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(Crítica - Agosto
/ 2002)
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Dicas da semana:
(Período de 24/08
- 31/08/2002)
Tempo de Espera (La Saison des Hommes), de Moufida Tlatli - Tunísia/França,
2000 - Uma rara oportunidade
de ver um exemplar da filmografia tunisiana, um belo filme da mesma diretora do
interessante “O Silêncio do Palácio” e outro belo exercício sobre a posição
social da mulher no mundo muçulmano.
Tapeceira, Aicha (Rabia Ben Abdallah) deixa Túnis e retorna para a cidade de
origem para que possa cuidar de seu filho autista temporão e juntamente com
suas duas filhas mais velhas relembra toda a história de seu casamento.
O filme refaz a historia de Aicha e suas ligações com suas filhas, marido, sua
sogra dominadora e com sua cidade, onde as mulheres costumavam ver seus maridos
irem para Tunis construir suas vidas e os recebiam de volta sazonalmente, a tal
estação dos homens do título francês.
Os problemas femininos são postos num período de vinte e cinco anos e o embate
entre a tradição e moderno é sempre um complicador maior nas opções dos
personagens.
A protagonista tem que lidar com o jogo do marido, de sua sogra, ainda ser
sustentar sua casa com sua arte, base da loja do esposo e ultrapassar a tradição,
ao tempo que se insere no mundo moderno que chega a Tunis
e saber vivenciar os velhos conceitos para entender diversas situações que
exigem dela um sentimento tradicional.
As personagens são sempre confrontadas e respondem com sua própria vida, às
vezes conforme nosso modo ocidental responderia, às vezes nos chocando por
optar pela tradição muçulmana, num turbilhão de questionamentos que se
valorizam o filme, deixam a história, por momentos, com um aspecto panfletário
e um pouco chata.
Uma produção modesta, mas extremamente bem cuidada e que tem na sua
protagonista excepcional, um trunfo especialíssimo e, um roteiro com momentos
tocantes que comove e faz refletir sobre muitas de suas proposições.
Cotação:
*** ½
Lourival Sobral
Dicas da semana:
(Período de 17/08
- 23/08/2002)
O
Abismo de um sonho (Lo Sceicco Branco, Federico Fellini 1952) - Um
dos melhores relançamentos do ano, o primeiro filme dirigido individualmente
por Federico Fellini que já produzia
momentos de pura beleza cinematográfica, sempre unindo a capacidade de tocar as
emoções primárias do espectador, sem que lhe tirasse a capacidade de ir um
pouco mais além do que meramente era mostrado na tela.
Uma comédia leve com alguns contornos dramáticos é essa história de uma
jovem recém-casada (Brunella Bovo) que, em Roma para sua lua-de-mel, vai ao
encontro do personagem dos seus sonhos (Alberto Sordi), um romântico
aventureiro cujas aventuras eram estampadas em fotonovelas.
O filme se desenvolve em duas linhas: o encontro da jovem com seu herói em meio
a uma produção da revista que enseja inúmeras confusões; e, do esposo
(Leopoldo Trieste) que ao tempo que não sabe onde está sua esposa, ainda tenta
despistar sua família romana do desaparecimento da mesma.
As confusões são muitas, os momentos dramáticos tocantes e até Cabiria,
vivida já por Giuletta Masina, vem dizer o seu alô cinematográfico. Um sucessão
de comédia e drama próprios do neo-realismo e que, como caracterizou a
primeira fase de sua carreira, Fellini sabia transformar o peso da realidade
italiana em momentos tocantes e agradáveis, vide a deliciosa cena final na praça
do Vaticano.
O filme vale também por ser um dos melhores trabalhos do, por vezes exagerado
comediante, Alberto Sordi, que constrói o seu ator fanfarrão de forma
brilhante, sabendo ir da figura do romântico ator conquistador ao frustrado
marido dominado por sua robusta esposa, não fugindo do patetismo do personagem,
mas matizando cada segundo seu em cena.
Fellini trabalha num roteiro a oito mãos, entre elas Michelangelo Antonioni e já
demonstra total domínio de sua arte e das idéias lúdicas que viriam
ser utilizadas na fase seguinte de sua carreira, o rigorismo estético e
a emoção permanente e já com a colaboração do seu fiel compositor Nino
Rota.
Cotação:
****
Nunca Mais (Enough, Michael Apted, 2000) - A
luta de uma mulher para se livrar da perseguição do seu marido neurótico e
obsessivo e na necessidade de proteger seu filho e para isso se impõe uma
preparação física para que melhor possa enfrentá-lo num eventual confronto físico.
Uma tentativa frustrada de um suspense com momentos de ação que resulta num
dos piores momentos cinematográficos do nada exemplar cartel de trabalhos de
Jennifer Lopez que não consegue emprestar um algo de veracidade a uma história
um tanto fantasiosa e de uma moral extremamente duvidosa e, por vezes, perversa.
