensava que ele de fato acreditava que conseguiria ser somente meu amigo. Se ele era capaz, com certeza eu também seria, afinal, eu já tinha vivido outros relacionamentos e sei que na vida tudo passa, ele também passaria. Antes de encerrarmos nossa última conversa, ele me pediu pra falarmos por uma última vez ao telefone e me ligou... Levei um choque! Estava triste, arrasada, me sentindo desprezada... e só tive o entendimento de que ele também sofria naquele momento... ele estava aos prantos... a voz entrecortada por soluços, a respiração difícil... foi realmente chocante, porque eu, no ápice da minha tristeza, não tinha derramado uma lágrima... eu fiquei perturbada... ele pediu que eu dissesse que o amava... era estranho. Não pude me negar... eu disse, sem saber exatamente o quanto de verdade existia nas minhas palavras... ele agradeceu e desligou... e se foi. Não consegui me concentrar em mais nada ao longo do dia. Fui deprimindo. Como que eu viveria os dias seguintes sem ele... sem as minhas fantasias, sem as nossas conversas... Ficou um vácuo. Passei horas refletindo. Queria entender exatamente o que eu sentia e o que significava o acontecido? Não era lógico pra mim que o amasse. Eu sempre fui muito “oriental” nesse sentido, entendia que havia uma forte paixão, mas sempre achei que amor era algo a ser construído, com a convivência... mas, daí me perguntava se não havíamos “convivido”, se todos esses anos de confissão, compartilhando momentos importantes da nossa vida não eram relevantes? Se era imprescindível mesmo o toque, o contato diário... Bem, talvez eu o amasse sim... afinal, querer bem, se importar com uma pessoa, se preocupar diariamente com sua integridade física e mental, sentir sua falta, torcer por sua felicidade e querer fazer parte de sua vida... o que é isso se não é amor? Eu o amava... chorei a perda. Nessa noite, escrevi minha primeira carta de despedida.

         Não nos falamos por um período, mas sempre nos víamos online. Eu passei algum tempo com raiva, porque havia pedido espaço no começo de tudo e ele não havia respeitado e agora essa situação... Após algum tempo, falávamos esporadicamente, mas era estranho. Eu tentava focar no trabalho, mas paralelo ao que ocorria na minha vida pessoal, eu estava insatisfeita também com minha vida profissional. Havia decidido que não queria passar o resto da minha vida naquele trabalho, tinha certeza...mas, fazer o que? Já há muito eu estudava para concursos públicos, mas também não tinha tanta convicção de que era isso que eu queria pra minha vida...

         Enfim, mais confusão...

         E veio o Ramadã, que até então eu não sabia muito ao certo do que se tratava... e ele me disse, em uma de nossas raras conversas que sumiria por uns tempos por conta das idas e vindas a casas de parentes e amigos e orações na mesquita. Foi angustiante... Ele sumiu mesmo...

continua na próxima quinzena...

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