- CINEMA -
(Crítica - Outubro/2001)
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Dicas da semana:
(Período de 27/10-02/11/2001)
A Sombra do Vampiro (The
shadow of the vampire, E Elias Merhige, 2000) - Os
primeiros anos do cinema admitem vários adjetivos alusivos a seus artesãos e a feituras
de suas obras, saltaram para a história personagens e lendas como Eisenstein, Griffith e
até o nosso Mário Peixoto, que com um filme apenas no currículo criou em torno de si um
rosário de lendas.
A sombra do vampiro é a
apresentação de uma dessas lendas, fala da filmagem de Nosferatu, clássico do cinema
alemão dos anos 20, cercado de lendas e marcado por inúmeros fatos interessantes que o
circundam.
A adaptação de Drácula
ambientada em outro ambiente e com trocas de nomes feitas pelo gênio Friedrich Murnau -
ele não conseguiu comprar os direitos da obra original junto a família de Bram Stoker -
foi cercada de mistérios, orçamento que era superado a cada momento e pela corrente
história que seu ator central, Max Schreck, seria vampiro realmente, inclusive tendo
vampirizado pessoas da equipe do diretor.
O filme desenvolve um
fascinante jogo de idéias e imagens, o diretor E. Elias Merhige consegue manter a
estrutura e sentimento da história da primeira a última, tendo uma excelente produção,
ainda que cometa alguns pecadilhos em termos de cenografia, gerando um todo harmonioso.
John Malkovich brilha como
Murnau, dimensiona o misto de genialidade e loucura que marcaram a figura e a obra do
diretor , que mas tarde dirigiria nos Estados Unidos o maravilhoso Aurora (Sunrise, 1928),
um diretor que passeava do fracasso ao sucesso com extrema volatilidade.
O que torna o filme
inesquecível, outrossim, é a genial performance de Willem Dafoe como Max Schrenck que
empresta seu corpo e sua alma ao ser torturado, num trabalho que cada fotograma revela
fulgurante, inclusive por ter como base o Schreck e o filme originais, conseguindo fundir
o sentimento do Nosferatu vivido por Schreck
com o Schreck vivido pelo próprio Defoe numa simbiose de rara felicidade.
Cotação: *** ½
Fast Food Fast Women (Amos
Kollek, 2000) - É comum encontrar no cinema
independente americano uma visão mais crítica da vida na América, diferente do padrão
cor de rosa das produções dos grandes
estúdios que trata qualquer desvio do ideário ianque como o um claro sinal de
psicopatia.
Essa divertida comédia
americana revela a faceta de pessoas comuns que vivem em Nova Iorque se fixando em casais
na faixa dos 30 anos e nas opções amorosas da terceira idade, sempre com um humor e um
facão nos lábios, sem medo de ser ácido em suas piadas e engraçado em suas reflexões.
Garçonete à beira de
completar 35 anos, Bella (Anna Levine), é levada por sua mãe a um encontro com um
escritor inglês que trabalha como taxista (Jamie Harris) e acabam por viver um romance
marcado por uma série de encontros e desencontros.
Enquanto isso três amigos
na casa dos 60 anos buscam encontrar satisfação em suas vidas e, em suas conversas na lanchonete onde Bella
trabalha, falam sobre forma física, sexo, questões geriátricas e da forma como estão
encarando a terceira idade.
Uma história leve que nem
um final meio bobinho estraga a diversão que,
aliás, é garantida para quem se interessa por uma crônica da vida cotidiana e não
sinta falta de correrias e explosões tão em voga no cinema atual.
Cotação: ***
LBS
Dicas da semana:
(Período de 20/10-26/10/2001)
O Xangô de Baker Street
(Miguel Faria Jr, 2001) - A adaptação do
romance homônimo de Jô Soares resultou fiel, um filme agradável que com pequenos
chistes e recorrências atuais torna agradável acompanhar a sua trama, sem grandes
percalços, sem grandes vôos literários e, nesse caso cinematográfico.
Sherlock Holmes (o
português Joaquim de Almeida) é convidado por Dom Pedro I (Cláudio Marzo) para
investigar o roubo de um Stradivarius pertencentes a uma de suas amantes (Cláudia Abreu)
e junto com Doutor Watson (Anthony ODonnell) conhecem a vida boêmia e efervescente
do Rio de janeiro de final de século.
O ladrão se revela um
serial killer cujos crimes é investigado por Melo Pimenta (Marco Nanini) e os
dois acabam por dividir a investigações e impressões culturais.
O filme se revela um
policial rápido, bem produzido, com uma série de atores que parecem apenas pontuar suas
poucas cenas, mas que aqui e acolá revelam bons momentos, como Emiliano Queiroz, Hélio
Ary, ou momentos vexatórios como Roberto Bonfim e a terrível e tenebrosa participação
de Jô Soares.
