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Efeito
Placebo
"O
que prevemos raramente ocorre; o que menos
esperamos geralmente acontece" (Benjamin Disraeli)
João está
interessado em Maria, mas ela sequer sabe de sua existência. Então, ele revela
seu desejo a um amigo comum que se aproxima dela e comenta: “Maria, percebo
que você tem notado João de forma diferente...”. Ela nega, evidentemente,
mas a partir daquele dia passa a saber quem é João e, possivelmente, começa a
observá-lo. A isca foi lançada. A possibilidade antes remota de um encontro,
torná-se plausível. Depende apenas da atitude de João que, por sua vez,
depende exclusivamente de seu desejo e de seus propósitos.
É possível que você tenha vivenciado experiência similar. No mundo
corporativo, situações como esta são provocadas a todo instante. Colegas de
trabalho entrincheirados nos corredores, nos intervalos do café e nas reuniões
de rotina observam seus passos e seu comportamento em busca do mais indelével
motivo para conspirar contra sua imagem. Objetivo: subir degraus na hierarquia,
ocupando seu cargo ou outro ainda superior.
Auto-Ilusão e Auto-Engano
Fatos assim acontecem porque somos seres sugestionáveis. Mais ainda, tendemos
inconscientemente à auto-ilusão e ao auto-engano. Aceitamos como verdadeiro ou
válido o que é falso ou inválido. Buscamos maneiras de justificar nossas
atitudes para que se mostrem coerentes. Cometemos erros de interpretação e
encontramos padrões onde eles não existem criticando dados que nos são
desfavoráveis e relevando dados ambíguos ou inconsistentes que nos apóiem.
É por estas tendências que cientistas exigem “estudos claramente definidos,
controlados, duplamente cegos, aleatórios, repetíveis e apresentados
publicamente” (Thomas Gilovich, How We
Know What Isn´t So).
O psicólogo B. R. Forer descobriu que as pessoas tendem a aceitar descrições
vagas e gerais de personalidades como unicamente aplicáveis a si próprios sem
perceber que a mesma descrição pode ser aplicada a qualquer outra pessoa. É o
Efeito Forer, também conhecido como
efeito de validação subjetiva ou pessoal. Isto explica, por exemplo, os dados
apresentados pelo Prof. Gilovich segundo o qual 94% dos professores universitários
norte-americanos acham que são melhores no seu trabalho que os seus colegas e
70% dos estudantes consideram-se acima da média na capacidade de liderança (só
2% pensam estar abaixo da média). Isto explica também o poder de penetração
das pseudociências, a astrologia à frente delas.
Profecia
Auto-Realizável
Como ocorre em todos os anos, economistas, analistas, agências de classificação
de risco e empresários desfilaram recentemente suas previsões sobre o cenário
nacional para 2004. Os números apresentados são muito próximos para os mais
diversos indicadores, gravitando em torno de um ponto médio. É um trabalho de
futurologia conjunto. Linearmente, todos acertam, pois o erro colegiado deixa de
ser erro e passa a ser fatalismo.
A aposta é em um crescimento do PIB da ordem de 4,5%. Insuficiente para as
nossas necessidades, mas bastante razoável diante da mediocridade dos últimos
anos. Dólar em queda, risco-Brasil em baixa, o otimismo está no ar. E de tanto
se acreditar em crescimento, vamos ver o país reagir este ano, como numa
profecia auto-realizável.
Manipulação
O placebo (pílula de açúcar ou de farinha) é uma substância inerte, usada
como controle em uma experiência, ministrada a um paciente com promessa de
propriedades benéficas sem que este saiba não haver, na verdade, qualquer
princípio ativo no que está tomando. É um instrumento de cunho psicológico,
com eficácia comprovada de cura da ordem de 25% a 75%. Afora todo o debate ético
que envolve sua aplicação, seu conceito consiste em agir sobre o emocional, e
não sobre o aspecto clínico do paciente. É uma forma de manipulação per
se.
O governo edita medidas que elevam a carga tributária, associadas a programas
paliativos de combate à fome, ao desemprego e à violência, e acreditamos que
reduziremos as desigualdades que grassam neste país. As empresas promovem
campanhas de incentivo e programas de capacitação, e acreditamos que seremos
mais ouvidos e mais bem remunerados. Ouvimos, de nossos parceiros, juras de amor
protocolares e acreditamos que aquele sentimento ainda perdura.
Tomamos placebo todos os dias!
Tom
Coelho
Matéria da 1ª semana de abril / 2004
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA/USP, é empresário, consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE/Fiesp. Contatos através do e-mail t[email protected]. Visite www.tomcoelho.com.br.
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