O britânico Michael Apted já teve em seus filmes algumas das melhores atrizes
em grandes momentos: Glenda Jackson, brilhante em “Triple Echo”, Sissy
Spacek, oscarizada por “O Destino Mudou sua vida”, Vanessa Regrave em “O
Mistério de Agatha. Seu trabalho decaiu e, com isso, seus filmes acabaram por
cair de nível até resvalar nesse “Nunca Mais”.
Cotação: *
Lourival Sobral
Dicas da semana:
(Período de 10/08
- 16/08/2002)
Super
Pai (Joe Somebody de John Pasquin , 2001) - O
ator Tim Allen se tornou conhecido nos Estados Unidos no seriado “Home
Improvement” que fez dele um dos mais bem sucedidos comediantes americanos e há
uma década tenta emplacar um grande sucesso no cinema, tendo conseguido alguns
filmes de bilheteria razoável.
Nesse “Joe Somebody”, que aqui
no Brasil recebeu o título de “Super Pai”, Tim Allen vive um sujeito que
depois de apanhar de um fortão companheiro de trabalho resgata sua auto-estima
e o respeito dos que o cercam com uma vingança redentora.
A ação é primária e tem um roteiro que sequer tenta delinear maiores traços
de seus personagens, a trama se revela maniqueísta ao extremo e com uma
mensagem tipicamente americana de fazer valer conceitos de moral e respeito
discutíveis e o resto do elenco também não ajuda.
O diretor Pasquin é burocrático e, ao que parece, vendo que não tinha muitos
ovos, resignou-se e não tentou fazer um omelete, serviu um filme para mofar nas
prateleiras das videolocadoras e preencher programações de televisão da
madrugada.
Cotação:
* ½
Tempo de Recomeçar (Life is a House,
Irwin Winkler, 2001) - Uma
das melhores surpresas da temporada de 2001, um filme que explora o clichê do
reencontro de pai e filho, quando o primeiro se vê a beira da morte, mas que
consegue transformar o que seria lugar comum em emoção.
A força do filme é o brilhante desempenho de seus dois atores centrais: o
experiente Kelvin Kline, confirma que basta que lhe dêem um belo roteiro para
que espante o público com uma performance de primeira; e, a revelação Hayden
Christiansen, o Anakin Skywalker da hora, um ator que explode na tela em talento
e promete para os próximos anos, visto que a projeção do Cavaleiro Jedi, pode
lhe render bons convites futuros no cinema.
O roteiro é inteligente e tempera a história com detalhes que graduam a idéia
central, enriquecendo, vê-se o dedo do diretor Winkler na utilização
primorosa de diálogos e direção de atores, embora seu trabalho peque por
demonstrar não ter a luz que emana dos
grandes diretores.
Cotação: *** ½
Lourival Sobral
Dicas da semana:
(Período de 03/08
- 09/08/2002)
Oito Mulheres (8 Femme, François Ozon, 2001) - Qual seria o resultado de reunir num mesmo filme a maioria das grandes estrelas do cinema francês vivas e dentro de uma trama com toques de comédia e suspense? Um filme simplista apenas para aproveitar cada uma das atrizes? Uma trama que tentasse conciliar os egos e redundasse num roteiro fraco?
François Ozon, diretor do interessante “Sitcom” e do ótimo “Sob a Areia”, realiza um belo espetáculo, uma trama em que o talento envolvido aparece a serviço da trama e as divas francesas aparecem em todo o resplendor de seu talento.
Um assassinato e oito mulheres suspeitas, numa trama em que vão aparecendo pequenas mazelas familiares e sociais, na linha de “Sitcom”, num texto recheado de ironia e humor que controla bem os momentos de tensão.
Citar o elenco, premiado em conjunto no Festival de Berlim 2002 é listar a atrizes que conseguiram conjugar talento e glamour nas seis últimas décadas do cinema francês: Catherine Deneuve, Emanuelle Béart, Isabelle Huppert (tão fantástica que se destaca do grupo), Danielle Darrieux (veteraníssima e elegantíssima!) e Virgine Ledoyen, Fanny Ardant Ludivine Sagnier, Firmine Richard.
Uma filme acessível e revelador do talento de um jovem cineasta (34 anos) conjugado ao talento de alguns dos maiores talentos franceses na arte de atuar, um roteiro impecável e uma produção extremamente bem cuidada - Difícil essa receita não agradar!
Cotação: ****
Neve para Cachorro (Snow Dogs, Brian Levant, 2002) - Ted Jones (Cuba Gooding Jr.) trabalha em Miami como dentista e recebe uma herança que se encontra no Alasca e lá descobre se tratar de oito cães de corrida de trenó e acaba tendo que cuidar da sua herança inclusive treinando-os.
Uma comédia despretensiosa que explora o jeito simpático do ator Cuba Gooding Jr. e mais não traz além de uma ou outra piada mais inspirada. Um filme feito para ser exibido e esquecido pela próxima sessão que o seu público vier a assistir.
Um trabalho burocrático do diretor Brian Levant que tem seu melhor momento desde seu melhor filme, o não menos burocrático “Beethoven”, confirmando seu talento para produções baratas com um tom sentimental para fazer uma razoável bilheteria.
Cotação: **
Lourival Sobral
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