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Conheça
sua Base Motivacional
“Nós
sabemos o que somos, mas não o que podemos ser.”
(Shakespeare)
Vamos colocar de lado o conceito equivocado de que motivação, no mundo
corporativo, significa bônus salariais, promoções, eventos festivos,
palestras-show e tapinhas nas costas. Embora importantes e desejáveis,
profissionais responsáveis sabem que estes são aspectos apenas estimuladores
de um comportamento pró-ativo.
Motivação
é um processo endógeno,
responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma
pessoa para atingir uma determinada meta. A intensidade está relacionada à
quantidade de esforço empregado - muito ou pouco. A direção refere-se a uma
escolha qualitativa e quantitativa em face de alternativas diversas. E a persistência
reflete o tempo direcionado à prática da ação, indicando se a pessoa desiste
ou persiste no cumprimento da tarefa.
Muitos são os estudos acadêmicos envolvendo teorias comportamentais.
Abraham Maslow e a Teoria da Hierarquia das Necessidades (necessidades
fisiológicas, de segurança, de pertencimento, de estima e de auto-realização),
Frederick Herzberg e Teoria dos Dois Fatores (fatores higiênicos e
motivacionais), Douglas McGregor e a Teoria X e Y (subserviência e
controle x potencialidades e desenvolvimento pessoal), Skinner e o Behaviorismo
(o comportamento humano pode ser orientado), e mais recentemente, Mihaly
Csikszentmihalyi e a Experiência Máxima ou Flow (a motivação como um
estado de espírito).
Enfim, há uma série de outros autores dignos de menção como Alderfer, Turner,
Lawrence, Adams, Vroom, Hackman e Oldham. Mas meu intuito aqui não é fazer um
tratado acadêmico. Aliás, falar de teoria para empreendedores é falar de
fumaça. Esta introdução foi apenas para apresentar um último nome que
tem uma grande contribuição prática para ser apreciada: David McClelland,
psicólogo da Universidade de Harvard, com a Teoria das Necessidades
Adquiridas.
McClelland identificou três necessidades secundárias adquiridas socialmente: realização,
afiliação e poder. Cada indivíduo apresenta níveis diferentes destas
necessidades, mas uma delas sempre predomina denotando um padrão de
comportamento.
Pessoas motivadas por realização são orientadas para tarefas, procuram
continuadamente a excelência, apreciam desafios significativos e satisfazem-se
ao completá-los, determinam metas realistas e monitoram seu progresso em direção
a elas.
Indivíduos motivados por afiliação desejam estabelecer e desenvolver
relacionamentos pessoais próximos e pertencer a grupos, cultivam a cordialidade
e afeto em suas relações, estimam o trabalho em equipe mais do que o
individual.
Finalmente, aqueles motivados pelo poder apreciam exercer influência sobre
as decisões e comportamentos dos outros, fazendo com que as pessoas atuem de
uma maneira diferente do convencional, utilizando-se da dominação (poder
institucional) ou do carisma (poder pessoal). Gostam de competir e vencer e de
estar no controle das situações.
Meu convite é para que você reflita, respondendo a si mesmo: onde me
encaixo? É provável que você goste de ter o controle, deseje realizar
coisas, tenha prazer em competir, estime cultivar relações pessoais. Mas
observe como há um padrão dominante. Se eu solicitar a uma platéia que todos
cruzem os braços, algumas pessoas colocarão o braço direito sobre o esquerdo
e vice-versa. Se eu solicitar que invertam estas posições, todos serão
capazes de fazê-lo, mas seguramente sentirão um certo desconforto. Assim são
as preferências: tendemos a optar por alguns padrões. Você tem uma base
motivacional preponderante.
Em minha carreira como empreendedor e consultor, muitas vezes questionei-me por
qual razão certas organizações fracassavam. Deparei-me com modelos de negócios
fantásticos que não geravam resultados. Encontrei empresas lucrativas que
definhavam devido à incompatibilidade entre seus sócios. Observei executivos
talentosos, porém sem brilho nos olhos.
Hoje, à luz da Teoria de McClelland, passei a ter a visão menos turva. Consigo
compreender que para uma empresa lograr êxito é preciso a praticidade e o foco
de pessoas motivadas pela realização, a liderança e a firmeza de indivíduos
motivados pelo poder, a sinergia e empatia daqueles motivados por afiliação.
Quando as empresas perceberem isso, será possível encontrarmos pessoas mais
felizes trabalhando pelo simples fato de estarem posicionadas nos lugares
corretos. Passarão a gostar do que fazem, pois poderão exercer suas
habilidades com plenitude.
Quando os empreendedores perceberem isso, será possível construir sociedades
mais estáveis formadas por pessoas que se complementam mais por suas
habilidades e anseios e menos por cultivarem apenas relações de amizade.
Teremos negócios mais sólidos, gerando mais empregos, sendo mais auto-sustentáveis.
Quando as pessoas perceberem isso, será possível que passem a abrir mão da
necessidade de estarem certas – ou de alguém estar errado – sem abdicar de
suas próprias verdades filosóficas ou opiniões mais sensíveis. E passem, a
partir deste autoconhecimento, a fazer o que podem, com o que têm, onde
estiverem.
Tom
Coelho
Matéria da 4ª semana de novembro / 2003
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail [email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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