O ator Joaquim de Almeida
consegue manter a linha de seu Sherlock trapalhão que, embora sem ser brilhante, cumpre
satisfatoriamente a sua missão e mantém a linha do filme.
A direção de Miguel Faria
Jr. é burocrática, não merece maior relevo no todo da obra, meramente conduz de forma
operária e, por vezes, pouco criativa, a
obra.
Um filme que se revela
satisfatório, divertido e que reafirma a capacidade do cinema brasileiro em produzir
filmes de viabilidade comercial, bem feitos e produzidos e com uma trama facilmente
assimilável e agradável.
Cotação: ***
Villa Lobos Uma vida
de paixão (Zelito Viana, 2000) - Levar a vida
de um grande nome nacional para as telas sempre é arriscado, pode-se por tudo a perder
com uma visão mitificadora e simplista, excessivamente romanceada da vida do personagem,
ou , tornar banal a existência da mesma, visto não demonstrar o porquê de tamanha
atenção.
Villa Lobos - Uma vida de
paixão, cumpre a tarefa de contar a vida do
compositor com uma sucessão de cenas em flashback que como um quebra-cabeças
tentam informar a gênese do seu caráter e os fatos de sua vida, relevando a série de
fatos da efervescente vida cultural das primeiras décadas do século.
O filme informa e
dimensiona o compositor em sua época, desvenda querelas pessoais, num ritmo pesado que
resulta num filme longo (130 min.), num dado momento, parece faltar algo que sirva de
amálgama a mudança de protagonista de Marcos Palmeira para Antônio Fagundes, mas não
perde seu rigor informativo e a dose de poesia que o diretor buscou imprimir.
Antônio Fagundes empresta
dignidade ao protagonista, competente e firme; Marcos Palmeira, não compromete, ainda que
seu Villa Lobos não tenha a densidade que os anos de juventude pedissem e a própria
trama do filme assim necessitasse.
Ana Beatriz Nogueira
(Lucília), é o grande destaque do elenco, construindo sua personagem com todas as
variantes que a trama exigia, da mulher suave e forte - a senhora ressentida, sempre
dosando na medida sua emoção; já, Letícia Spiller (Mindinha), não consegue achar sua
personagem, parecendo confusa em procurar escapar da armadilha naturalista que contrastava
com o tom do filme.
O experiente diretor Zelito
Viana, se não repete seu pelo trabalho em Avaeté - Semente de Vingança, consegue numa
superprodução demonstrar segurança e competência, fez de seu filme um filme
interessante, ainda que irregular, um importante filme da cinematografia moderna
brasileira.
Citação: ***
LBS
Dicas da semana:
(Período de 13/10-19/10/2001)
Sugestões de Vídeo
E Aí Meu Irmão
Cadê, Voce? (Oh Brother, Where art
Thou?, de Joel Coen, 2000) - O cinema dos irmãos Coen (Gosto de Sangue, Fargo) tem como característica
explorar as pequenas cidades americanas e seu espectro de personagens, buscando no
esdrúxulo demonstrar uma visão de mundo de um povo, sempre com um olhar crítico, mas
carinhoso.
Tendo como base A
Odisséia de Homero, o filme mostra a viagem de três fugitivos de uma prisão
americana em busca de um tesouro escondido, ilustrada
por personagens outros que exibem características da formação do sentimento caipira da
região central dos Estados Unidos.
As referências ao
clássico grego são colocadas de forma eficiente, sem que se perda o entendimento da
história e a pontuação feita pela trilha sonora em que a origem da música country
americana é magnificamente utilizada.
George Clooney (Ulisses) recebeu merecidamente o Globo de Ouro de Melhor
Ator de Comédias, vivendo o caipirão com fixação em seu cabelo, constrói um
personagem divertidissímo, num brilhante trabalho de composição, demonstrando esmero e
qualidade interpretativa.
Outra grande
interpretação do filme é Tim Blake Nelson que transforma em um grande personagem o
fugitivo meio abobado, também milimetricamente bem composto: John Goodman, Holly Hunter e
John Turturro gabaritam mais a qualidade interpretativa do filme.
A direção, produção e
roteiro do Irmãos Coen conservam sua tradição de história ágil contada em ritmo
rápido, passando ao largo de cenas mais profundas, sempre parecendo estar a um passo da
farsa, mas que como bons cozinheiros, parecem dominar perfeitamente a receita.
Cotação: *** ½
Náufrago (Cast Away)
de Robert Zemeckis 2000 - Um homem durante anos perdidos numa
ilha, um Robson Crusoé moderno, essa é a base de Náufrago, um filme feito a medida para
Tom Hanks.
A definição acima dá a
medida do filme, Tom Hanks está perfeito num personagem moldado a sua feição, tudo
parece convergir para ele, fazendo uma narrativa exaustiva e um filme que deixa a desejar.
No restante do elenco dois
destaques: a atriz Helen Hunt, que consegue ser pior que na maioria dos seus filmes; e
Wilson, a bola de volei, que tem de longe o melhor desempenho do filme (ironicamente).
Uma perda de tempo que por
seus efeitos especiais e, especialmente, maravilhoso trabalho de som pode até divertir, mas resulta cansativo.
Cotação: **
15 Minutos (15
Minutes, John Herzfeld, 2001) - Dois marginais vindos a
Europa Oriental resolvem enfrentar o sistema legal e a exploração da mídia americana
através da gravação e divulgação de seus sangrentos assassinatos e são combatidos
por um policial e um bombeiro que lida com investigações.
A trama se desenvolve
recheada de efeitos especiais, mas o foco, que ganhou uma atualidade assustadora, é a
fragilidade da sociedade moderna para lidar com alguns dogmas da liberdade individual
gerados na sociedade americana, corroborando argumentos das tendências mais liberais e
conservadoras e, por vezes, sendo contraditório.
Merece destaque a boa
performance de Robert de Niro que tem em seu detetive que utiliza a mídia para ganhar
notoriedade um belo personagem, quase que confirmando a tendência de que, atualmente, só
consegue bons papéis quando esses não são protagonistas absolutos.
Cotação: **
LBS
Dicas da semana:
(Período de 06/10-12/10/2001)
"O cinema nacional está sempre presente em nossas
colunas, pois a produção nacional mantém um bom nível, se distante da excelência
buscada pelos estetas e puristas, mas com variedade suficiente para saciar o público com
diversidade e qualidade técnica.
Nesse final de semana, uma das maiores redes de cinema nacional vai promover exibiçoes
dos bons títulos exibidos ao longo do semestre. Além dos filmes tratados na colunas
anteriores, listaremos algumas sugestões."
Domésticas (de Fernando Meirelles e Nando Oliva 2001) - Um
delicioso exercício de cinema que consegue
conciliar a origem teatral do filme, com a linguagem publicitária de seus diretores, sem
perder a consistência e o objetivo do filme e dando uma roupagem kitsch que atrai o
público.
A história de algumas
empregadas domésticas que entre a ação e momentos confessionais permeados por sucessos
ditos bregas dos anos 70 e 80, as tramas são rápidas e se propõem a traçar
um pequeno painel dessas profissionais.
Não se pode entender o
filme como um tratado sociológico até porque as tramas são postas de forma
maniqueísta, importando mais as possibilidades da trama e a exploração do ambiente das
cozinhas e garagens, e seus personagens.
O elenco excepcionalmente
bem escalado consegue fazer do filme uma ótima diversão e vale o destaque de Graziela
Moretto, como a doméstica cujo sonho é ser modelo e acaba por se prostituir, bela e
ótima atriz. Um filme que foge do esquema imposto pela estética da televisão dirigido
por artífices dessa mesma estética dos comerciais de tv.
A trilha sonora que é
composta por sucessos de Perla, Sidney Magal, entre outros, só vem reforçar a idéia de falsear a realidade, pois remete ao
arquetipo das domésticas dos anos 70. Entretanto gera ótimos momentos e muitos risos.
Cotação: *** ½
Amores Possíveis de
Sandra Werneck 2001 - As possibilidades que o momento
pode trazer para as vidas das pessoas é o ponto de partida desse filme leve e
inteligente, realizado com direção segura e ótimo roteiro.
Carlos (Murilo Benício)
leva um bolo de Júlia na porta do cinema e o filme desenvolve três
possíveis desdobramentos desse fato: ele se torna um advogado num casamento estabelecido;
após se casar com Júlia, se descobre homossexual e passa a viver com seu amigo Pedro; e
se torna um balzaquiano atrelado a sua mãe, mas sem se fixar em qualquer relação.
As histórias se
desenvolvem conjuntamente, mas de uma forma leve, sem se aprofundar, apenas se preocupando
em propor as situações e solucioná-las, tornando um divertimento de primeira , um bom
exemplo de comédia ligeira e bem contada.
No elenco destaque para
Murilo Benício que consegue ser três personagens distintos sempre com um liame que não
afasta a idéia de que todos são o mesmo Pedro; Emílio de Melo, o Pedro, é outro que se
destaca, mas marcando seu Pedro de forma mais característica em cada história, e,
principalmente na segunda história, ele está brilhante; Carolina Ferraz, Beth Goulart e
Irene Ravache emprestam talento a suas personagens.
Um bom filme que comprova o talento da diretora Sandra Werneck
para discussão das relações humanas com talento, leveza e qualidade.
Cotação: ***
½
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